Não é suficiente construir uma fazenda solar no meio do nada se você não consegue gerar energia. O projeto atualmente prevê uma linha elétrica aérea de alta tensão de 800 quilômetros para transmitir 3 GW para Darwin, na costa norte da Austrália. De lá, será transferido para uma linha de energia submarina de 3.700 km de 2,2 GW até Singapura. A Sun Cable, uma empresa com sede em Singapura fundada em 2018, está por trás do projeto de US$ 16 bilhões.
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O projeto Austrália-ASEAN está programado para entrar em operação no final de 2027. Os desenvolvedores esperam que ele crie até 1.500 empregos durante a fase de construção e cerca de 350 durante as operações. Dado o interesse por esses tipos de projetos, é importante entender os desafios e o custo final do transporte de energia renovável por longas distâncias. A capacidade de fazer isso –economicamente falando– tem ramificações importantes do deserto do Saara ao Ártico.
De fato, o mundo possui enormes recursos de energia renovável, mas frequentemente esses recursos são encontrados longe dos centros populacionais. Por exemplo, os melhores projetos eólicos dos EUA podem ser encontrados no Texas e em Oklahoma, bem como em todo o centro-oeste escassamente povoado. Da mesma forma, muitos dos melhores sistemas solares do mundo podem ser encontrados em regiões desérticas, sem grandes comunidades ao redor.
O Laboratório Nacional de Energia Renovável dos EUA (NREL) declarou que a implantação em grande escala da geração de eletricidade renovável exigirá linhas de transmissão adicionais para aliviar as restrições regionais.
Para ser claro, os desafios serão significativos. Sempre há riscos ao construir coisas grandiosas e este projeto prevê fazer isso em três categorias distintas. Isso aumenta substancialmente os riscos de falha, então, muitos desafios precisarão ser superados.
Um dos exemplos disso é o fato de os cabos submarinos normalmente atravessarem águas rasas e, nesse caso, o cabo precisará navegar em valas profundas. Isso, combinado com o comprimento que precisa ser percorrido, proporcionará desafios sem precedentes para os navios que tentarão se conectar ao cabo. Este é apenas um exemplo dos tipos de desafios que esses megaprojetos podem enfrentar.
Para estimar o custo da energia solar produzida por este sistema, devemos fazer algumas suposições. O primeiro é sobre a vida útil. Uma regra geral é que as estruturas solares fotovoltaicas durarão cerca de 25 anos. Esses sistemas podem produzir energia além desse período, mas uma degradação significativa na saída de energia ocorrerá até lá.
Por exemplo, se o sistema de 10 GW pudesse funcionar com potência total 24 horas por dia, ele poderia gerar 24 x 365 x 10 = 87.600 GWh por ano. Em toda a Austrália, o fator de capacidade média para sistemas fotovoltaicos de grande escala é estimado em 21%. Dada a escala e localização do projeto Sun Cable, é razoável supor que eles poderiam atingir a faixa superior de fator de capacidade de 25%.
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Nesse caso, durante a vida útil do sistema, ele produziria 87.600 GWh * 25 anos * fator de capacidade de 25% = 547.500 GWh de potência, ou 547,5 terawatts-hora (TWh).
A Siemens afirmou que para 2,5 GW de potência transmitida em 800 km de linha aérea, a perda da linha em 800 kV HVDC é de apenas 2,6%. Extrapolar isso para o comprimento total da linha de 4.500 km implicaria em uma perda geral de energia de 14,6% (assumindo que as perdas no HVDC submarino são comparáveis às da linha aérea).
Assim, a potência total entregue pode ser estimada em 547,5 TWh * 85,4% = 467,6 TWh. Então, o custo nivelado simples da energia produzida a partir desse projeto seria de US$ 16 bilhões dividido por 467,6 TWh (o que equivale a 467,6 bilhões de quilowatts-hora), ou US$ 0,034/kWh.
Esse é um preço atraente, mas fornece apenas uma estimativa simples e de baixo custo da contribuição de capital para o projeto. Ainda seria preciso adicionar custos de manutenção em andamento –alguns dos quais poderiam ser significativos se o cabo submarino exigir reparos– e custos de financiamento. Os subsídios solares disponíveis, que também não foram considerados, poderiam custear parcialmente esses valores.
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