Pinot noir de produtor da Patagônia está entre os quatro melhores da Argentina

Apresentado por
27 de janeiro de 2024
Divulgação

Enólogo Camilo De Bernardi comanda projeto de destaque global em vinhos

O projeto do enólogo Camilo De Bernardi fica na encosta do morro Piltriquitrón, no município de El Bolson – no Rio Negro, região da Patagônia Argentina, onde a paisagem parece ter saído de um conto de fadas. De família de empreendedores, ele faz vinhos desde 2014 e optou por uma produção pequena e sustentável, onde o seu pinot noir vintage 2020 se tornou um vinho icônico e premiado no Top Four, do crítico Tim Atkin, um premiado escritor britânico de vinhos e Master of Wine, com mais de 30 anos de experiência.

  • Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida

Tudo começou com Eduardo e Silvia, pais de Camilo, que sonhavam com a fabricação de vinhos. Hoje, Camilo, juntamente com o seu irmão Benjamin, que é o responsável pelo departamento de turismo e atendimento ao cliente, além de sua esposa e as suas filhas, conduzem o projeto de uma produção exclusiva na Patagônia, em pequena quantidade, mas de excelente qualidade. “Enxergo essa como um projeto para deixar uma marca no mundo. É um lugar novo que foi conquistado em 12 anos, algo que nos motiva todos os dias e nos dá a responsabilidade de fazer bem feito”, afirma Camilo.

O cultivo é feito em cinco hectares onde as uvas convivem com outras frutas finas e, embora defenda que não está cientificamente comprovado, a proximidade das cerejas e das amoras confere aos seus vinhos uma tipicidade única.
Após 12 anos de trabalho exaustivo na Patagônia, de plantio, manejo da terra, implantação de um sistema de irrigação, estudo para reduzir o prejuízo com as frequentes geadas, além do esforço para produzir de forma sustentável, finalmente, no final de setembro de 2023, ele anunciou sua marca a um grupo de enólogos e produtores da região da cordilheira, próximo a propriedade.

Entre as estrelas produzidas, o premiado pinot noir é o seu “filho” preferido e recebe os holofotes como um símbolo da Patagônia. Camilo, que mora em Esquel onde nasceu, a 160 quilômetros de El Boston, viaja diariamente para a fazenda e não tem ponto de revenda de seus vinhos. A comercialização é feita somente na própria vinícola e pelas redes sociais. Os seus rótulos são lotes limitados e bastante procurados pelos apreciadores da bebida.

Leia também:

Em entrevista à Forbes Argentina, ele revelou a trajetória de seu projeto e também as vantagens e desvantagens de produzir na região Andina. Camilo revela como busca se posicionar no mercado diferenciado pela localização, a Patagônia. Confira:

Forbes: Como e quando começou o projeto da vinícola na Patagônia?
Camilo De Bernardi: Começamos em 2011 com cinco hectares, dos quais meio hectare era merlot porque, naquela época, não havia plantas de pinot no viveiro e não queríamos desperdiçar um ano sem safra. Nesse meio tempo, plantamos um quarto de hectare de pinot noir e um pouco de gewürztraminer. Como é preciso esperar quatro anos para a colheita, decidimos apostar em algo seguro.

F: Quais as principais dificuldades de cultivar as uvas nesta região?
CDB: A principal dificuldade são as geadas. Demora muito para a planta se recuperar depois de um episódio desse tipo, por isso é necessário montar um sistema anti-geada (onde a irrigação deixa as plantas molhadas impedindo a ação do frio sobre os frutos). Esse manejo funcionou para nós e é semelhante ao usado pelos produtores de cereja. Fomos ver o que faziam e o que deu certo para eles foi essa ferramenta com a água.

Tivemos que projetar o sistema de irrigação para os vinhedos, também cuidar dos recursos hídricos e fazer drenagem. O excesso de água, decorrente da geada, retorna para o leito do riacho. O meio ambiente também nos ajuda muito. Em uma safra, por exemplo, uma área só foi salva porque os maitenes (árvore típica da região) protegeram as ameixeiras e cerejeiras.

F: O ambiente da Patagônia tem alguma influência nos aromas e sabores dos seus vinhos?
CDB: A nossa vinha, embora esteja em uma encosta, tem muita saúde porque recebe o vento frio. Além disso, conservamos o ecossistema natural com muitas plantas nativas como ciprestes, maitenes e algumas árvores frutíferas que funcionam como barreira.

Divulgação

Camilo De Bernardi em dia de colheita mostra uvas destinadas aos seus vinhos

Entendemos que esse ambiente sustentável ajuda muito. A melhor forma de apreciar nossos vinhos é consumi-los aqui mesmo, na quinta, com toda essa paisagem à volta. Ao olhar e beber, você se depara com esses sabores e entende muito mais. Não está comprovado cientificamente se esta flora influencia, mas, sim, existem estudos sobre o eucalipto e há evidências da influência das jarillas (árvore local).

F: O sr. envelhece seus vinhos em madeira?
CDB: Sim, começamos a utilizar barris em 2021. Colocamos o merlot em barricas usadas da vinícola Viña Cobos, graças aos conselhos do enólogo Andrés Vignoni. A passagem por barricas conferiu aos nossos vinhos uma estrutura impecável. No caso do pinot noir não é envelhecido em barricas e vai continuar assim, por enquanto. Contudo, mesmo assim, é um vinho muito complexo (e premiado).

