Turistando e comendo de forma sustentável? O que o agro tem a ver com isso?

O turismo responsável tem sido uma palavra da moda há anos, mas a alimentação sustentável nem sempre recebeu a mesma atenção – até agora. Os restaurantes do campo à mesa, os passeios gastronômicos sustentáveis ​​e a promoção dos sistemas alimentares locais ficaram em segundo plano, enquanto a indústria do turismo lutava para se recuperar da pandemia. Mas os especialistas dizem que 2024 poderá ser o ano em que a alimentação sustentável se tornará um factor importante no turismo.

Quase 8 em cada 10 entrevistados (79%), de um estudo realizado pela Harris Interactive e pela empresa de gestão de serviços de alimentação Sodexo, dizem acreditar que a adoção de comportamentos mais sustentáveis ​​é uma questão “urgente”. A Sodexo vê os resultados como um apelo à ação. “Nossa ambição é colocar todo o ecossistema em movimento, para acelerar mudanças reais”, afirma Sophie Bellon, CEO da Sodexo.

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A mudança já está acontecendo. Os viajantes pedem alimentos sustentáveis, mesmo que tenham dificuldade em definir exatamente o que significa sustentável. Existem muitos exemplos de práticas alimentares sustentáveis ​​e existem formas de encontrar alimentos sustentáveis. E 2024 pode ser o ano para isso.

Viajantes estão exigindo alimentos sustentáveis

O apetite por alimentos sustentáveis ​​é maior do que nunca, especialmente entre os viajantes. Katy Hoogerwerf, consultora nutricional holística, que é diretora-geral da Good Trips, uma agência de viagens sediada nos Países Baixos especializada em viagens sustentáveis, diz que tem estado mais ocupada do que nunca ajudando os seus clientes a encontrar alimentos sustentáveis ​​nas suas viagens. “Há demanda por alimentos sustentáveis”, diz ela.

A Viator, uma plataforma de turismo, relata que o interesse em seus passeios gastronômicos sustentáveis ​​está aumentando. No topo da lista: um tour de chocolate sustentável em Zurique, na Suíça; um tour de agricultura urbana em Montreal, e um tour de vinho sustentável em Sonoma, na Califórnia.

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Fale com especialistas em viagens e eles lhe dirão que as pessoas estão pedindo sustentabilidade – quer estejam em uma pousada ecológica no Equador, em um navio de cruzeiro na Antártida ou no meio da Floresta Amazônica. Mas o que significa sustentabilidade?

O que é alimentação sustentável em viagens?

Nas viagens, alimentação sustentável significa escolher opções que sejam boas para o meio ambiente e para as comunidades locais. Veja como saber se sua comida é sustentável:

• Aprovisionamento ético

Os estabelecimentos que priorizam práticas trabalhistas justas e o bem-estar animal são considerados mais sustentáveis.

• Práticas do campo à mesa

A comida vai direto da fazenda para o seu prato, evitando intermediários – e apoiando as empresas locais.

• Ingredientes de origem local

Alimentos cultivados perto de você podem significar redução das emissões de carbono provenientes do transporte. Além disso, você está apoiando os agricultores locais.

• Reduzindo desperdícios

Navios de cruzeiro, hotéis e restaurantes com políticas em vigor para minimizar o desperdício de alimentos e reciclar materiais, sempre que possível, são considerados mais sustentáveis.

• Itens de menu sazonais

Comer frutas e vegetais cultivados localmente, e da estação, significa que você obterá os alimentos mais saborosos sem o impacto ambiental do transporte de produtos por longas distâncias.

“Se olharmos para toda a cadeia, ela envolve o agricultor local e o restaurante familiar local, que apoia a economia e o turismo locais”, explica Kuba Neuman, coach de viagens da Bohemian Adventure. “Esse tipo de alimento costuma ser muito fresco, pois não precisa ser transportado e armazenado por um longo período”.

Quais são alguns exemplos de práticas alimentares sustentáveis ​​em viagens?

Os programas de sustentabilidade estão por toda parte na indústria do turismo. Resorts como Aurora Anguilla começaram a oferecer alimentos sustentáveis ​​por meio de sua própria fazenda hidropônica. O Aurora, localizado em 150 hectares na ilha caribenha, possui seis restaurantes e salões. Utiliza ervas, frutas e vegetais cultivados no local. Também pode criar jantares especiais onde o turista desfruta de um céu estrelado, enquanto come a comida cultivada no resort.

As empresas de cruzeiros também buscam a sustentabilidade. Por exemplo, o novo Programa Global de Peixe Fresco, da Holland America Line, leva peixe fresco do pólo ao prato em 48 horas, em toda a sua frota. O programa enfatiza a rastreabilidade. No Alasca, a linha de cruzeiros recebeu até uma certificação RFM (Gestão de Pesca Responsável) pelos seus frutos do mar selvagens, sustentáveis ​​e rastreáveis. Este ano, o programa também trouxe o renomado chef Masaharu Morimoto para estrear seu primeiro restaurante independente no mar, o Morimoto by Sea, a bordo do Nieuw Amsterdam.

