Novos estudos mostram que uso de psicotrópicos não tem relação com transtornos mentais

13 de março de 2015

O conceito de que substâncias psicotrópicas são capazes de causar psicoses e psicopatias em seus usuários é uma antiga historia na mitologia urbana. Algumas versões até davam a dosagem ideal: “Se você usar mais de sete vezes, não tem mais volta.” Os números variavam de acordo com a paranoia do narrador, mas a ideia central, a de que o LSD e o resto da família são maléficos, permaneceu uma constante.

Até agora. Dois novos estudos, divulgados nesta semana, mostram que não existe ligação entre os psicodélicos e uma grande variedade de doenças mentais, incluindo esquizofrenia, psicose, depressão, transtornos de ansiedade e tentativas de suicídio.

O primeiro deles, conduzido por pesquisadores do Instituto Norueguês de Tecnologia, usou diversos dados coletados pelo National Survey of Drug Use and Health (“Pesquisa nacional sobre uso de drogas e saúde”, em tradução livre), pesquisa feita em todo o território norte-americano desde 1988.

Ao examinar as respostas de mais de 135.000 pessoas que participaram do estudo entre 2008 e 2011, os cientistas conseguiram identificar o grupo de estudo: 14% dos entrevistados, que afirmaram já terem feito uso de um dos três enteógenos clássicos (LSD, psilocibina e mescalina) em algum ponto de suas vidas. Ao olharem os dados antigos, os pesquisadores puderam observar o grupo não estavam em mais risco de desenvolver algum dos 11 indicadores chaves de doenças mentais do que o resto dos entrevistados.

O segundo estudo, conduzido na Universidade Johns Hopkins, confirma a pesquisa norueguesa. A instituição norte-americana também usou os dados do NSDUH, mas olhou as respostas entre 2008 e 2012. Da mesma forma, os pesquisadores não conseguiram encontrar relações concretas entre as três substâncias mais comuns (que são encontradas nos ácidos, nos cogumelos e no peiote) e doenças mentais graves.

Mas o que torna o segundo estudo mais interesse é que os pesquisadores resolveram olhar para o outro lado da questão: de que forma os psicodélicos afetam positivamente a saúde mental? Entre dezenas de benefícios, como aumento da criatividade e diminuição da ansiedade, os cientistas descobriram que aqueles que já usaram LSD ou psilocibina têm taxas muito menos de pensamentos e tentativas suicidas.

Em uma sociedade como a norte-americana, onde um a cada cinco adultos fazem uso de algum medicamento para distúrbios mentais (ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos) com pequenas taxas de sucesso, a introdução dos psicodélicos de forma segura pode causar uma revolução sem precedentes.

Afinal, não era nisso que acreditam os estudiosos dos anos 70 como Timothy Leary?  Talvez seja exatamente isso que a atual sociedade dura, paranoica e fria precise para voltar aos eixos.