F: Para quem pretende se aventurar nesse ramo, você diria que é fundamental estudar a viabilidade do projeto e eles também devem ser sustentáveis?
CDB: Nós resolvemos plantar porque tínhamos terra. Começamos a fazer os estudos mais tarde e aí encontramos surpresas. É preciso estudar a questão da água, por exemplo. Você tem que ter certeza de que a água que possui atenderá às necessidades e não prejudicará terceiros. Outro ponto de atenção é com o solo. No entanto, acima de tudo, devemos ter em mente que se trata de uma região onde antes não existiam vinhas e por isso não se tem doenças pré-existentes.

Além disso, aqui venta muito e isso permite que a planta não fique úmida, o que dificulta a proliferação de pragas e doenças. Os defensivos que usamos nas vinhas são para prevenção. Entendemos, sim, que as vinhas têm de ser sustentáveis. Estamos em um ecossistema muito frágil e temos que estudar muito antes de fazer qualquer projeto, em benefício do planeta.

F: O sr. é o enólogo responsável pelos vinhos ou trabalha com um consultor?
CDB: Sou enólogo, formado pelo Instituto Superior de Ensino Técnico nº 815, em Esquel. Temos um assessor agrônomo, o Facundo Impagliazzo, que já trabalhou na Viña Cobos e nos auxilia nas questões de plantio e manejo.
Mas sempre levei meus vinhos para a avaliação de grandes enólogos e críticos. É daí que vêm as pontuações e medalhas.

Além disso, foi consultando esses profissionais que pude saber em que nível estávamos, já que não temos comparativo com a nossa própria viticultura, pois ela tem poucos anos. Sempre tive o apoio de grandes enólogos.
No trabalho diário estão meu irmão Benjamin, que é responsável pelo turismo e o cultivo das frutas finas. Eu cuido da vinha e da adega, e tenho dois funcionários na quinta. Contamos também com o apoio de vários colegas. Faço parte do primeiro grupo de seis enólogos da província de Chubut e meus colegas fazem estágio na vinha. Já na época de colheita toda a minha família participa. Nessas ocasiões sempre nos reunimos e fazemos um grande almoço.

F: Como é composto o seu portfólio?
CDB: Por um lado, vale esclarecer que além dos nossos vinhos, fornecemos a terceiros. Também estamos experimentando outras regiões, dentro de Chubut, porque é o que mais se assemelha ao nosso vinho do paralelo 42. É outro mundo. Em breve, teremos novidades e surpresas.

Divulgação

Equipe de campo que trabalha com Camilo De Bernardi

Atualmente fazemos o merlot rosé, que é o que dá mais trabalho. Como o merlot não amadureceu devido ao clima, fizemos espumante ou rosé e ficaram muito bons. Temos outro merlot que amadureceu e foi vinificado para vinho tradicional. Também tem uma leva muito pequena de gewürztraminer, que deixamos para os visitantes da vinha.

E, claro, o nosso pinot noir que é o ícone da vinícola. A avaliação do crítico Tim Atkin ajudou muito. Enviamos o pinot 2018 e ele nos deu 92 pontos, o de 2019 alcançou 93 pontos e o de 2020 atingiu 95 pontos. O primeiro merlot 2021 obteve 92 pontos e o crítico James Suckling deu excelente nota ao pinot noir 2019. O relatório do Tim Atkin de 2022 colocou nosso pinot noir entre os quatro melhores do país.

F: Quantas garrafas produz por ano e como são comercializadas?
CDB: Aspiramos a uma produção anual de 5 mil garrafas, mas nunca conseguimos cumprir por diversos motivos. Em janeiro de 2023, por exemplo, tivemos granizo e geadas que atrapalharam a produção.

F: Em setembro de 2023 foi apresentado, pela primeira vez na vinícola, o seu portfólio oficial. Por que isso, depois de 12 anos de trabalho na Patagônia?
CDB: Em primeiro lugar fizemos isso por causa do volume. Não poderíamos chegar ao mercado com 350 garrafas por ano. Agora, estamos dobrando e triplicando a produção. Assim que conseguimos consolidar o merlot, vimos que tínhamos um bom estoque. Em relação às vendas, comercializamos direto na vinícola e também enviamos para todo o país por meio de compras online. Não sei se estamos prontos para adegas. Bem que eu queria atender ao público que nos “cobra” todos esses anos, mas depois dessa apresentação, por exemplo, em quatro dias, ficamos sem estoque de pinot noir.

Temos que trabalhar mais, no entanto, devemos também ter em conta que os custos fixos são muito elevados, razão pela qual o valor do vinho é muito superior ao de qualquer outra área. Estamos tentando colocar nossa marca no mercado, mas com o mesmo preço de outros rótulos de renome. Portanto, até gostarmos do vinho, não o consideramos pronto para ser colocado no mercado.

Levou muito tempo até nos convencermos de que o nosso produto poderia atingir um preço alto e que o consumidor voltaria a comprar. Atualmente vendemos merlot rosado por US$ 20 (R$ 97 na cotação atual), merlot por US$ 40 (R$ 195) e pinot noir por US$ 80 (R$ 390).

* Matéria originalmente publicada na Forbes Argentina. (Tradução: ForbesAgro)