O impacto da tecnologia desenvolvida pela Boston foi o motivo para o engenheiro recém aposentado da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), de malas prontas para morar na praia e dar reforço de matemática para crianças em comunidades carentes, redirecionar seus planos em semanas e embarcar para uma das regiões com clima mais frio dos EUA, mas efervescente do ponto de vista tecnológico: “para mudar o curso e vir para a Boston Metal precisava ser uma coisa grande, você não vai mudar o curso para melhorar 5% ou 10%, é só se for para fazer a diferença mesmo”, conta Carneiro.
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Com didática e entusiasmo, Carneiro falou em entrevista exclusiva à Forbes sobre a Molten Oxide Electrolysis (MOE) – tecnologia utilizada na produção do aço pela Boston Metal. Uma ideia que não é nova, mas aplicá-la à fabricação de aço é uma inovação patenteada pelo MIT – e trabalho da Boston Metal para mudar a história da metalurgia.
Da Nasa ao Metal
O primeiro financiamento para a pesquisa desenvolvida nos laboratórios do professor Donald R. Sadoway veio da Nasa, interessada na produção de oxigênio para manter seus astronautas na lua por mais tempo. A ideia, que atualmente é revisitada por pesquisadores e instituições, permitia o uso de anodos nobres para a produção de oxigênio, algo inviável na indústria do aço que precisa de competitividade para fazer frente ao carvão.
Através da eletrólise de óxido fundido, os pesquisadores demonstraram ser possível a fabricação em laboratório de uma ampla gama de metais. Em 2017, já participando do projeto, Carneiro incentivou que a Boston deixasse de testar a produção de diferentes sistemas metálicos e partisse para o aço. O desafio era convencer uma indústria conservadora e que há séculos produz o material da mesma forma, a investir em uma tecnologia ainda em desenvolvimento.
Apesar do interesse do setor, o impulso para as operações da Boston veio de fundos voltados à descarbonização do planeta. A primeira rodada de financiamento trouxe quatro investidores e foi liderada pelo Breakthrough Energy Ventures, de Bil Gates, captando US$ 25 milhões, ante estimativa de US$ 18 milhões. Dois anos depois, em janeiro deste ano, foi realizada a rodada Series B, que além dos quatro primeiros investidores, trouxe nomes como Piva Capital, Fidelity, BMW i Ventures, BHP Ventures, Vale, entre outros fundos e consórcios que reúnem grandes empresas globais. Com dez investidores, a captação alvo de US$ 50 milhões foi superada para US$ 60 milhões, permitindo as operações da Boston até o fim de 2023.
A eletrólise, que permite a substituição do carvão por eletricidade na produção de aço, abre portas também para o uso de minérios mais pobres, algo valioso e que tem chamado a atenção de inúmeros players do setor. “Se você tiver eletricidade na mina, traz a célula [para mina] e solta o metálico. Ao invés de transportar minério de ferro, transporta o metálico… você revoluciona completamente a indústria do aço”, explica Carneiro.
Próximo milestone
O próximo marco perseguido pela equipe da Boston, que saiu de oito profissionais em 2017 para projeção de somar 100 pessoas na equipe até o fim deste ano, é rodar a planta-piloto usando minério de ferro e a tecnologia do anodo inerte em maior escala, objetivo que deve ser conquistado até o início de 2023.
Na sequência, os esforços devem ser direcionados para tirar do papel a primeira célula industrial da companhia, que irá demandar energia elétrica abundante, confiável, barata e, principalmente, verde. Entre os interessados em receber a planta da Boston estão a cidade de Quebec, no Canadá, além de duas candidatas nos Estados Unidos. Na América Latina, Carneiro não descarta uma célula próxima a uma mina da Vale aliada à produção de energia verde presente no Norte brasileiro.
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