Em algum momento de sua vida, certamente essa pergunta despertou sua curiosidade, acompanhada pela excitação de imaginar o futuro e pela sensação de liberdade de escolha – ou, pelo contrário, pode ter provocado certa tensão porque você sentiu que existia uma grande expectativa em torno de sua resposta.
Se você nasceu em uma família empresária, que criou uma história de sucesso e na qual esse era o assunto predominante nos almoços de domingo, a pergunta que abre esta minha coluna de estreia carrega uma série de mensagens e de impactos. Até os anos 1980, provavelmente sua resposta seria direcionada aos negócios da família e ponto final. Sua educação teria sido baseada na obediência e no temor moral, em que a alternativa clara e esperada era a continuidade do legado familiar.
Os descendentes de José Ermírio de Moraes, por exemplo, brincam com o tema dizendo que podiam escolher qual engenharia iriam seguir. Iguais a essa existem várias histórias de continuidade, como nas famílias Tramontina, Gerdau, Setubal, Feffer e muitas outras.
Porém, com as mudanças geracionais, de contexto e de composição das famílias, as escolhas dos jovens também foram mudando. Hoje os pais educam seus filhos sob a ótica da busca pela felicidade. Quando pergunto aos pais que me procuram qual é seu objetivo maior, sempre escuto, com poucas variações: “Quero que sejam felizes”. E o quanto isso impacta na pergunta lá do alto? Muito!
Oferecemos aos filhos amplitude: escolas de estudo bilíngue, com experiências internacionais e multiculturais desde cedo; tutores para educação; programas preparatórios para application; personal support para quase tudo…
Ao mesmo tempo, os filhos observam a vida de seus pais, com sua rotina intensa e estressante na gestão dos negócios, veem as notícias sobre a complexidade de ser empresário no país e percebem as tensões no ambiente de governança amplificadas pela complexidade de um consórcio entre parentes (caso da maioria dos processos sucessórios). Se o trabalho dos pais foi bem feito, no sentido de desenvolver nesse jovem a busca por sua realização pessoal, é esperado ouvir algo que não seja “quero trabalhar nos negócios da família”, por mais carregado de emoção que seja o tema. O foco é liberdade (e qualidade) de escolha.
Para os jovens que demonstram afinidade com os negócios da família, é fundamental que a eles sejam oferecidas:
- oportunidade de colaborar nos negócios em novas frentes;
- participação em projetos multidisciplinares em squads;
- liberdade de propor novos caminhos e trocar experiências em fóruns (como conselho de sócios);
- abertura para uma carga horária mais moderna, com tempo para trabalhar e que acomode oportunidades de aprendizado.
Para os jovens que querem criar seu próprio caminho:
- um plano de desenvolvimento que amplie sua visão de mundo, suas competências e sua conexão com o ecossistema;
- preparo para fazer uma boa entrevista, entendendo o comportamento humano e sabendo escolher os executivos certos para seus negócios;
- a oportunidade de colaborar como conselheiro, conhecendo governança e sabendo como ser um acionista responsável;
- como construir um portfólio de investimento e como gerir seus recursos.
Nos dois casos, autoconhecimento é fundamental. Assim, a resposta à pergunta crucial virá com o entusiasmo de quem reconhece o privilégio de poder fazer essa escolha.
Flávia Camanho Camparini é consultora em governança familiar e estratégia de desenvolvimento humano, fundadora do Flux Institute e partner facilitator dos programas do Cambridge Family Enterprise Group e do IBGC
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