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Quando Mintz e um colega conseguem levantá-la – tão cuidadosamente quanto se pode levantar uma pilha de 11 quilos e 15 centímetros de espessura de pergaminho centenário – o verdadeiro peso do Codex fica evidente.
Acredita-se que o Codex Sassoon tenha sido escrito no final do século 9 ou início do século 10 e é especialmente valioso porque é a Bíblia hebraica mais antiga e completa que existe, contendo cada um dos 24 livros, incluindo a Torá (ou Pentateuco), os Nevi’im (ou Profetas) e Ketuvim (ou Escritos). Ele também contém marcas cruciais de vogais e cantilação que outros manuscritos judaicos, como os Manuscritos do Mar Morto, não possuem – o que significa que os leitores hebraicos modernos podem entendê-lo.
“Analisamos outros semelhantes e percebemos que não há comparação”, diz Mintz. “É um livro que tem tanta ressonância para tantos milhões de pessoas ao redor do mundo, então sentimos que o preço era equivalente ao seu poder.”
Para o Codex Sassoon, o leilão de maio é a última parada em sua extraordinária jornada de mil anos, que começou com um patrono rico, cerca de 200 peças de pele de carneiro e mais de um ano de trabalho para um único escriba. Embora a pessoa que encomendou a Bíblia esteja perdida na história, os registros inscritos em suas páginas ao longo dos séculos permitem que os estudiosos rastreiem definitivamente os proprietários posteriores.
A Bíblia acabou se tornando parte de uma sinagoga em Makisin, na atual Síria, mas a pequena vila foi destruída entre os séculos 13 e 15. O livro foi confiado a um membro da comunidade para protegê-la até que a sinagoga fosse reconstruída – o que nunca aconteceu.
“Toda esta história adicional torna o livro emocionante, não apenas como um objeto fundamental da civilização judaica e mundial, mas também como algo profundamente pessoal. Vimos como ele foi transmitido através das gerações, e acho isso realmente emocionante”, diz Mintz sobre sua origem.
O primeiro colecionador comprou pelo equivalente a R$ 111 mil
A Bíblia sobreviveu os próximos cinco séculos até que David Solomon Sassoon, um estudioso e bibliófilo britânico nascido em Bombaim a comprou em 1929. Já um renomado colecionador de manuscritos hebraicos, livros e outros textos judaicos, Sassoon pagou 350 libras esterlinas por ela (cerca de R$ 111 mil hoje), tornando-a o quinto texto mais caro de sua coleção de 1.274 peças – o mais caro foi Moreh Nevuchim (ou Guia para os Perplexos, de Maimônides), no qual ele gastou o equivalente a R$ 480 mil e agora pertence à Biblioteca Britânica.
Dada a sua proveniência e raridade, a estimativa de pré-venda recorde de US$ 30 milhões a US$ 50 milhões do Codex Sassoon também foi alimentada por vendas de grande sucesso de outros textos históricos, incluindo o manuscrito de Leonardo da Vinci, o Codex Leicester, que Bill Gates comprou por US$ 30,8 milhões em 1994, e o Cópia da Constituição de e US$ 43,2 milhões vendida em 2021. Mas mesmo quando comparada a outras obras sagradas antigas, esta Bíblia está em um patamar próprio.
Embora 15 de seus 929 capítulos estejam faltando, principalmente do Gênesis, isso é mínimo em comparação com outra famosa Bíblia do século 10, o Aleppo Codex, que perdeu 40% de suas páginas no final dos anos 1940 em circunstâncias misteriosas. A próxima melhor comparação é o Códice de Leningrado, a Bíblia hebraica antiga mais completa – mas que foi escrita quase um século depois.
A construção do Codex Sassoon deve-se em grande parte à sua notável história de sobrevivência. Suas páginas de pergaminho durarão para sempre, diz Mintz, e como o manuscrito está em forma de livro – em vez de pergaminhos – ajuda a preservá-lo. Embora a encadernação de couro seja relativamente moderna (Sassoon a adicionou há quase cem anos) e algumas páginas tenham sido corrigidas, o livro é praticamente o mesmo do século 10.
As próximas paradas do Codex são Tel Aviv, Dallas, Los Angeles e, finalmente, Nova York, onde passará as últimas semanas antes de sua venda. Quanto a quem pode ser o próximo proprietário do Codex Sassoon, Mintz diz que a casa de leilões recebeu igual interesse de instituições particulares e públicas em todo o mundo. “A propriedade privada não impede o acesso público”, ressalta Mintz, já que as instituições costumam cortejar investidores privados para comprar itens caros e doá-los (um benefício óbvio: a redução de impostos).
“Acho que tudo é possível neste momento”, diz o profissional sobre a histórica venda de maio. “Este livro é profundamente poderoso. Ser capaz de segurar algo em suas mãos que é um pedaço da história, não apenas da história judaica, mas é um texto fundamental da civilização mundial, é eletrizante.”
Os livros, manuscritos ou textos impressos mais valiosos já vendidos em leilão:
1. Primeira Impressão Da Constituição Dos EUA: US$ 43,2 milhões
(Sotheby’s, 2021)
(Christie’s, 1994)
3. Carta Magna: US$ 21,3 milhões
(Sotheby’s, 2007)
4. Bay Psalm Book: US$ 14,2 milhões
(Sotheby’s, 2013)
5. O Livro De Oração De Rothschild: US$ 13,6 milhões
(Christie’s, 2014)