A cerca de 1.450 quilômetros ao sul de São Paulo e a 175 quilômetros da costa do oceano Atlântico Sul, fica o Rio Grande do Sul, lar das seis principais regiões vinícolas do Brasil, responsáveis por 90% da produção de vinho regional. O estado mais ao sul do país tem contato com o Uruguai em uma de suas fronteiras. E, embora a vinificação no Brasil pareça nova para muitos, Mauricio Roloff, que atua como diretor técnico da Associação Brasileira de Sommeliers, discorda.
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Tudo isso mudou em 1875, com a chegada da primeira grande onda de imigrantes italianos e seus cortes de videira, além de outros fluxos imigratórios da época. Mas os italianos –muitos vindos da região nordeste de Trento– entendiam de agricultura em grandes altitudes e foram os primeiros a explorar essa característica da região.
O que resta desse movimento: um antigo dialeto veneziano, uma variedade italiana distinta, Riesling Italico (uva de relativa importância para a produção de espumantes nacionais), e uma cultura de vinhos espumantes. A principal razão pela qual as pessoas pensam que o Brasil é um novo país no setor é porque, de certa forma, é. Embora a Moët & Chandon tenha criado a Chandon Brasil em 1973, foi só na década de 1990 que uma economia mais aberta abriu caminho para mais pesquisas, tecnologias e investimentos de outras empresas.
Hoje, ancorada pela cidade de Bento Gonçalves –inconfundível por sua enorme porta de entrada de barris de vinho– a Rota de Vinho serpenteia pela Serra Gaúcha. Apesar de grande em extensão, o Brasil é um pequeno produtor de vinhos. O tamanho médio das propriedades é de pouco mais de 43 acres; a região conta com 1.100 vinícolas –90% das quais são pequenas operações familiares; e o país ocupa a 16ª posição na produção mundial, com 273.100 toneladas –logo abaixo da Nova Zelândia (320 mil toneladas) e acima da Hungria (258.520). Olhando para o volume líquido, o Brasil chega ao 14º lugar, produzindo 93.860 galões americanos por ano (a partir de 2017) para uma população de 212.559.417 pessoas.
Cerca de 44% da produção é de uvas tintas, impulsionada por cabernet sauvignon, merlot, pinot noir, tannat e um pouco de cabernet franc. A produção de brancas, com 53%, é dominada por chardonnay, seguida por moscato branco, e três variedades italianas, a italico riesling, trebbiano e glera (a última é a principal uva de Prosecco, a estrela cintilante da região italiana de Veneto).
“Se o espumante é rei, merlot é a rainha”, diz Roloff. A uva está alcançando rapidamente o cabernet em produção e popularidade. Mas, ainda assim, Roloff diz que “o vinho espumante é o nosso cartão de visita”, com chardonnay desempenhando um papel de protagonista. Tangencialmente, existe um mercado crescente de suco de uva que é comercializado como suco de frutas 100% sem adição de açúcar ou água. As uvas principais, niagara e bordô, têm um lugar de destaque em muitas vinhas. De fato, 49,1% das uvas cultivadas na região destinam-se à produção de sucos.
Como em muitas regiões de vinho espumante, os produtores usam o método tradicional de produção (fermentação secundária na garrafa) para vinhos sofisticados e também usam o método charmat (tanque). Os vinhos seguem uma escala de doçura, com vinhos secos no topo de preferência. Não há requisitos nacionais para o envelhecimento, que variam de acordo com a indicação geográfica.
Desde o ano passado, a Wines of Brasil, agência oficial de vendas, informou que nove de suas 36 vinícolas membros estavam exportando para os Estados Unidos, seu segundo maior mercado em volume depois do Paraguai, de acordo com os dados mais recentes disponíveis em 2018. Rafael Romagna, que trabalha na Wines of Brasil, disse que “foi um grande avanço, considerando que em 2017, os EUA eram o terceiro destino e em 2016, o quarto.”
Se sua vontade de viajar o leva a explorar opções de vinhos, aqui estão algumas do Brasil para conhecer:
Basso: Falar sobre o tannat deles demonstra a diversidade do Brasil. O Monte Paschoal é o rótulo de entrada, portanto, não há carvalho, o que significa alguns taninos de frutas sem a suavização do envelhecimento do barril. Mas eu amei o tom de flores vermelhas e azuis (e nunca digo “flores azuis” como uma nota de degustação), e gostei da cereja azeda e da acidez da pele de ameixa. Ótimo vinho para churrasco.
Cave Geisse: Vinícola cujo fundador lançou o Chandon Brasil em 1973, tem um exemplar super seco com o reserva extra brut Victoria Geisse. Também fabricado no método tradicional, com 24 meses em borras, é cremoso, seco e com aspectos de frutas secas. Muito sofisticado e “não para iniciantes”, diz Roloff. Concordo.
Casa Perini: A uva de assinatura é a moscato –achei o espumante borbulhante demais, mas pensei que seria um bom parceiro de piscina. Eu preferi o Fração Única Merlot, um single vineyard, escolhido entre suas melhores parcelas. Ameixa e framboesa, boa acidez, fácil de beber. Eu pensei que poderia até ser legal levemente gelado.
Casa Valduga: Um dos poucos participantes no mercado de rosês. No Brasil, Roloff diz: “Os homens não têm problemas para beber vinho rosado”. Este espumante, feito no método tradicional com chardonnay e pinot Noir, tem morangos frescos saltando do copo.
Miolo: Millesime Brut DOVV. Dividido igualmente entre chardonnay e pinot Noir, este é o icônico vinho single vineyard da casa. Bolhas pequenas e persistentes, lisas e limpas como o chiffon de limão com framboesas brilhantes. Muito convivial –pode ser levado para qualquer lugar.
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Pizzato: Um dos jovens (fundado em 1999), Flavio Pizzato é conhecido como um mestre de merlot e, por mais que eu ame promover essa uva (porque você sabe que eu amo merlot), tenho que dar um pouco de amor ao seu sauvignon Blanc. Se você me conhece, sabe que essa não é minha uva favorita, mas Pizzato faz um trabalho incrível: limpo com toranja branca e flores brancas. Também gostei do semillon –apenas mais uma demonstração da diversidade do Brasil.
Vinícola Aurora: Riesling italico, jovem, picante e com acidez; é uma uva histórica de uma vinícola histórica. Especializada em espumantes produzidos pela charmat, então procure aqui por valor e consistência.
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