Meio século atrás, o pernambucano Zé de Almeida saía do sertão para ganhar a vida com um pequeno negócio na zona norte de São Paulo. Com um bar e dez mesinhas, não demorou muito para fazer fama na região da Vila Medeiros com seu delicioso caldo de mocotó. Mas o que “painho” – como é carinhosamente chamado – não sabia, era a dimensão que aquela casa tomaria na cidade (e no mundo).
Agora, depois de 50 anos de história, o Mocotó completa aniversário com muitos motivos para celebrar. Sob a batuta do filho de Zé, o chef Rodrigo Oliveira – que largou a faculdade de engenharia e gestão ambiental para cuidar do restaurante da família –, o restaurante expandiu (com três unidades pela capital paulista), já foi considerado um dos melhores do mundo (43º na edição de 2021 do Latin America’s 50 Best) e ganhou reconhecimento internacional por seus projetos de impacto social – como o Quebrada Alimentada, que desde 2020 já distribuiu mais de 100 mil refeições e 105 toneladas de alimentos para famílias de vulnerabilidade do entorno do restaurante.
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Para festejar o cinquentenário, estão previstas uma série de novidades. A mais especial delas é a exposição “Um restaurante melhor para o mundo”, aberta ao público nos andares de cima do Mocotó, com curadoria da pesquisadora e historiadora Adriana Salay, mulher de Rodrigo. Será exposta uma linha do tempo com fotos antigas e até recriaram o primeiro ambiente do estabelecimento – com direito a réplica do balcão, mesas, cadeiras e utensílios da época. A mostra vai contar a história dos primeiros 50 anos da casa.
“A ideia é falar sobre o Mocotó para um público diverso, usando equipamentos e tecnologias inovadoras de informação. É uma linguagem pensada para atingir todos os públicos, dos que costumam frequentar exposições aos que nunca foram a uma”, diz Adriana sobre o projeto, em cartaz até fevereiro do ano que vem.
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Ricardo D’Angelo Linha do tempo dos 50 anos do restaurante, desde o nascimento de Zé de Almeida até os dias atuais
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Ricardo D’Angelo A mostra também conta os projetos socioambientais que o restaurante (e Rodrigo) apoia
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Ricardo D’Angelo A pesquisadora e historiadora Adriana Salay, esposa de Rodrigo Oliveira, foi a curadora da exposição
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Ricardo D’Angelo Novo prato na área: ceviche de beijupirá
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Ricardo D’Angelo Pirão de leite com com pipoca de queijo coalho e carne de sol confit
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Ricardo D’Angelo Sobremesa de purê de manga, sorbet de cajá e coco crocante
Linha do tempo dos 50 anos do restaurante, desde o nascimento de Zé de Almeida até os dias atuais
Outro propósito, como o nome da exposição bem diz, é mostrar o que a equipe planeja para as próximas cinco décadas. “Agora temos que pensar no que podemos fazer para deixar o mundo um pouco melhor. Se a função do restaurante é restaurar, será que a gente não tem a capacidade de restaurar as relações com as pessoas e delas com o meio ambiente?”, questiona o chef, que também expôs detalhes de seus projetos do coração: além da Quebrada Alimentada, iniciativas agroflorestais na fazenda Maniwa, em Socorro (PE), e o sítio Mulungu, na cidade de São José dos Campos (SP).
Este último é alimentado pela compostagem feita no Mocotó e fornece os alimentos orgânicos usados na cozinha, enquanto a fazenda pernambucana é a responsável pelo leite, pomares regenerativos, mandioca orgânica e a farinha que é servida no restaurante. “Quando a gente escolhe o que vai servir e o que vai comer, isso de certa forma tem um peso político também”, diz Rodrigo.
Por isso, a cozinha não poderia ficar de fora da festa. Para marcar o meio século de vida do Mocotó, Rodrigo e seu time criaram um menu comemorativo para a Vila Medeiros usando ingredientes de produtores especiais, entre eles: cuscuz de milho crioulo, desenvolvido pelos projetos Crioulo e Cooperecê; a carne de gado curraleiro da fazenda Mutum; os ovos da Turma do Ovo – segundo o chef, os melhores que já comeu na vida; o chocolate tree-to-bar da Baianí; o licuri de cooperativas locais do sertão baiano; e um requeijão da Fazenda Atalaia, desenvolvido especialmente para o restaurante.
Todos os insumos se traduzem em novos pratos, como o pirão de leite com pipoca de queijo coalho e carne de sol confit, o ceviche de beijupirá com leite de tigre de umbu e chips de batata doce e a sobremesa cajá-manga, pura fruta: purê de manga, sorbet de cajá e coco crocante. E não poderiam faltar os famosos dadinhos de tapioca, que agora também aparecem com cereais, em uma nova versão vegana.
A ideia de Rodrigo é trazer receitas inéditas e diferentes com o passar dos meses, trocando as novidades periodicamente para dar lugar a outras ideias inspiradas na linha do tempo da casa – além de bons drinks.
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