Paul Polman diz que sistema agroindustrial deve poupar os produtores nas contas climáticas
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Polman esteve no Brasil nesta semana, entre terça e quarta-feira (1 e 2), como o principal nome do Fórum Ambição 2030, realizado pelo Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) — Rede Brasil, em parceria com a AYA Earth Partners, iniciativa dedicada à economia de carbono. Na plateia do luxuoso hotel Rosewood, em São Paulo, passaram 1,2 mil pessoas. E Polman também conversou com a Forbes Brasil.
“É sempre melhor tomar a iniciativa do que ser forçado a mudar. Melhor garantir que adaptamos os sistemas agrícolas”, disse ele. “Porém, mantendo o protagonismo dos agricultores. E garantir que eles não precisam pagar pelas transições, mas também sejam recompensados por proteger o capital natural ”
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No encontro em São Paulo, Polman falou sobre transição climática em uma master class exclusiva para um grupo de empresários e depois, na plateia, falou sobre o Pacto Global da ONU. Mas foi na conversa com a Forbes que ele pontuou o que o agro deve focar, ao referenciar seu papel na economia brasileira e suas cadeias logísticas rumo a à transição para o net zero (zerar as emissões de carbono).
“O negócio agrícola é parte importante da economia brasileira e, ainda mais, para as exportações do Brasil”, diz ele. “É, de fato, o negócio ideal para se pensar um modelo que seja positivo para a natureza, ao clima e também às pessoas.” Para ele, os sistemas agroalimentares, mas a agroindústria e o varejo, devem arcar com cerca de 30% dos investimentos para alcançar as metas climáticas e cabe a esse sistema aliviar a conta para o produtor rural tirando esse ônus de suas costas.
Polman coloca ainda mais um elemento nesta trajetória. Ele salienta que as regras climáticas tendem a deixar os produtos finais tirados do campo mais caros na ponta do consumo. O problema é que, embora 25% das emissões globais já estejam contabilizadas no mercado de carbono, a maioria dos agricultores ainda não vê benefícios nesse mercado. Polman frisa, portanto, a importância do Brasil se integrar às novas diretrizes, como os mecanismos REDD+ (Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal), em termos produtivos, monetários e fiscais. Isso para evitar, no país, que o peso das mudanças recaia somente sobre os ombros dos agricultores, o que inclusive justifica, em parte, os atuais protestos de produtores rurais que vêm acontecendo ao redor do mundo, sobretudo na Europa, em países como França, Bélgica, Alemanha e Espanha.
Em seu livro “Impacto positivo: Como empresas corajosas prosperam dando mais do que tiram”, de 2022, ele fala sobre inovação nas empresas e como elas desenvolvem relações de confiança ao engajar clientes, ao mesmo tempo que ajudam a criar sociedades mais resilientes e saudáveis. “Paul Polman defende que é lucrativo fazer negócios com o objetivo de tornar o mundo um lugar melhor” escreveu o jornal The New York Times sobre a obra. No caso do Brasil, ele afirma que as oportunidades para a economia brasileira são enormes. E dá como exemplo os biocombustíveis. “O Brasil já tem uma indústria agrícola incrível, baseada em biocombustível (o etanol). Poderia ser líder mundial também em combustível de avião sustentável. E dirigir a convergência em outros países, ditando as regras para agricultura.”
O SAF (biodiesel da aviação, na sigla em inglês) é a aposta do setor para reduzir sua pegada de carbono, e pode ser obtido a partir de culturas, como soja, milho, cana, eucalipto, dendê e óleo de macaúba. A aviação responde por 2% das emissões globais de poluentes. O setor agropecuário, por sua vez, responde por 11% das emissões globais de GEE (gases de efeito estufa, na sigla em inglês). “Nossos sistemas alimentares se tornaram o maior emissor de carbono, ainda mais do que o setor de combustíveis fósseis. Mas, são os sistemas alimentares também que apresentam as maiores soluções”, afirma Polman.