Prosecco costumava ser o nome de uma uva cultivada na região de Veneto. Acredita-se que seja originária da Croácia e tenha sido cultivada nos Balcãs, em particular na Eslováquia, há muito tempo. Mas a maioria das plantações estava em Veneto.
Leia mais: Ilha na Itália paga R$ 76 mil para quem se mudar para lá
Mas havia um problema: as regras europeias de denominação afirmam que um nome de uva não pode ser uma denominação em si. Assim, o prosecco – uma uva – não poderia se tornar um DOC (o código italiano para uma denominação).
Primeiro, foi preciso mudar o nome da uva: prosecco foi removido do registro oficial e passou a ser oficialmente declarado glera, um sinônimo até então pouco usado para a uva.
Em seguida, criou-se uma região chamada Prosecco. Havia uma vila chamada Prosecco em Veneto, mas, de acordo com várias fontes, ela não tinha vinhas. A produtora mais proeminente de vinho da uva prosecco foi a pequena região de Conegliano-Valdobbiadene, em homenagem a duas cidades a noroeste de Veneza, que estava convenientemente localizada na região de Veneto. Assim, as autoridades decidiram “inventar” uma nova região geográfica chamada Prosecco por lá.
Por algum tempo houve uma discussão sobre se prosecco é um nome de uva ou uma região vinícola. Hoje essa discussão acabou, é do ponto de vista legal uma região.
A história, além de ser interessante historicamente, também é uma ilustração reveladora de como a indústria do vinho às vezes é guiada mais por iniciativas protecionistas do que por boas razões.
Hoje, a região Conegliano-Valdobbiadene é muito bem sucedida. Ela produz, junta, cerca de 700 milhões de garrafas de espumante por ano. No entanto, isso me faz pensar se Conegliano-Valdobbiadene e Asolo (o outro Prosecco) poderiam ser melhores hoje, se não associadas ao nome do Prosecco. Prosecco é famoso pelo vinho espumante fresco, direto e acessível. Os produtores mais ambiciosos têm dificuldade em atingir os preços premium necessários para seus vinhos de alta qualidade. Talvez hoje eles se arrependam dessa associação. É como algo que se torna um tremendo sucesso, mas a qualidade não está à altura e prejudica a reputação de toda a região. Certamente existem alguns vinhos muito bons de Prosecco e de Conegliano-Valdobbiadene em particular, mas talvez não 700 milhões de garrafas.