No Brasil desde 1979, ao adquirir 20% da SLC, a John Deere começou a produzir colheitadeiras da cor verde quatro anos mais tarde, em Horizontina (RS). A inauguração da nova fábrica de colheitadeiras e plantadeiras na mesma cidade aconteceu em 1989. Dez anos depois, a empresa assumiu o controle acionário da SLC e passou a atender pelo nome John Deere Brasil. E é justamente nesse ano – 1999 – que Paulo Herrmann entra na companhia pela porta de vendas e marketing.
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“Nossa fatia ainda é relativamente pequena [em relação à operação global], entre 15% e 18%. Mas o potencial de crescimento é muito grande, diferente de outros mercados, como a Europa. Aqui, nós temos a possibilidade de dobrar as exportações.”
No fim de 2019, Paulo foi o único membro da iniciativa privada convidado pelo Ministério da Agricultura a palestrar nos eventos Tropical Sustainable Agriculture Best Practices, em Washington DC, e Investment Opportunities on Brazilian Sustainable, em Nova York, encontros que mostraram as melhores oportunidades de investimento do setor agro no Brasil. Na entrevista a seguir, Paulo lembra o começo da vida na roça; como a frustração de não ter uma bicicleta o lançou para a vida e a expectativa positiva para o futuro da agricultura de precisão.
Forbes: Qual é sua ascendência e como foi o começo da vida em São Lourenço do Sul?
F: O que vocês plantavam?
PH: Batata e cebola, além de milho para os porcos e de pasto para o gado. Outros produtos menos perecíveis, como soja e milho, você pode estocar e esperar o melhor preço. E aí, seguindo essa lógica, eu questionava o meu pai sobre plantar algo que rendesse mais. Em uma determinada época, plantamos morango, aspargos. Demos uma melhorada de vida. A pequena produção tem que ser de alto valor agregado. Em um certo momento, o pai deixou-se seduzir pela soja. Aí, eu disse: ‘Pai, se plantar soja em três hectares, tem que entregar para o atravessador e ainda pedir desculpa, porque você não tem escala. Produtos de commodities têm baixo valor agregado – tem que plantar muito para você ter algum poder de barganha. A pequena produção não é necessariamente ruim porque veja só: essências aromáticas, canela, cravo, hortelã é tudo coisa de meio hectare e são coisas caríssimas que nós ainda importamos muito.
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F: Mesmo garoto, o senhor dava sugestões estratégicas para o pai, então?
F: O senhor está na empresa há 20 anos. Imaginava chegar à presidência?
PH: Sempre falo para os jovens: não olhe para o lado, tem que fazer bem feito. Nunca tinha ouvido falar na John Deere. Ela entrou na minha vida não porque eu fui atrás dela, mas porque precisava de trabalho. Entrei em 1999. Fui o primeiro funcionário 100% da John Deere do Brasil, isso foi uma coincidência. Eles queriam um jovem com certa experiência com tratores. Não coloquei datas para virar diretor ou presidente. Se você faz seu trabalho bem feito, ele vai ser avaliado e a promoção virá. Cheguei aonde cheguei porque sempre fiz bem o que tinha que fazer – e, obviamente, por um pouco de sorte. Sou um cara mediano, deixemos isso claro, não há nenhum superdotado aqui.
PH: Fui o primeiro brasileiro [a assumir a presidência]. Me escolheram porque eu tinha a disciplina alemã e a paixão latina. Minha primeira missão foi ‘tenho que dar certo’: havia muitos americanos concorrendo à mesma posição. Eu não podia falhar. Trabalhar com americano é muito bom. Ele não dá bola para etnia, religião – ele quer ver resultados. O jogo é a entrega. Se você entregou, ótimo. A meta que me foi dada era de crescer, crescer e crescer.
F: Essa meta não deve ter se alterado muito…
PH: Não, porque o agro é uma atividade essencial, e estamos em um ambiente tropical extremamente propício, já que agricultura é fotossíntese, e fotossíntese é sol. Isso aqui não tem limite. Acho que temos que dobrar o superávit de exportação no Brasil, US$ 200 bilhões. Nada impede que a gente faça isso sem desmatar nada. Na área aberta, a gente ainda tem espaço para fazer muito mais.
PH: Com o êxodo rural, como você consegue alimentar mais bocas? Isso vem por meio de toda sorte de tecnologias. A tecnologia, no caso das máquinas, vem com o objetivo de multiplicar a força dos braços e reduzir custos.
F: Explique o conceito de agricultura de precisão para vocês.
PH: Agricultura de precisão é a agricultura que abandona o conceito da média. Quando você está no barbeiro, fazendo a barba, e o cara pergunta: ‘Quantos sacos você colheu por hectare?’. E você responde: ‘Ah, 60…’ Essa é agricultura tradicional, como se tudo fosse igual e todas as lavouras dessem 60. Quando você mergulha, descobre que uma deu 80, a outra deu 40: a média deu 60. Agricultura de precisão é você abandonar o conceito da média. O conceito é da área, do talhão, depois de linha e agora é de cada sementinha que você põe ali, uma a uma, como se fosse com a mão.
F: Qual a importância do John Deere Conecta, lançado em maio?
PH: A primeira etapa foi conectar as máquinas. Nós contratamos serviços de satélites e começamos com os serviços de GPS. Hoje sabemos onde uma máquina está com a precisão de 2 centímetros. Depois veio a JD Link, ferramenta que conecta os proprietários com as máquinas: ela trabalha com dados de velocidade, consumo, o que estão fazendo… Criamos 30 centros de suporte para as operações, como se fossem aquelas salas da Nasa. Cada concessionário monitora as máquinas que estão na região dele – se elas apresentam algum problema, eles mandam um alerta. Isto tudo nós armamos antes da pandemia, e está funcionando muito bem. O John Deere Conecta liga as pessoas, clientes ou não, à rede de concessionários e ao pessoal da empresa.
F: E a quantas anda a conectividade rural no Brasil?
F: O slogan de o Brasil ser “o celeiro do mundo” também vale no exterior?
PH: Acho que o Brasil é mais do que o celeiro do mundo. Desta pandemia eu gostaria de sair como protagonista da produção de alimentos e energia renovável do mundo. O Brasil precisa olhar para a Ásia e para o Oriente Médio, esquecer a Europa. Temos que olhar para onde estão as bocas e o dinheiro, monetizar os serviços ambientais, botar na cadeia os ilegais. Tem ilegal queimando? Tem. Cadeia, não importa quantos. O que não pode é essa turma manchar o agro como um todo.
F: Qual foi o impacto da pandemia nas vendas e na produção das fábricas em abril e maio?
F: Como o Brasil pode virar essa trágica página da pandemia?
PH: Você sabe que nós somos bons em tudo no Brasil, inclusive em fabricar crises. Nós conseguimos transformar uma em três. A crise da saúde, depois criamos uma discussão ridícula se a vida é mais importante que a economia e, para coroar tudo isso, ainda colocamos uma crise política em cima. Para sairmos disso, está faltando bom senso. Precisamos de solidariedade, temos que nos dar as mãos. Esse país é ótimo, tem futuro, tem muita importância no cenário mundial. É necessário equilibrar as coisas: temos US$ 100 bilhões de superávit exportando alimentos, mas tem gente morrendo de fome. Precisamos da sociedade unida.
F: Como o produtor rural – grande, médio ou pequeno – está encarando esta crise?
Reportagem publicada na edição 79, lançada em agosto de 2020
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