Se você nasceu em uma família empresária, que criou uma história de sucesso e na qual esse era o assunto predominante nos almoços de domingo, a pergunta que abre esta minha coluna de estreia carrega uma série de mensagens e de impactos. Até os anos 1980, provavelmente sua resposta seria direcionada aos negócios da família e ponto final. Sua educação teria sido baseada na obediência e no temor moral, em que a alternativa clara e esperada era a continuidade do legado familiar.
Os descendentes de José Ermírio de Moraes, por exemplo, brincam com o tema dizendo que podiam escolher qual engenharia iriam seguir. Iguais a essa existem várias histórias de continuidade, como nas famílias Tramontina, Gerdau, Setubal, Feffer e muitas outras.
Oferecemos aos filhos amplitude: escolas de estudo bilíngue, com experiências internacionais e multiculturais desde cedo; tutores para educação; programas preparatórios para application; personal support para quase tudo…
"Até os anos 1980, provavelmente sua resposta seria direcionada aos negócios da família e ponto final."Ao mesmo tempo, os filhos observam a vida de seus pais, com sua rotina intensa e estressante na gestão dos negócios, veem as notícias sobre a complexidade de ser empresário no país e percebem as tensões no ambiente de governança amplificadas pela complexidade de um consórcio entre parentes (caso da maioria dos processos sucessórios). Se o trabalho dos pais foi bem feito, no sentido de desenvolver nesse jovem a busca por sua realização pessoal, é esperado ouvir algo que não seja “quero trabalhar nos negócios da família”, por mais carregado de emoção que seja o tema. O foco é liberdade (e qualidade) de escolha.
Para os jovens que demonstram afinidade com os negócios da família, é fundamental que a eles sejam oferecidas:
- oportunidade de colaborar nos negócios em novas frentes;
- participação em projetos multidisciplinares em squads;
- liberdade de propor novos caminhos e trocar experiências em fóruns (como conselho de sócios);
- abertura para uma carga horária mais moderna, com tempo para trabalhar e que acomode oportunidades de aprendizado.
- um plano de desenvolvimento que amplie sua visão de mundo, suas competências e sua conexão com o ecossistema;
- preparo para fazer uma boa entrevista, entendendo o comportamento humano e sabendo escolher os executivos certos para seus negócios;
- a oportunidade de colaborar como conselheiro, conhecendo governança e sabendo como ser um acionista responsável;
- como construir um portfólio de investimento e como gerir seus recursos.
Nos dois casos, autoconhecimento é fundamental. Assim, a resposta à pergunta crucial virá com o entusiasmo de quem reconhece o privilégio de poder fazer essa escolha.
Flávia Camanho Camparini é consultora em governança familiar e estratégia de desenvolvimento humano, fundadora do Flux Institute e partner facilitator dos programas do Cambridge Family Enterprise Group e do IBGC
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