Para Daniela Teixeira, mestre em consumo da Ânima, o levantamento aponta o baque sentido pelos jovens brasileiros e deve servir de alerta para famílias e escolas no pós-pandemia. “Pode ser algo que seja facilmente revertido, mas também pode deixar marcas que devem ser tratadas”, diz.
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Essa falta de convívio presencial tem feito esses jovens perceberem o período de pandemia como um tempo perdido. Entre os entrevistados, dos 90% que tinham uma rotina pré-pandemia de estudo regular, 25% apontaram que precisarão estudar mais no futuro para recuperar o prejuízo de suspensão das aulas e/ou a adoção do ensino à distância. Daniela aponta que há uma valorização dos estudos durante o período de confinamento para uma visão de longo prazo.
Em uma vida pós-pandemia, mais da metade dos jovens disse que pretende optar por caminhos mais conservadores e tradicionais na escolha da profissão. Para eles, o mais importante é a estabilidade no futuro. Para a especialista, essa é uma revelação surpreendente, principalmente num contexto de mudanças, em que muitas carreiras terão que ser reinventadas. Segundo ela, além de apontar uma tendência conservadora no longo prazo, esses dados também mostram a influência do atual momento de instabilidade mundial.
A percepção dos jovens sobre os recentes acontecimentos, no entanto, ainda mostra a construção de uma consciência coletiva e política. Para 45% dos entrevistados, o vírus só chegou ao Brasil porque a China não soube controlá-lo, um discurso repetido à exaustão por alguns líderes mundiais e muito compartilhado em redes sociais, em especial no WhatsApp. Uma parcela de 0,5% acredita, ainda, que o vírus não existe. Em contraponto a essa ideia, quatro em cada dez jovens relacionam a pandemia à forma desordenada que a sociedade vive. Para Daniela, tais dados comprovam que, “na juventude, é natural que se reproduza alguns discursos e, com o passar do tempo, as pessoas vão ficando mais críticas em relação às informações que consomem”.
A falta de conhecimento sobre a ordem e a reprodução de discursos midiáticos e digitais representam uma dicotomia entre os responsáveis pelas políticas mundiais. Para 71% dos jovens, as organizações mundiais têm maior responsabilidade sobre as mudanças, opinião possivelmente influenciada pela pandemia, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) ganhou muita evidência. Chama atenção, ainda, que os outros dois atores apontados como mais responsáveis por fazer um mundo melhor tenham sido as ONGs e a própria família. Ao mesmo tempo, há uma forte descrença nos representantes nacionais: apenas 7% dos jovens acham que a contribuição para um mundo melhor virá através da escolha de melhores governantes.
Seja por influência da mídia ou motivação pessoal, a Geração Z gostaria de mudar o mundo. Segundo a pesquisa, sete em cada dez jovens querem colocar a mão na massa para contribuir com um mundo melhor, sendo que 20% deles, apesar da vontade, não sabem por onde começar. Isso revela não apenas uma oportunidade de formação e engajamento desses jovens em organizações e instituições, mas principalmente um olhar das escolas para fornecer uma formação que integre a participação social a qualquer profissão. Além disso, 51% dos entrevistados esperam uma atitude das empresas voltada para a responsabilidade e a sustentabilidade no pós-pandemia.
Para Daniela, o dado que mais trouxe estranhamento foi o que apontou que, apesar de ser uma geração já nascida no digital, 40% dos entrevistados passaram a relacionar, no período de pandemia, o celular ao tédio, indicando que os smartphones servem como refúgio, mas não ajudam a melhorar o ânimo. Eles também disseram que, apesar dessa sensação causada pelas telas, não há um processo de ressignificação da digitalização, mesmo no cenário pós-pandemia. Fred Gallo, CPO da On The Go, analisa os resultados da pesquisa como um contraste do jovem ainda em formação, daquele que tem o ímpeto em fazer, mas sem as ferramentas de conhecimento necessárias para isso.
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