Pablo aposta que os vinhos que produz hoje também têm potencial para chegar às próximas gerações – e armazena alguns para que, no futuro, seus bisnetos e tataranetos tomem ou vendam. Está desde 1990 no cargo de CEO da Vega Sicilia, fundada em 1864 e adquirida pela família Álvarez em 1982. Considerada uma das melhores do mundo, a vinícola tem três rótulos: Vega Sicilia Único, com mais de 15 anos de envelhecimento em carvalho; Valbuena, envelhecido por cinco anos; e Vega Sicilia Reserva, que traz uma seleção de safras do Vega Sicilia Único.
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Mas nem só de Vega Sicilia se faz o grupo Tempos Vega Sicilia. Nos seus mais de 30 anos à frente da empresa, Pablo a expandiu com a criação de quatro novas vinícolas: Alión, Pintia, Benjamin de Rothschild & Vega Sicilia, na Espanha, e Tokaj-Oremus, na Hungria. Também modernizou a produção e a levou a outros mercados, chegando hoje a 150 países.
Até o vinho Vega Sicilia mudou – transformações, segundo o produtor, “não grandes, mas importantes”, em relação à qualidade da uva e da vinificação, levando a uma bebida mais fresca e complexa. Só não lhe venham falar em tendências do momento. “Vega Sicilia sempre buscou manter sua personalidade e se manter distante das modas”, diz Pablo. Pablo Álvarez, CEO do grupo Tempos Vega Sicilia: “Não queremos entrar nas modas do vinho”
A seguir, o produtor fala à Forbes sobre tendências no vinho – inclusive as que não segue –, os passos para o sucesso da Vega Sicilia e seu projeto de uma nova vinícola na Galícia.
Forbes – Qual é o segredo – ou os passos – para o sucesso da Vega Sicilia?
Como você descreve a personalidade de Vega Sicilia?
Duas características fundamentais são complexidade e elegância. Não são vinhos carregados de madeira, nunca foram, mesmo que envelheçam por longos períodos. Houve um jornalista francês que disse que Vega Sicilia tinha a força do Bordeaux e a complexidade e a elegância da Borgonha. Vindo de um francês, isso é realmente bom.
Como a vinícola foi evoluindo?
A única coisa que fizemos foi adotar as melhores técnicas que conhecemos. Hoje cada parcela tem seus próprios tanques, de modo que cada parcela e cada solo podem ser elaborados separadamente. No final, lidamos com uns 40 lotes diferentes, por variedades e por parcelas. Isso nos permite mesclar as parcelas e refinar a qualidade. E não utilizamos todas as uvas que temos a cada ano. Sempre há alguma parcela que, devido à natureza, que varia de ano para ano, não consideramos de qualidade suficiente. Temos quantidade suficiente de vinhedo para fazer isso. Gerenciamos 150 hectares de vinhedos na Vega e, no total, entre todas as vinícolas, 650 hectares. Cuidamos muito bem deles. Somos ecológicos ou orgânicos há muitos anos e agora estamos buscando a certificação. Tentamos cuidar de todos os detalhes, porque acredito que, em todas as profissões, quanto mais cuidarmos de cada detalhe, melhor será o resultado.
E em termos de marketing e comercialização, como trabalham para manter o nome da vinícola?
Na Espanha, a Vega Sicilia tem mais de 3 mil clientes diretos: 80% são clientes particulares e o restante são comerciantes e restaurantes. Não temos distribuidores nem representantes. Mus molorem poribusam inientet rectem hilla doluptur aliquistisFatum tandum ius et L. Ao longo dos anos, temos feito muitas mudanças com as exportações. Acredito na diversificação dos mercados. Sempre pode haver algum país com problemas, mas temos outros esperando.
Como se definem os preços?
Qual é o volume de produção? Há pressão para produzir mais?
Em Vega Sicilia, não podemos produzir mais nem plantar mais. É uma propriedade de mil hectares, dos quais 150 são vinhas. O restante do solo consideramos que não é adequado e lá plantamos árvores. Agora isso está na moda, mas nós estamos há 30 anos plantando árvores. Temos 60 mil sobreiros [a árvore a partir da qual se que produz cortiça], 10 mil nogueiras e meio milhão de carvalhos – agora não sei se serão barris, mas pelo menos as florestas vão fornecer frescor ao vinhedo. Em Vega Sicilia, podemos produzir 340 mil garrafas no máximo entre os três vinhos. Mas, em alguns anos, precisamos diminuir a produção ou até mesmo não produzir se o ano não for bom.
É uma decisão difícil?
Sim, mas é comunicada e ponto. Não há discussão. É uma questão técnica.
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Pode falar sobre a relação de pioneirismo e moda?
Quais são as diferenças entre um Vega Sicilia atual e um Vega Sicilia de 100 anos?
É o mesmo vinho, mas o que fizemos em nossos 40 anos foi mudar um pouco o processo de envelhecimento. Antigamente, os vinhos eram apreciados quando mais evoluídos, mais elaborados. Hoje o gosto mudou. As pessoas preferem vinhos mais frescos, com mais fruta. Também reduzimos o uso de madeira. As mudanças não são grandes, mas são importantes: a qualidade da uva, a qualidade da elaboração e produção de vinhos mais frescos e complexos.
Reportagem originalmente publicada na edição 109 da revista Forbes Brasil, de junho de 2023