Um dos programas de sustentabilidade mais antigos no turismo é o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo. Criado em 2014, foi o primeiro deste gênero em Portugal. “Cresceu para incluir mais de 425 vinícolas e quase 50% de todas as terras vinícolas”, diz J.H. Simões, porta-voz da região do Alentejo, em Portugal. Especificamente, o programa ajudou as vinícolas a reduzir o consumo médio de água em 20%. Algumas vinícolas usavam até 14 litros de água para produzir 1 litro de vinho. No âmbito do programa, reduziram o consumo de água para apenas 6 litros.

Mas alguns locais estão indo além e ultrapassando os limites da sustentabilidade. Por exemplo, restaurantes como o Bloempot em Lille, na França, servem apenas produtos cultivados nas proximidades, o que significa que não há café no menu.

“Restaurantes inovadores como o Salt Budapest, que criou um prato biodegradável feito de cânhamo e micélio, estão promovendo a visão do que significa ser sustentável na cozinha”, afirma Michelle Arellano Martin, fundadora da plataforma de viagens sustentáveis ​​Travara.

Como posso encontrar opções de alimentação sustentável enquanto viajo?

Mas como as pessoas podem encontrar uma refeição sustentável quando estão viajando? Com tantos hotéis e restaurantes afirmando ser verdes, não é fácil. E não há como saber ao certo, a menos que acompanhe o chef ao mercado. Mas aqui estão algumas maneiras de encontrar uma refeição mais sustentável.

Pesquise opções de comida antes de sair

Antes de partir para a viagem, pesquise sobre restaurantes e mercados sustentáveis ​​na área que você visitará. Sites como HappyCow e Green Restaurant Association podem ajudá-lo a encontrar opções sustentáveis. Mesmo uma pesquisa rápida por “restaurantes sustentáveis ​​perto de mim” irá listar negócios que afirmam ser sustentáveis, diz Debbie Misajon, fundadora do The Coconut Traveller, um site especializado em viagens sustentáveis. “Você encontrará restaurantes que estão fazendo a sua parte”, acrescenta ela.

E como satisfazer os alternativos? Porque vegano é agro

Comer refeições à base de plantas é considerado por parte dos viajantes uma das escolhas mais sustentáveis. Quem é do desse grupo deve procurar restaurantes vegetarianos e veganos ou, caso não encontre, escolher nos demais restaurantes pratos feitos de vegetais. “O aumento de opções veganas e à base de plantas atende não apenas aos viajantes veganos, mas também a outros consumidores”, diz Bianca Joswiak, editora do Vegane-Hotels.de, uma plataforma que destaca hotéis com opções de alimentação vegana e outras.

Procure pelas certificações

Estabelecimentos que exibem rótulos como Certified Humane, Fair Trade, USDA Organic ou IBD podem ser um sinal de práticas sustentáveis. Isso indica que o restaurante ou cafeteria seguem padrões específicos, garantindo uma refeição de origem ética.

Verifique o menu antes de conseguir uma mesa

Quando estiver planejando jantar fora, procure online menus que utilizem ingredientes locais e sazonais. Como já mencionado, estas opções são muitas vezes mais sustentáveis ​​porque requerem menos transporte e refrigeração.

Você ouvirá mais sobre alimentos sustentáveis ​​em 2024

Provavelmente, você ouvirá mais sobre alimentos sustentáveis ​​este ano. Na verdade, a maioria dos inquiridos no estudo da Sodexo afirma que aspira a comer de uma forma mais sustentável em todos os locais de alimentação fora de casa que utilizam diariamente, incluindo restaurantes, escolas, universidades e refeitórios de empresas.

Além disso, a maioria dos entrevistados afirma já ter adotado hábitos alimentares sustentáveis: 71% afirmam que reduzem o desperdício, 63% comem produtos sazonais e 55% compram produtos locais sempre que podem.

Mas pode ser mais fácil falar do que adotar práticas sustentáveis. As pessoas são resistentes às mudanças, principalmente no que diz respeito à alimentação. Elas podem se recusar a pagar um prêmio pela comida ou jantar em um restaurante que não serve café.

“Saúde, sabor e prazer são fatores essenciais para tornar a sustentabilidade mais desejável”, diz Anna Notarianni, diretora de impacto da Sodexo. Para a empresa, duplicar a aposta na sustentabilidade significa impulsionar menus que reduzem as emissões de carbono.
A Sodexo está adquirindo mais ingredientes localmente, com ênfase especial na agricultura regenerativa. Tem também um plano ambicioso para reduzir as emissões de carbono em 90% até 2040 em toda a sua cadeia de valor.

A Sodexo é a parceira oficial de catering da Vila dos Atletas de Paris 2024, nos Jogos Olímpicos marcados para o período de 26 de julho a 11 de agosto. A empresa planeja duplicar a quantidade de vegetais nos pratos, o que estima que ajudará a reduzir pela metade a pegada de carbono das refeições. Além disso, 80% das refeições serão provenientes da França e 25% virão de um raio de 240 quilômetros dos locais. Pelo menos 30% de todos os produtos serão orgânicos.

Com o aumento das opções sustentáveis, fazer escolhas ambientalmente responsáveis ​​está se tornando mais fácil para os consumidores. E este pode ser o ano em que a indústria de viagens finalmente embarcará definitivamente nessa onda.

*Christopher Elliott é colaborador da Forbes EUA, fundador da Elliott Advocacy, autor de vários livros sobre defesa do consumidor e escreve colunas semanais para King Features Syndicate, USA Today e Washington Post.