Zé Celso Martinez morre aos 86 anos em São Paulo

6 de julho de 2023
Bob Sousa

Zé Celso morreu após um incêndio no apartamento em que morava, em São Paulo

José Celso Martinez Corrêa, ou apenas Zé Celso, morreu nesta quinta-feira (6), em São Paulo, aos 86 anos. Ele estava internado desde terça-feira (4) na UTI do Hospital das Clínicas por causa de ferimentos provocados por um incêndio no apartamento em que morava, na Zona Sul da capital paulista. A informação foi confirmada por meio do Instagram do Teatro Oficina, fundado pelo ator, diretor e dramaturgo, que havia sido homenageado pela lista Forbes 50 Over 50 no início deste mês.

Veja fotos de Zé Celso:

O ator José Wilker, ao centro, o diretor José Celso Martinez Corrêa, à direita, e elenco no ensaio da peça "O Rei da Vela"
Zé Celso e o marido, Marcelo Drummond
Zé Celso em 2010
Zé Celso em entrevista ao "Programa Do Bial", em novembro de 2021
Montagem de "Os Sertões" em Berlim, em 2005

Com dezenas de prêmios no currículo, como APCA e Shell, além de ter dirigido e atuado em peças emblemáticas da dramaturgia nacional, Zé Celso era um dos maiores nomes do teatro brasileiro e o cérebro por trás do Teatro Oficina, uma das mais importantes companhias de teatro do Brasil.

Vida e obra

Zé Celso nasceu em 1937, em Araraquara, interior de São Paulo. Formou-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, mas não seguiu a carreira de advogado. O interesse pelas artes existia desde criança, mas foi durante a faculdade de direito que ele passou a estudar métodos de atuação, mais especificamente do russo Constantin Stanislavski, e que conheceu Renato Borghi, com quem, junto a outros colegas, fundaria em 1958 o Teatro Oficina.

A peça de estreia do teatro, “Vento Forte para Papagaio Subir”, aconteceu ainda em 1958 e foi escrita pelo próprio Zé Celso. Mas foi em 1967 que montou seu espetáculo mais emblemático: “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, que, por sua estética e crítica política, é considerado um marco na história do teatro. Foi essa peça que impulsionou o movimento tropicalista, já forte no cinema, nas artes visuais e na literatura, para os palcos. A partir de uma obra modernista, Zé Celso evocou as raízes nacionais e “regurgitou” brasilidades, rompendo com o estilo europeu para levar o jeitinho e a realidade brasileira (com os indígenas, os orixás e o que mais faz o Brasil ser Brasil) aos palcos.

Um ano depois, fez novamente história com a única montagem autorizada por Chico Buarque de “Roda Viva”, na qual instaurou a quebra da quarta parede como a conhecemos hoje. A plateia era colocada dentro do palco e o palco dentro da plateia, da forma mais experimental e disruptiva possível.

Nessa época, quando o Brasil vivia o início do regime militar, o Oficina chamou atenção por suas atuações inovadoras, de forte interação com o público e críticas sociais. Zé Celso foi censurado, preso e torturado e, em 1974, exilou-se em Portugal, onde recompôs o Oficina-Samba e apresentou espetáculos. Em seguida, foi para Moçambique, onde realizou o filme “25”, sobre a independência daquele país, e, em 1978, voltou a São Paulo. Em 1991, retornou à cena em “As Boas”, de Jean Genet. “Os Pequenos Burgueses”, “Os Sertões”, “As Bacantes”, “Na Selva das Cidades” são outras obras que marcaram a carreira do dramaturgo.

Zé Celso havia se casado em junho com Marcelo Drummond, com quem viveu por 37 anos, e, antes de morrer, planejava a adaptação do livro “A Queda do Céu”, “soprado” pelo xamã ianomâmi Davi Kopenawa ao etnólogo francês Bruce Albert.