O novo cowboy: Mark Zuckerberg diz que vai criar bois no Havaí, mas como

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14 de janeiro de 2024
Drew Angerer/Getty

Mark Zucherberger agora diz que será pecuarista e vai criar  cabeças de boi no Havaí

Nesta semana, o bilionário Mark Zuckerberg chamou a atenção do setor do agro ao publicar em seu Instagram que vai criar gado no Havaí. O cofundador do Facebook, hoje Meta – que reúne também Instagram, WhatsApp e outras empresas de tecnologias, como Oculus VR, Giphy e Mapillary, segundo a Forbes, neste sábado (13/1), é dono de uma fortuna avaliada de US$ 132,3 bilhões (avaliação em tempo real), e ocupa a quinta posição entre os mais ricos do mundo.

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O post sobre a criação de gado já tem 384 mil curtidas e 12,9 mil comentários, inclusive de brasileiros. Zuckerberg é seguido por 12,9 milhões de pessoas nessa rede, em que já fez 315 posts, um número relativamente baixo. Mas Zuch, como se autodenomina no Instagram, não precisa de quantidade para viralizar. E uma curiosidade, ele segue apenas 572 páginas, sendo que entre elas a única fazenda é a Abbeyleix House and Farm, na Irlanda, fundada em 1700 e que atualmente também é um refúgio para animais de resgate, de propriedade de outro bilionário, o irlandês John Collison, cofounder da Stripe, com uma fortuna pessoal de US$ 5,5 bilhões, segundo a Forbes.

Mas o que é o Havaí, estado americano formado por um arquipélago de 132 ilhas (19 maiores e o restante atóis), e sua pecuária? E mais, de que pecuária fala Zuckerberg? Em 2014, a Forbes revelou que o primeiro investimento de Zuckerberg e sua mulher, a médica Priscilla Chan, foi em Kauai, uma das ilhas do Havaí, de 143 mil hectares e que é chamada de “Ilha Jardim” por causa da floresta tropical que cobre boa parte de sua superfície.

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Fazenda de US$ 117 milhões

A fazenda de 283 hectares fica no litoral norte da ilha e o valor do negócio, na época, foi avaliado em US$ 100 milhões, ou US$ 353,4 mil por hectare. Em 2021, o magnata também comprou um rancho com quase o mesmo tamanho, de 282,8 hectares, por US$ 53 milhões (US$ 187,4 mil por hectare), e anexou logo depois outros 45 hectares por US$ 17 milhões.

No total, as terras de Zuck somam praticamente 611 hectares. Um hectare de terras no Havaí não custa menos de US$ 25 mil, chegando a centenas de milhares de dólares nas áreas mais valorizadas, de acordo com a plataforma americana Land.com, especializada na venda de propriedades rurais. Para fins de comparação, o valor médio de terras agrícolas nos EUA no ano passado foi US$ 10 mil por hectare, 7,4% acima de 2022, de acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).

Também de acordo com o USDA, em 2023 o Havaí contabilizou um rebanho de 150 mil bovinos, um rebanho considerado estável na comparação com os anos anteriores (144 mil reses em 2022 e 142 mil no ano anterior). Para ter uma ideia da dimensão desse rebanho, apenas a Fazenda Conforto, em Nova Crixás (GO), que pertence aos herdeiros do empresário e ex-piloto de stock car, Xandy Negrão, e que é um dos mais modernos modelos de pecuária do Brasil, confina 170 mil bovinos, por ano. Ou seja, por mais espetacular, o projeto do dono da Meta não deverá ser em larga escala.

Zuckerberg anunciou em seu Instagram na terça-feira (9) que vai criar bovinos das raças de origem escocesa angus e de origem japonesa wagyu, ambas também criadas no Brasil. A raça angus produz uma das carnes mais sofisticadas e em escala, globalmente. São 62 milhões de animais puros registrados na Europa e demais países, sendo os maiores criadores a Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Nova Zelândia, sem contar os cruzados com outras raças.

Gado wagyu é super valorizado

Já o wagyu é um nicho na pecuária global e sua carne é extremamente valorizada, com o Kobe Beef (vindo de três cortes norte-americanos: Ribeye, Chorizo (contrafilé) e Tenderloin (Filé Mignon), no topo entre os mais caros do mundo. No Empório 485, em São Paulo, por exemplo, um quilo de ancho (parte do contrafilé) importado de Kagoshima, no Japão, custa R$ 1.290. No Brasil há 30 anos, o rebanho de wagyu no país é de 7 mil animais puros e 50 mil cruzados.

“O gado é wagyu e angus, e eles vão crescer comendo macadâmia e bebendo cerveja que a gente cultiva (cevada) e produz aqui na fazenda”, explicou Zuckerberg no post. Sem revelar o tamanho do rebanho e outros detalhes da operação, ele adiantou que a dieta do gado de sua fazenda levará entre 2,2 toneladas e 5 toneladas de macadâmia, por ano. “Então são muitos hectares de macadâmia”, afirmou, indicando que a produção do insumo é própria.

Zuck disse no post que planeja uma produção “local e verticalmente integrada”, alinhada aos critérios do USDA. O Havaí cultiva macadâmia desde o final dos anos 1.800 e a cultura é importante para o estado, que tem cerca de 600 produtores. Os dados mais recentes, de 2021, mostram que o valor de produção da noz foi de US$ 63 milhões em 2021. No caso da cevada, é uma das forrageiras mais utilizadas para gado criado a pasto nas ilhas havaianas.

Desde o ano passado, o bilionário também está construindo um complexo residencial avaliado em US$ 1,3 bilhão em Kauai — projeto que prevê duas mansões e uma dúzia de edifícios. O conjunto da obra deve movimentar a região em termos de negócios e turismo, somando-se a outros empreendimentos que atraem visitantes ao longo do ano e, eventualmente, dão palco a produções hollywoodianas como o filme “Pearl Harbor”.

Mas nem tudo é um palco iluminado. Um dos desafios de Zuckerberg será lidar com os nativos. Já em 2017, ele enfrentou questões relativas à titularidade de terras. Em 2020, conforme registro do tabloide New York Post, uma petição pelo fim da “colonização” de Kauai por um dos homens mais ricos do mundo, organizado por um ativista havaiano, obteve cerca de meio milhão de assinaturas em uma semana.