Pesquisadora pode ter desenvolvido vacina para diabetes nos EUA

10 de junho de 2015

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Em meados dos anos 1990, Lee Iacocca, então CEO da Chrysler, doou mais de US$ 10 milhões para a cientista Denise Faustman, do Hospital Geral de Massachusetts, e a instruiu a transformar uma antiga vacina de tuberculose em cura para a diabetes tipo 1. No último sábado (6), Denise anunciou seu mais recente avanço no projeto: a FDA (Food and Drug Administration) a deu autorização para testar o novo produto em seres humanos, baseado no que o laboratório descobriu.

Agora, os testes irão investigar se o tratamento com a vacina do Bacilo Calmette-Guérin (BCG) melhora a produção de insulina natural pelo pâncreas de pacientes que ainda produzem uma pequena quantidade do hormônio. Se obtiver resultados positivos, o BCG poderá ser usado para reverter a doença.

O custo da vacina será baixo, pois o BCG existe há quase um século e está disponível em sua forma genérica. “Nós não apenas procuramos por algo barato e seguro, mas também queremos descobrir um tratamento que possa reverter uma das mais severas formas da doença em pessoas que têm entre 15 e 20 anos”, diz Denise.

O magnata da indústria de automóveis de 90 anos continua a financiar as pesquisas pela Iacocca Family Foundation, fundada em 1984, em memória à sua última mulher, Mary, que morreu por complicações da diabetes.

A vacina estimula o sistema imunológico a ativar o fator de necrose tumoral (FNT), uma proteína que destrói as células T anormais que interferem na capacidade do pâncreas de produzir insulina. A elevação do FNT já tem comprovação de efeitos terapêuticos em algumas configurações do BCG.

O Hospital Geral de Massachusetts colaborou com uma divisão da Bill & Melinda Gates Foundation e a Organização Mundial da Saúde (OMS) para assegurar que as vacinas para os testes sejam de um fabricante de medicamentos administrado pelo governo japonês, conta Denise. “Tivemos de dar à FDA o certificado de que os processos de fabricação da vacina estão acima dos padrões dos Estados Unidos para que o BCG possa ser usado nos testes.”

Com financiamento contínuo, a cientista lançou um ensaio clínico da primeira fase dos testes em pessoas para provar que a BCG iria matar as células T ruins e estimular as células T boas para a restaurar a produção de insulina. Funcionou, embora os efeitos positivos fossem transitórios. Então, Denise começou a planejar um estudo maior para a segunda fase de testes para provar que injeções regulares de BCG seguidas de doses de reforço periódicas produziriam uma resposta sustentada.

O plano da cientista é inscrever 150 adultos com diabetes nos testes, e alguns receberão o BCG, enquanto outros receberão um placebo. Os pacientes tomarão duas injeções a cada quatro semanas e depois anualmente por quatro anos. Eles vão continuar a tomar insulina, embora a equipe de pesquisa ainda vá observar se o BCG reduz a quantidade de insulina necessária para manter o controle de açúcar no sangue. Os pesquisadores esperam que o efeito metabólico ocorra gradualmente em cinco anos.

Iacocca perguntou a Faustman por que ela não estava usando o BCG para curar diabetes em cobaias de ratos. “Eu disse que era muito cedo. Nós precisamos de mais ciência básica”, respondeu. “Ele olhou para mim e disse, ‘sabe, é o meu dinheiro.’ Nós fizemos um acordo de que se eu usasse os ratos como cobaias ele me daria apoio. Ele leva o crédito por apoiar o projeto que levou a descoberta que o FNT é necessário no tipo 1 de diabetes.”

Seja qual for o resultado, Denise diz que sempre será grata à Iacocca pela paciência de continuar a financiar a pesquisa com o BCG. “Muitas outras pessoas nos apoiam agora, mas a Iacocca Foundation faz uma grandiosa contribuição para as pesquisas”, conta. “Ele vê a questão em perspectiva e está disposto a procurar maneiras de mudar os paradigmas.”