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No processo de fabricação, utiliza-se o óleo extraído dos frutos da planta, o que garante grande parte do aroma característico do destilado, e acrescentam-se outros botânicos – neste ponto, não há limites para a criatividade. Com a popularização e a globalização da bebida, novos países passaram a produzir seus próprios gins, o que nos leva ao momento atual: o surgimento de diversas marcas de gin 100% brasileiras e voltadas para o mercado interno.
A ideologia do gin Arapuru é inspirada na famosa obra “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, de apresentar um Brasil de modo sofisticado: um gin antropofágico, com a tradição de foraMas essa não é uma exclusividade do gin, lembra o veterano barman Derivan Ferreira de Souza: “Nas décadas de 1970 e 1980, nós tínhamos mais ou menos 60 marcas de vodcas nacionais. Era o momento da bebida, impulsionado pelas similares internacionais. Depois veio a fase dos uísques brasileiros, quando a indústria viu uma oportunidade. Algumas delas existem até hoje, mas muitas fecharam”.
Atualmente, Derivan é o master bartender do bar Número, localizado no bairro dos Jardins, em São Paulo. Por lá, o único gin brasileiro da carta é o Seagers Silver, produzido de forma industrial.
Para acompanhar a tendência, as marcas Vitória Régia, Draco, Virga e Arapuru foram lançadas há menos de dois anos. Cada uma delas possui características peculiares, como explica o barman e proprietário do Bar Guarita Jean Ponce: “Você quase conhece o gin pelas marcas, pois eles têm ingredientes expressivos e características únicas”. Em seu bar, também localizado na capital paulista, são comercializados diversas marcas nacionais.
“Durante as minhas pesquisas, descobri que os alambiques de cana ficam ociosos grande parte do tempo. Só funcionam durante a safra da cana de açúcar”, conta. Foi a partir daí que o empreendedor uniu o útil ao agradável: começou a produzir o Virga em um alambique de cachaça de cobre, o que modifica muito o resultado final da bebida.
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Além do processo de destilação diferenciado, a marca utiliza entre seus botânicos o Pacová, semente típica da Mata Atlântica, e também uma porcentagem pequena de cachaça em sua fórmula. Isso garante uma essência tipicamente brasileira, mas sem fazer da bebida algo “para gringo ver”, garante Fm garante o ser um “gin que fosse para gringo ver”, ressalta Januzzi.
Já o Arapuru é uma marca brasileira comandada por um eslovaco. Desde pequeno, Mike Simko tem familiaridade com o zimbro por ser natural de uma região produtora e já ter vivido em Londres. Quando veio ao Brasil, sentiu falta de um gin fabricado por aqui e foi aí que o produto nasceu, há cerca de um ano e meio.
Para criar a bebida, Simko convocou o inglês Rob Dorsett, um dos mais famosos destiladores de gin do mundo. O resultado é um London Dry Gin tradicional e artesanal, com o acréscimo de diversos ingredientes nacionais, entre eles pimentas, limão-cravo e o caju.
“A ideologia do nosso gin é inspirada na famosa obra ‘Abaporu’, de Tarsila do Amaral, de apresentar um Brasil de modo sofisticado. Um gin antropofágico, com a tradição de fora”, explica. O próprio símbolo na garrafa é a ave amazônica Arapuru – que empresta nome à bebida – sentada em uma semente de zimbro.
Em 2017, o grupo Carmosina, que produz a cachaça Yaguara, se lançou no mercado de gins com o Vitória Régia. Segundo um dos sócios, Thyrso de Camargo Neto, “faltava para o mercado um gin de qualidade, mas com preço competitivo, que o consumidor não precisasse desembolsar valores de três dígitos por uma garrafa”.
O resultado foi uma bebida orgânica que combina matéria-prima brasileira com infusão inspirada na tradição europeia, onde a aposta é no lema “menos é mais”. Ao todo são cinco botânicos: coentro, zimbro, cardamomo, limão e pimenta da Jamaica. O nome Vitória Régia também representa a combinação, pois a planta amazônica recebeu esse nome em homenagem à Rainha Vitória da Inglaterra. Outro fato curioso: é o único gin com nome feminino do mercado. Servida em estabelecimentos como o italiano Piu, o Tuju e o Ipo Bar, custa cerca de R$ 75 a garrafa quando comprado em lugares como o Empório Santa Luzia, a importadora Metapunto e o Instituto Chão.
A familiaridade com o mercado de bebidas e de eventos, além do amor pelo gin, fez o empresário Rodrigo Marcusso criar a marca Draco Gin, presente no mercado desde junho do ano passado. “Em 2015, fiz uma viagem pela Europa e conheci diversas destilarias handcrafted de gins. Visitei várias delas e gostei muito do modelo de negócio. Quando voltei ao Brasil, a bebida estava mais popular e comecei a querer produzir. No começo, era bem informal, apenas para mim e meus amigos, além de alguns eventos. Assim que percebi que a aprovação estava boa, comecei a fazer em maior quantidade para comercializar. Mas foi preciso um ano de testes antes de chegar até aí”, conta.
Apesar de já estar à venda em alguns bares, como o Mr. Jerry, o lançamento oficial e a ativação da marca só será em setembro. Atualmente, está começando a ser vendido na rede St. Marche – que também é proprietária do Eataly – por preços entre R$ 98 e 110.
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Quando indagado se os gins brasileiros possuem uma vantagem competitiva de preço em relação aos já lideres de mercado, Marcusso explica: “Essa é uma discussão frequente, mas é impossível, já que estamos falando de um gin de qualidade, um produto construído para ser premium, no qual o álcool é mais puro, feito de cereais. Um produto artesanal é muito mais caro do que um de linha. A Tanqueray, por exemplo, produz 30 mil gins por dia”.