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“As confrarias se popularizaram tanto que é impossível dizer quantas existem hoje no Brasil. Suspeito que já estejam na casa dos milhares”, estima José Osvaldo Amarante, que lidera desde 1983 um dos mais tradicionais clubes de degustadores do país. “Nossa confraria foi a primeira a fazer as provas às cegas, sem identificar o rótulo que estava sendo avaliado”, afirma. Além de Amarante, figuram entre os fundadores dessa confraria pioneira Affonso Hennel, acionista controlador da Semp TCL; o restaurateur Belarmino Iglesias Filho, do Grupo Rubaiyat; Ciro Lilla, da importadora Mistral; Ennio Federico, sócio do site Winexperts; e os já falecidos Saul Galvão, jornalista especializado em vinhos, e Clóvis Siqueira, que foi professor de vinho do Senac.
As confrarias se popularizaram tanto que é impossível dizer quantas existem hoje no Brasil. Suspeita-se que sejam milharesNa virada para a década de 1990, com a abertura do país à importação, o vinho estrangeiro de maior sucesso passou a ser um branco alemão que era comprado a granel e embalado aqui numa garrafa azul. “Era doce e refrescante, na medida para paladares menos apurados, mas foi importante na iniciação dos brasileiros amantes de vinhos. Eu mesmo tomei muito esse vinho”, conta Medeiros.
O grande mérito das confrarias é permitir aos participantes fazer esses ritos de passagem de maneira construtiva e divertida, aprendendo a separar o vinho medíocre do bom, o bom do excepcional, e o bom e barato de um vinho do mesmo nível que custe muito mais.
Amarante lembra-se vividamente do vinho que mais o encantou nas degustações. “Foi um Vega Sicilia 1967 que provei em setembro de 1983. Ele estava tão acima dos demais que foi uma unanimidade entre os confrades, todos o elegeram como o número um entre os vinhos espanhóis provados naquela ocasião”, conta.
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É no ambiente de uma confraria de vinho que se encontra, também, a solenidade necessária para a prova de exemplares raros, que não teriam o mesmo sabor se experimentados solitariamente. Anos atrás, por exemplo, um excêntrico milionário carioca organizou uma degustação de champanhes centenários, que haviam sido resgatados de um naufrágio e arrematados em leilão. “Alguns estavam imprestáveis, mas outros estavam soberbos”, afirma o chef italiano Danio Braga, que comanda o restaurante e pousada Locanda Della Mimosa, em Petrópolis (RJ), cuja adega estampa a página de abertura desta reportagem. O nome do anfitrião ele mantém em segredo, para não ser riscado da sua seleta lista de amigos.
Discrição, aliás, é uma palavra-chave nas confrarias de pessoas mais abastadas. Uma das mais antigas costuma se reunir às sextas-feiras no restaurante Santo Colomba, em São Paulo, há 24 anos. Dela fazem parte, entre outros, o empresário Affonso Hennel, o construtor Romeu Chap Chap e o médico Silvano Raia, pioneiro dos transplantes de fígado no país. O chef e dono do Santo Colomba, José Alencar de Souza, é avisado sobre o tipo de vinho que será servido nas reuniões e providencia um cardápio especial para harmonizar com a bebida. O sommelier da casa encarrega-se de cobrir os rótulos das garrafas, numerá-las aleatoriamente e levá-las à mesa dos participantes. O chef Alencar, um mineiro especializado em pratos italianos, esmera-se tanto no atendimento aos confrades quanto na blindagem deles à curiosidade alheia. “Eu recebo várias confrarias aqui justamente porque garanto a discrição no serviço do restaurante”, explica.
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Se toda regra tem exceção, a Confraria dos Publicitários foge do padrão discreto de seus pares – principalmente quando a degustação (seis taças cada um) acaba e os participantes fecham a noite com cerveja. O grupo reúne-se 12 vezes por ano em renomados restaurantes da capital paulista e organiza uma competição em duplas que pontua, nos moldes da Fórmula 1, quem leva o melhor vinho da noite, todos por volta de R$ 500 a garrafa. Os vencedores não pagam o jantar e concorrem a um troféu anual. Acompanhamos uma dessas reuniões no restaurante Piselli, nos Jardins.
“Eu nem bebia. Aí fui para a Itália com minha esposa e amigos e lá eles pediam Tignanello (cerca de R$ 900 a garrafa). Uma hora, um deles me disse: ‘Olha aqui, você bebendo ou não, a conta vai ser rachada em quatro’. Eu falei: ‘Então pode me dar minha taça’. A partir daquele dia, virou hábito. O vinho me deixou mais leve, mais divertido”, conta Marcos Quintella, presidente do Grupo Newcomm e, de fato, um dos mais sorridentes da noite.
A confraria foi fundada em 2009 por André “Deco” Rossi, que já ocupou cargos de direção em grandes agências de publicidade do país. Em 2010, após 14 anos de carreira, ele entrou na sala do patrão, Washington Olivetto, e disse que estava indo embora. Iria realizar seu sonho: fazer cursos sobre vinhos fora do país e abrir uma consultoria. Foi o que fez. “Hoje, com o vinho, ganho o mesmo que ganhava no mercado publicitário. E sou muito mais feliz.”