Canale, que vive em Berlim e passa anualmente três meses no Rio de Janeiro, sua cidade natal, mudou-se para a Europa aos 32 anos quando a arte brasileira contemporânea era ainda pouco conhecida no exterior. Fixou-se na Alemanha onde vive há mais de vinte anos, firmando-se como pintora no disputado mercado europeu. Seus primeiros passos se deram na Escola de Artes Visuais (EAV) Parque Lage, um dos mais interessantes espaços na Zona Sul do Rio, cravado no sopé do Corcovado, no Jardim Botânico.
Para quem não se lembra, lá foi o palco da revolucionária exposição de 1984, “Como Vai Você, Geração 80?”, que reuniu mais de cem alunos, todos aspirantes a artista, e acabou marcando um verdadeiro antes e depois na arte brasileira, sendo comentada até na mídia internacional que até então esnobava nosso potencial artístico. Do mega happening com curadoria de seu então diretor, o sempre inquieto Marcus Lontra, brotou alguns dos maiores talentos da geração 80 como Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Leda Catunda, os já falecidos Leonilson e Angelo Venosa, e nossa Cristina Canale.
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Canale mantém viva a tradição das grandes retratistas que romperam a supremacia masculina na arte, como as pioneiras Lavinia Fontana de Bolonha e a napolitana Artemisia Gentilleschi, ambas do século 16 (1500), e as primeiras a terem seu talento na pintura reconhecido pela sociedade da época. Depois seguiram pintoras admiráveis como Vigée Le Brun, Berthe Morisot, Suzanne Valadon, Tamara de Lempicka, Frida Kahlo, nossa Anita Malfatti, Alice Neel e as contemporâneas Elizabeth Peyton e Marlene Dumas, só para citar algumas. Trazendo essa longa linhagem em seu DNA, uma das características dos retratos de Canale é o fato que neles as personagens estão sempre despidas de suas feições, invadindo, assim, o campo do anti-retrato, no qual os rostos são resumidos à sua aura. Outro importante viés de sua bela pintura é a inserção de componentes lúdicos como balões de diálogo, nuvens, gotas, elementos atmosféricos… Esse conjunto de símbolos além de expandir o limite da figuração dão um passo em direção ao tênue território da quimera.
Cristina Canale tem individuais programadas para 2024 no Instituto Ling, em Porto Alegre, e na Fundação Roberto Marinho, no Rio. Além de estar em importantes coleções na Alemanha e nos Países Baixos, a obra da artista encontra-se no MASP, MAM-Rio, MAC-Niterói, MAC-USP e na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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