Desde que o Acordo de Paris foi estabelecido em 2015, países e lideranças globais vêm elaborando – e revisando – roteiros de planos sobre mudanças climáticas para fortalecer as respostas internacionais e ampliar a participação na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Mas há uma grande lacuna entre agora e 2050.
Os componentes críticos da mitigação dessa mudança podem começar hoje e ser conduzidos por meio de finanças, tecnologia, políticas, medicamentos comportamentais e ciência.
O tema do Dia da Terra, comemorado ontem (22), neste ano foi “Invista em nosso planeta”, que pede a todos – desde indivíduos, empresas e governos – que tomem medidas para reduzir o impacto no meio ambiente. Porque, embora nosso foco esteja no futuro, cada organização e cada indivíduo está lidando com os efeitos das mudanças climáticas hoje.
Divulgação financeira engajada
Muitos países estão tornando obrigatórias as divulgações de riscos climáticos para empresas de capital aberto e grandes empresas privadas, em função do risco para a estabilidade financeira e a economia. A divulgação do risco climático abrange dois tipos principais de risco, físico e de transição.
Os riscos de transição estão ligados às emissões de efeito estufa, como as emissões diretas e indiretas de uma empresa, a quantidade total de ativos relacionados a combustíveis fósseis e o impacto na avaliação da política e legislação sobre mudanças climáticas. Tradicionalmente, os riscos de transição são onde as empresas concentram os esforços de relatórios.
Esses riscos são importantes a serem considerados, pois os dados da S&P Global mostram que os eventos climáticos extremos ligados ao aumento das temperaturas médias globais representam os maiores riscos físicos para as empresas do S&P 500. O Fórum Econômico Mundial listou o clima extremo como o segundo maior risco global para os próximos dez anos.
O uso de análises meteorológicas para divulgação financeira beneficia as organizações de duas maneiras. A primeira é identificar os riscos atuais e futuros para os ativos, operações e segurança do pessoal de uma empresa antes de um evento. Vários estudos vinculam a subnotificação do risco físico nas divulgações de risco climático por conta de perigos desconhecidos.
Este não é apenas um problema operacional, mas também um risco financeiro. Vários estados promulgaram regulamentações e penalidades vinculadas à duração da interrupção que podem afetar o lucro e a responsabilidade das concessionárias.
Redução de emissões de efeito estufa
Há, também, ações que podemos tomar hoje usando análises meteorológicas para reduzir o impacto ambiental. Por exemplo, no transporte marítimo, o roteamento otimizado para o clima pode reduzir as emissões e o consumo de combustível em até 5%, dependendo do tipo de embarcação, da estação e das condições.
Algumas empresas estão usando algoritmos de “chegadas just in time” para reduzir o tempo no porto. Quando os portos estão cheios, os navios ficam parados no mar com seus motores – e emissões – ainda funcionando. Um estudo recente de quatro grandes portos marítimos descobriu que, durante o “período de pandemia”, as emissões de navios aumentaram em média 79% nesses quatro portos.
A análise meteorológica também pode reduzir as emissões de carbono ao tratar estradas de inverno nos países de clima hostil. A previsão de pavimentos rodoviários, que usa uma combinação de previsões de alta resolução, sensores rodoviários e avaliação ambiental das influências da temperatura nos trechos da estrada, pode reduzir o tratamento desnecessário.
Embora não sejam emissões de carbono, a previsão de pavimentação de estradas também é útil para o meio ambiente, eliminando tratamentos químicos desnecessários que contaminam a água potável e prejudicam o meio ambiente.
Apoiar a resposta e a recuperação local
A mudança climática é um risco de saúde pública e ambiental para muitos municípios. Os municípios estão cada vez mais vendo a necessidade de incorporar a análise meteorológica em suas operações diárias.
No país, várias cidades estão contratando oficiais de aquecimento para elaborar estratégias de resfriamento e planejar estratégias de resposta para o aumento das temperaturas. Ao mesmo tempo, municípios como a cidade de Nova York estão enfrentando chuvas intensas que inundam a infraestrutura da cidade e ameaçam vidas.
Enquanto a cidade está investindo US$ 14 bilhões (R$ 67,2 bilhões na cotação atual) para garantir uma redução de 30% nas emissões até 2030, também está comprometida em proteger seus moradores dos riscos associados às mudanças climáticas.
A busca por suporte climático adicional veio do compromisso da Administração de Emergências de Nova York em cumprir as iniciativas descritas no relatório “O Novo Normal: Combatendo o Clima Extremo Relacionado a Tempestades na Cidade de Nova York”.
Essas são apenas algumas das muitas maneiras pelas quais a análise meteorológica pode ajudar a preencher a lacuna entre o impacto ambiental de hoje e as ferramentas e etapas que precisamos tomar para nos preparar para o clima futuro.
* Renny Vandewege é colaborador da Forbes EUA, vice-presidente de Operações Meteorológicas da empresa de meteorologia DTN. Também já foi diretor do Programa de Meteorologia de Transmissão, na Universidade Estadual do Mississippi.