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Multinacional de origem alemã que movimenta por ano mais de dez bilhões de euros (R$ 50,5 bilhões) em vendas para o setor rural, a Basf atualizou seu pacote tecnológico para o monitoramento das lavouras com três lançamentos. Agora, as tecnologias incluem a identificação de ervas daninhas nos canaviais prontos para colheita e faz análises de terreno destinadas à gestão nutricional da plantação e semeadura em taxa variável, ou seja, que indica onde se deve colocar mais ou menos sementes (mais quando o solo é menos produtivo e vice-versa). O custo é de R$ 1 por hectare, na licença padrão de pelo menos 4 mil hectares contratados.
Almir Silva, o diretor de soluções digitais da Basf, explicou à Forbes Agro que o xarvio Field Manager reúne todas as opções de IA oferecidas pela companhia. A plataforma foi criada em 2016 (em 2019, lançou o primeiro serviço de mapeamento de plantas daninhas) com a sobreposição de mapas de satélite (powerzones), que agora são elaborados em até 48 horas via drones, de fazenda em fazenda.
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O aumento de produtividade esperado é de 2,2% na soja, 5,4% no milho e 2,4% no algodão. Na cana-de-açúcar, a otimização de insumos pode chegar a até 90%.
A Basf investe anualmente 950 milhões de euros (cerca de R$ 5 bilhões) em pesquisa e desenvolvimento, propiciando uma economia de 60% nos insumos. “A agricultura 4.0 já é uma realidade. E passa por isso: como tratar, não mais a fazenda como um todo, mas em nível de talhão. O que recomendar, plantar e aplicar para ter uma gestão muito mais precisa. É o futuro”, diz Silva, destacando que antes os produtores buscavam máquinas de ponta, hoje eles buscam as melhores ferramentas digitais. “Todo nosso investimento em P&D permitiu nos tornarmos uma empresa de soluções agrícolas, que envolvem vários produtos, serviços e tecnologias que, combinados entre si, entregam hoje esse valor para o cliente.”
Os investimentos em IA no agronegócio, que incluem agricultura de precisão, previsão de safras, detecção de pragas e doenças e outras ferramentas, como o rastreamento e precificação, serão na ordem de US$ 4,7 bilhões (R$ 23,5 bilhões) por ano até 2028, segundo estudo publicado em março pela consultoria europeia Statista.
No setor rural brasileiro, 84% dos agricultores já utilizavam pelo menos um tipo de solução digital até 2020, revelaram naquele ano a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais), embora somente 37% dos imóveis rurais do país tenham cobertura 4G em toda área de uso agropecuário, segundo a ConectarAgro.
Tecnologia além da porteira
Sheik Feroz, diretor de informação e digital da Syngenta, destaca ainda a importância de tecnologias adjacentes à atividade rural, fora da porteira. “Há muita empatia pelas fotos das lavouras (mapeamento dos talhões) via satélites, drones ou até mesmo mais perto da terra, mas há outras tecnologias que estão acontecendo no campo e ao redor do campo, como as finanças, com as fintechs, assim como novos tipos de inteligência artificial”, afirma o engenheiro indiano sediado na Basileia (Suíça).
O agricultor pode gerenciar, com ela, aspectos agronômicos, administrativos e financeiros num único programa, do início ao fim da safra. “Nossas tecnologias contemplam todo o ciclo agrícola, da decisão de plantar ao almoço”, diz Feroz. “Todas as indicações, até agora, são de que há uma grande demanda e esperamos que essas novas soluções alcancem os agricultores muito rapidamente.”
Os oráculos das fazendas
Já em 2023, discutia-se na Agrishow qual seria a utilidade do ChatGPT (transformador pré-treinado generativo, na sigla em inglês) para o agronegócio. Essa espécie de IA, vale lembrar, que imita a linguagem humana natural e desenvolve conteúdo com potencial criativo ilimitado, passou a ser oferecida ao público em escala global em 2022 pelo laboratório americano OpenIA, que hoje fatura US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões) por ano, esperando dobrar esse número no ano que vem. Atualmente, o site recebe mais de 1,6 bilhão de visitas diárias.
Tendo isso em vista, a Bayer fechou uma parceria com a Microsoft para desenvolver o primeiro ChatGPT do agro. A empresa de origem alemã, há mais de 100 anos no Brasil e que faturou 23,3 bilhões de euros no setor (R$ 127,2 bilhões, sem incluir os produtos farmacêuticos) em 2023, fez uma demonstração na feira do que será o AgroCopilot, uma IA para consultas amplas e exclusivas sobre qualquer assunto relacionado às safras.
A Bayer investe 6,5 bilhões de euros (R$ 35,5 bilhões) por ano em P&D. “Por que a gente se juntou à Microsoft? Porque temos um conhecimento muito grande de agricultura, que ela não tem. E a Microsoft tem o know-how digital, de inteligência artificial, de novos produtos. Nessa junção, estamos montando uma plataforma onde todas as empresas do agro podem se conectar”, explica o agrônomo Guilherme Belardo, head de soluções em data e nuvem para América Latina da Bayer.
“Através dos dados, os agricultores poderão fazer perguntas como se fosse num ChatGPT. Antes, se eles quisessem fazer uma análise — saber qual é o melhor híbrido daquela safra, qual a melhor variedade, que produziu mais dentro da área dele — teriam que olhar nos mapas e verificar: aqui produziu mais, aqui produziu menos. Agora, com essa ferramenta, ele digitará qual foi o melhor híbrido e variedade na safra de 2023 e já terá uma resposta”, diz ele.
A Syngenta informou, na Agrishow, que vem desenvolvendo uma tecnologia parecida, mas está mais atrasada em relação à proposta da Bayer. No stand da companhia, havia apenas um teaser sobre esse outro “Google” do agronegócio, que se chamará IA CropWise e deverá ser lançado ainda este ano.
Por que o manejo do carbono entra na lida
A Bayer, com o seu PRO Carbon prevê incrementos de 11% na produtividade ao intensificar a adoção de práticas conservacionistas e um aumento médio de 16% no sequestro de carbono no solo. A expectativa da empresa para a safra de 2024/25, é alcançar 1 milhão de hectares entre produtores participantes, fornecendo a mensuração da pegada de carbono para os cultivos da soja e milho de cada um deles.
A ferramenta auxilia na construção de planos de manejo para sequestro de carbono no solo e redução de CO2 na atmosfera, personalizando a lavoura em fatores como a quantidade de espécies plantadas, dias de solo descoberto e rotação da palhada. A solução recomenda seis mixes de cobertura vegetal, englobando 17 variedades alinhadas às características de cada bioma do país.
“O PRO Carbon fornecerá uma visão mais gerencial das propriedades e apoiará os consultores e agricultores a partir do próximo semestre”, diz Fábio Passos, líder do negócio de carbono da Bayer para a América Latina, em coletiva na Agrishow. “Parcerias dentro da cadeia de valor do agronegócio terão um papel crucial para ajudarem as soluções de agricultura regenerativa a ganharem escala.” De acordo com ele, a base de dados da tecnologia foi desenvolvida com mais de 300 mil coletas de informações, numa base de 1,9 mil produtores, ao longo dos últimos três anos.
“As tecnologias são boas, certo? Mas a pergunta é o que podemos fazer com elas. E é aí que temos que falar muito sobre agricultura regenerativa, sobre sustentabilidade. Porque, no final, o foco é a terra, olhando para a saúde do solo como uma estratégia importante.”