Começo este texto com aquela frase famosa: o ótimo é inimigo do bom. De alguma maneira, a nossa sociedade – e muitos ambientes de trabalho – tem levado um número grande de pessoas a buscar algo que não é desejável: a perfeição. E elas têm ficado doentes.
Temos sido forçados a acreditar que excelência é sinônimo de perfeição. Todos sabemos que ela é uma meta inalcançável, não é mesmo? Excelência é tratar cada uma das demandas que nos chegam com seriedade, é buscar realizá-las da melhor maneira que se é capaz, admitindo que erros vão acontecer, claro.
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O perfeccionismo pode ser uma armadilha perigosa, na medida em que se tira da jogada a possibilidade de cometer um equívoco. Dessa forma, quando ele acontece, vem associado à ideia de fracasso. Isso é muito ruim do ponto de vista pessoal e, pior ainda, do ponto de vista profissional, porque muitos líderes de fato esticam a corda de suas equipes ao máximo, exigindo delas algo que, enquanto formadas por seres humanos, elas são incapazes de entregar.
É como se o líder perfeccionista ligasse a chavinha do terror, sendo incapaz de reconhecer o esforço do seu time, quando nem mesmo máquinas estão isentas de falhar. Ao só buscar o ótimo, essa liderança perde a oportunidade de entregar uma coisa muito boa.
Pode ser muito doloroso buscar a perfeição porque, ao menor sinal de descuido, isso geralmente vem acompanhado de culpa e de vergonha (daquela pessoa ou do time cujo líder o faz se sentir assim), o que reduz tremendamente a qualidade de vida.
Já se mostrou que o perfeccionismo está ligado a uma série de problemas de saúde mental: angústia, ansiedade, baixa autoestima, depressão e até mesmo distúrbios alimentares.
É muito pesado viver sob a régua de expectativas irreais. Tanto que muitas pessoas chegam a sentirem-se impostoras, tamanha a autocobrança.
Procure focar nos seus pontos positivos (tenho certeza de que você tem muitos) e permita-se cometer erros e receber críticas. É com os erros e com as avaliações, afinal de contas, que evoluímos.
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Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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