Cooperativa mineira Expocacer inaugura primeiro hub de café do Brasil nos EUA

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31 de janeiro de 2024
Richard McCracken_Getty

Os Estados Unidos são os maiores compradores de cafés do Brasil e há potencial para mais

A Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado), que reúne 700 produtores de cafés em Patrocínio (MG) e região, inaugurou na semana passada um escritório em Lewes, Delaware, estado dos EUA onde há um importante porto, o de Wilmington, que recebe cargas a granel, além de frutas, vegetais e produtos industriais.  A estratégia é centralizar os procedimentos de venda e exportação, facilitando as operações da cooperativa lá fora.

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“Ter estoques de café nos EUA, para atender ao mercado spot, é uma maneira de aproximar o produtor do consumidor. O hub é a presença dos 700 cooperados nos EUA, para mostrar ao consumidor americano quem produz”, diz Simão Pedro de Lima, diretor superintendente da Expocacer. Com a iniciativa, a estimativa é de que os embarques do grão para esse mercado aumentem até 15% este ano — o primeiro embarque será de 320 sacas (19,2 toneladas).

Divulgação

Simão Pedro de Lima, da Expocacer, diz que cooperativa vai apostar nos especiais

Em 2023, os cooperados comercializaram 1,3 milhão de sacas de café (78 mil toneladas do grão), das quais 450 mil sacas foram para o exterior. Os Estados Unidos compraram 67,5 mil sacas (4 mil toneladas), ou 15% do total exportado e 5,2% do total produzido.  Em 2024, a cooperativa espera embarcar um volume na ordem de 76,5 mil sacas (4,6 mil toneladas) do grão para os EUA, com a estimativa de aumento total das exportações para algo entre 550 mil e 600 mil sacas.

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De acordo com Lima, quase toda a expectativa de aumento das exportações vem dos EUA. Sem o hub, a cooperativa enfrentava “vários embaraços aduaneiros”, que ela espera sanar, embora conte com o suporte logístico de parceiros comerciais nas Costas Leste e Oeste americanas. “Antes do hub, os compradores não podiam pedir, vamos supor, 20 sacas de café — ou compravam 320 (um contêiner) ou esperavam o contêiner fechar com outros pedidos para sair do Brasil”, explicou Lima à Forbes.

“Agora, a Expocacer Brasil vai enviar para a Expocacer EUA as cargas de café que não necessariamente foram vendidas previamente. Então poderemos, por exemplo, enviar mil sacas de café — ou seja, três contêineres — que ficarão depositados nas warehouses parceiras e serão vendidos fracionados lá, isto é, o comprador pode adquirir uma quantidade pequena à pronta entrega”, diz ele.

Divulgação/Expocaccer

Cooperados da Expocacer entregam nas unidades café produzido em 70 mil hectares de lavouras

Em 2023, o Brasil exportou 39,2 milhões de sacas (2,2 milhões de toneladas), por US$ 8,08 bilhões, de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura). Os EUA foram o principal destino, com valores da ordem de US$ 1,27 bilhão para 5,7 mil sacas (340,5 mil toneladas).

O anúncio de que a Expocacer estenderia suas operações diretas ao país, criando um hub, foi feita em abril do ano passado e de lá para cá foi tempo montar as infraestrutura e definir serviços. “É mais um hub logístico do que uma unidade comercial, pois o produto continuará sendo distribuído pelos nossos clientes, que são as torrefações e comerciantes locais”, afirmou Lima. “Mas a nossa logística ficará potencializada. A Expocacer é a primeira cooperativa brasileira a fazer isso, vanguardista.”

Café especial está na mira da Expocacer

Com mais facilidades na oferta do grão, a cooperativa pretende investir na venda de cafés especiais. A meta é dobrar, em quatro anos, até 2028, o envio de cafés especiais para os Estados Unidos. Hoje, os cafés especiais representam algo em torno de 10% a 20% dos embarques ao país, o que significa volumes da ordem de 7 mil a 13 mil sacas nos últimos anos.

“Na minha época, o consumidor queria saber de onde vinha (o café). Hoje, ele pergunta quem produziu. Então, vamos trabalhar com essa transparência radical”, diz Lima. Em 2023, a cooperativa produziu 40 mil sacas de cafés especiais e a estimativa é dobrar para 80 mil sacas neste ano.

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Gustavo Caixeta cultiva 270 hectares e colhe cerca de dez mil sacas por ano

O produtor e cooperado Gustavo Ribeiro Caixeta, da fazenda Congonhas, de 270 hectares de cultivo e que também fica em Patrocínio, está animado com a iniciativa e acredita em agregação de valor à produção. “A gente tem condição de levar o café para o maior número de compradores possível nos EUA. Como a cooperativa é uma extensão nossa, do produtor, a gente faz todo o processo de vendas juntos”, diz ele. “Se a gente sabe que um cliente prefere um café frutado, que é o que produzo, sabemos qual produtor tem o café mais apropriado. O novo escritório vai facilitar muito nossa comercialização e ‘pulverizar’ melhor nossas vendas.”

Caixeta é um entusiasta da agricultura regenerativa  e investe para ter grãos diferenciados. Ele usa fertilizantes biológicos e aplicação extra de esterco, além de cultivar um mix de culturas nas linhas de café para enriquecer o solo com diferentes microrganismos gerados a partir da variedade de raízes. Do total da lavoura, o produtor reserva de 35% a 40% da produção como tipo exportação. É esse café que ele quer vender com valor agregado lá fora. Caixeta colhe cerca de 10 mil sacas por ano e para o café especial aposta, principalmente, na variedade bourbon amarelo.

Segundo o Cecafé (Conselho Exportador de Cafés do Brasil), os grãos especiais representam 25% das exportações brasileiras e garantem um prêmio médio de 13,4% ao produtor, que pode às vezes até dobrar. Em 2023, o preço médio da saca exportada foi de US$ 227,47. “O Brasil é o maior exportador e segundo consumidor — exporta 40% do café no mundo. O país tem tudo para liderar, agora, o café sustentável, em tempos de novas regras”, diz Marcos Antonio Matos, CEO do Cecafé. “Hoje se debate prêmios para os parâmetros ambientais.”

Matos lembra que os EUA podem voltar a comprar mais café do Brasil neste ano. Isso porque 2023 não é um bom ano para comparações, pois o país vinha de uma quebra de safra ocasionada por geadas em 2021/2022 (houve queda de 24% nos embarques para os EUA). “Se a safra deste ano for normal, devemos voltar aos padrões anteriores”, diz ele.