Anne Wilians fala sobre empreendedorismo social, direito da mulher, maternidade, diversidade e tudo o mais que perpassa a sua vida
A veia do empreendedorismo social veio cedo na vida de Anne, herdada de seus pais, que eram empresários na área de saúde e realizavam projetos sociais na Ilha de Marajó, no Pará.
Ao questionar o pai uma vez sobre o porquê de os beneficiados dos projetos estarem, ano a ano, na mesma situação, foi intimada por ele a arregaçar as mangas e fazer algo. E ela fez. Em 2017, aos 27 anos, fundou o INW, que leva o nome de seu marido e do escritório de advocacia presidido por ele.
Por meio de consultorias jurídicas pro bono, financiamento de projetos e programas de voluntariado, o INW atingiu, apenas em 2020, 60 mil pessoas. No mesmo ano, com o aumento de casos de agressão a mulheres em meio ao isolamento social por conta da pandemia, Anne fundou o Justiceiras, organização de apoio e acolhimento a vítimas de violência doméstica.
Confira abaixo um bate-papo de Anne Wilians com a Forbes sobre empreendedorismo feminino e social, direito da mulher, maternidade, diversidade e tudo o mais que perpassa a sua vida.
Forbes: Como começou o Justiceiras?
Eu fiquei sob a gestão do Justiceiras durante cinco meses. Eu saí e o Justiceiras estava com dois mil atendimentos, hoje está com 9 mil atendimentos, e a minha saída foi para me dedicar ao Instituto Nelson Wilians e à minha gestação.
F: Como você avalia o cenário para o empreendedorismo social e feminino em geral?
AW: A mulher tem um jeito peculiar de gestão, e a gente tem que se apropriar mais disso. Estudos mostram que nós nos preparamos mais que os homens, mas nos arriscamos menos que eles para conseguir coisas a nosso favor. A mulher não pede aumento para ela mesma, ela pede recursos, oportunidades em nome de terceiros, mas é difícil pedir para ela. Então a dica que eu tenho para a mulher empreendedora é se arriscar mais, porque preparada eu já parto do princípio que nós estamos, e aproveitar o seu networking com mais ousadia. Por último, eu coloco o autoconhecimento, que infelizmente ainda é um privilégio, para entender até onde a sua resiliência vai. A gente tem que ser bem sincera em relação a quais são os desafios, quais as competências que você tem e quais você tem que agregar ao seu time, e qual solução você propõe para a sociedade. Porque empreender é isso. Quando a gente entende o que a gente domina, a gente consegue entender o que nos falta.
AW: Quando eu falo de violência de gênero, eu falo de direitos humanos, principalmente da dignidade das mulheres, mas eu também estou falando de economia. Existe um estudo que mostra que o Brasil perde R$ 1 bilhão por ano com a violência doméstica por causa dos impactos na saúde e ausências das funcionárias. Dependendo do meu público, se ele não é sensível para falar sobre direitos humanos e dignidade de gênero, eu trago dados econômicos. Há quatro anos, eu faço um evento no dia oito de março em casa para comemorar os nossos direitos adquiridos, mas a gente ainda tem que trabalhar muito.
Eu falo isso como terceiro setor, mas também como uma empresa que tem responsabilidade pela mudança de cultura da sociedade. Não pode ser um social washing, a gente não pode usar essas políticas afirmativas e de respeito aos direitos humanos como uma forma de marketing, a gente tem que usar isso realmente como mudança interna e junto com o poder público. Uma empresa que trabalha com diversidade melhora não só a sua imagem, mas a sua produtividade porque tem ideias mais diversas, competências e backgrounds diversos e traz outras ideias para o centro das discussões e isso gera lucratividade.
F: Como foi sua trajetória antes da fundação do Instituto Nelson Wilians?
F: Como você concilia o trabalho com os três bebês?
AW: A maternidade nunca foi um conto de fadas, um sonho para mim. Então, quando eu decidi ser mãe, foi uma decisão já na fase adulta e muito consciente. Eu não consigo mais viajar o tanto que eu viajava e estar em campo nos projetos por conta dos bebês. Eu tenho meus tropeços, mas acho que cada mês é melhor que o outro. Não é todo dia que eu consigo ir para o escritório, muitas vezes eu faço home office, que às vezes sobrecarrega, mas por outro lado também é um privilégio.
F: Qual o objetivo com o INW?
F: Como as suas formações se unem na sua atuação hoje?
AW: Elas se complementam. Eu nunca deixei de ser uma administradora, só que agora eu sou uma administradora com noções jurídicas. Um dos nossos focos é trabalhar com a cidadania nas nossas organizações sociais, indo até as comunidades para falar sobre direitos. A gente tem 14 programas, e cinco deles são na área jurídica. E eu entendo que a minha formação não para nunca, estou em constante aprendizado.
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