- Hôtel de Crillon recebeu o título conferido a propriedades consideradas superiores a hotéis cinco estrelas;
- Recebem o selo estabelecimento empenhados em manter viva a “art de vivre” parisiense;
- Propriedade encomendada em 1754 por Luis 15 foi reformulada para combinar a história do local com elementos de design contemporâneos.
Em 2018, o histórico Hôtel de Crillon conseguiu um lugar em um clube francês exclusivo. A propriedade recebeu o título ministerial oficial da França de “palace distinction” -um passo à frente de uma propriedade cinco estrelas– um ano depois de sua reabertura após quatro anos de reformas, juntando-se assim ao clube de elite de apenas uma dúzia de hotéis parisienses (como Le Royal Monceau, La Réserve, Le Bristol, Le Meurice, o Four Seasons Hotel George V ou o Park Hyatt Paris Vendôme).
Para receber tal título é preciso mais do que boa localização, patrimônio de prestígio, lista de convidados famosos, cozinha excelente, grandes, instalações e padrões de serviço mais altos. É preciso design e esforços das propriedades para espalhar a “art de vivre” (arte de viver, em tradução livre) francesa.
Diante de uma concorrência cada vez mais forte com os vizinhos Mandarin Oriental, Shangri-La e The Peninsula, dirigidos por grupos asiáticos, o Hôtel de Crillon estava sob crescente pressão para reformar seu interior envelhecido, assim como o Plaza Athénée e o Ritz Paris antes dele. Portanto, o estabelecimento mítico da Place de la Concorde em Paris, com vista para o Obelisco de Luxor -onde reza a lenda que a rainha Maria Antonieta tinha aulas de piano- anunciou em 2012 que fecharia suas portas. O dono da propriedade, o príncipe saudita Mutaib bin Abdullah bin Abdulaziz Al Saud, convidou o arquiteto Richard Martinet e a diretora artística Aline Asmar d’Amman, da agência Culture in Architecture, com sede no Líbano e em Paris, para liderar o restauro de cima para baixo, e a Rosewood Hotels & Resorts de Hong Kong para gerenciá-lo.
Em vez de uma restauração completa do hotel, situado em um edifício histórico originalmente encomendado em 1754 pelo rei Luís 15 e antiga residência do duque de Crillon -cuja fachada de referência foi projetada pelo arquiteto do Petit Trianon, Ange-Jacques Gabriel-, d’Amman orquestrou uma modernização na qual a história da propriedade casa com o século 21. Para tanto, o arquiteto contou com a ajuda de quatro designers: Tristan Auer, Chahan Minassian, Cyril Vergniol e Karl Lagerfeld. A opulência permanece, mas o sentimento é inteiramente contemporâneo, e os olhos são maravilhados por móveis, objetos e acabamentos personalizados criados pelos melhores artesãos da França -marceneiros, estofadores, moldadores de vidro e fabricantes de tecidos- que emprestaram sua sabedoria para a criação da joia principesca. Tirando a rigidez e a formalidade da tradicional experiência de uma estadia cinco estrelas, o Crillon parece mais uma casa particular do que um hotel, repleto de flores vivas de Djordje Varda (a florista responsável pelas flores do casamento de Pippa Middleton) e fragrâncias interiores da perfumista parisiense Buly.
Conhecido por projetar móveis, residências e hotéis como Les Bains e Cotton House, em Paris, na ilha de Mustique, Auer transformou a antiga recepção em um paraíso de tranquilidade com área de concierge; adicionou um lounge para fumantes coberto com folhas de papiro, em referência à textura e cor das embalagens de charutos; espaço de cabeleireiro em uma alcova forrada de pavão e penas pretas à la Madame Pompadour; uma barbearia dirigida por La Barbière de Paris (a primeira barbearia da França); uma área de engraxate com assentos da Aston Martin dos anos 60 que fazem referência à paixão do decorador por carros; elevadores de vidro espelhado gravados criados pelos especialistas da Arizio; um boudoir em tons de marrom e teto abobadado com decoração de fogos de artifício, cravejado de estrelas -concebido por artesãos franceses em folha de ouro, folha de paládio e pintura acrílica- para provar rótulos extremamente raros de conhaques e Armagnacs; e a casual Brasserie d’Aumont com assentos de vime e bar de madeira. Auer até deu uma nova vida ao carro de cortesia Citroën DS de 1973 do hotel, com um luxuoso cinza parisiense inteiramente personalizado.
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Com o uso de 600 materiais diferentes (o que inclui 40 tipos de mármore) em uma paleta de cinza, azul ou marrom, Vergniol reformou os 124 quartos e suítes com móveis como poltronas estofadas de seda dos anos 50, tapetes macios, jogos de tabuleiro e livros especialmente selecionados para dar a sensação de lar. Como o designer de moda Karl Lagerfeld era especialista em decoração do século 18 e era particularmente apto a combinar elementos históricos com a estética da art de vivre francesa, foi encarregado de decorar duas suítes do Grands Appartements e uma sala que ele dedicou ao seu mascote felino Birman -forrada com carpete em preto e branco inspirado em arranhões de gato. As suítes exibem paredes cinza texturizadas, em menção à luz prateada de Paris, composta por nove camadas de tinta com toques de madrepérola furta-cor. Ele havia escolhido pessoalmente cada cristal para o lustre da sala de jantar, e foram instaladas pias originais do Château de Versailles no lavabo. Preocupado com as proporções e como os convidados interagiam com os móveis, instalou um sofá branco na sala de estar para garantir a curvatura ideal para a postura das mulheres. Os hóspedes podem até viver como poetas e pintores boêmios nas suítes Ateliers d’Artistes no último andar da propriedade, mas de maneira ultra luxuosa e romântica, combinando uma série de quartos de antigos funcionários sob o telhado da mansão do hotel, agora dotado de varandas privadas com vista para Paris.
O proprietário do Crillon é um ávido colecionador de arte, e o hotel conta com 1.000 obras de arte originais de sua coleção, com curadoria de Fru Tholstrup. Entre as peças estão: o polegar gigante de César em cristal de Baccarat; o Tussle da artista britânica Kate MccGwire feita de penas de faisão que lembram serpentes entrelaçadas; a escultura Stack 9 Copper Blue de Annie Morris em metal pigmentado, concreto, gesso e areia, que recebe os visitantes na entrada, assim como fotos em preto e branco do fotógrafo Cecil Beaton de personalidades famosas, como Alberto Giacometti e Coco Chanel, deliciam os clientes. Na Brasserie d’Aumont; a escultura de chapa de latão polida Le Berre L’Infini de Nathanaël adorna o boudoir; os pontos coloridos Léopoldine Roux acrescentam cor a gravuras antigas que retratam cenas reais nos corredores; e uma tapeçaria francesa antiga reformada com bordados divertidos pela Bokja Design.
Veja, na galeria de imagens a seguir, fotos do interior do Hôtel de Crillon:
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