Antes de mais nada, vamos diferenciar o termo médico surto do popular “surto”. Para a medicina, surtar é entrar em um quadro psicótico agudo. Esse quadro antigamente era chamado de “loucura”, mas eu não gosto dessa expressão.
O que vamos tratar aqui é do vocábulo popular, que pode ser aplicado para uma série de situações, como descontrole emocional, ataque de pânico, desajuste de comportamento.
Fiquei com vontade de falar sobre isso porque recentemente viralizou um vídeo gravado dentro de um avião em que, por algum motivo, um passageiro se descontrolava, se debatia muito, superagitado, e todos na cabine estavam sem saber o que fazer. Será que é preciso segurar essa pessoa? Controlá-la? Levá-la para o hospital tão logo quando possível?
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O que fazer se alguém perto de nós entrar em um quadro parecido com o desse passageiro? Uma curiosidade. Casos como o desse homem não são tão raros. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma expressão para descrever pessoas que ficam violentas, indisciplinadas e inquietas no voo: raiva aérea. Só em 2021, auge da pandemia, foram mais de 5.000 casos, sendo a maioria causados pelo uso de máscara. Bebida e, especialmente, bebida misturada com remédios também podem eventualmente fazer alguém surtar.
Em primeiro lugar, tenha muita calma e, se vocês estiverem em um ambiente fechado, procure retirar objetos que possam, sem querer, quebrar ou ferir a pessoa que está excitada. Procure conter essa pessoa, abraçando-a fortemente. Isso é importante para que ela, na sua agitação, não se machuque.
Agora, se porventura a inquietação dessa pessoa começar a aumentar ao ponto de, por exemplo, ela bater a cabeça na parede ou ter a intenção de se machucar, é fundamental levá-la para um pronto-socorro, nem que seja à força. Qualquer PS público ou privado está capacitado para atender uma pessoa assim. O Samu também está.
Se o surto acontecer durante uma viagem de avião, os comissários de bordo estão orientados a perguntar se existe um médico entre os passageiros. Os voos internacionais, cujas viagens são longas, carregam um kit médico, que, entre outros remédios, tem aqueles voltados para quadros psiquiátricos. Geralmente são drogas da classe dos calmantes, que vão ajudar a tranquilizar quem está agitado, permitindo que a viagem siga sossegada até o pouso, quando esse passageiro deverá ser encaminhado a um hospital ou médico.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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