No fim de 2022, comemorei 44 anos de formado. A medicina, assim como outras ciências, claro, mudou muito ao longo desses anos. A mudança mais significativa foi a incorporação progressiva da tecnologia ao nosso dia a dia: aplicativos, robôs-cirurgiões, máquinas que geram imagens cada vez mais detalhadas do nosso corpo, só para citar algumas. Em alguns anos, já se fala, muitos médicos oferecerão os seus serviços no Metaverso.
Estar permanente atualizado com tantas inovações e com tanto conteúdo gerado na nossa área de conhecimento tornou-se um grande desafio para quem já está no mercado há muitos anos, como eu, mas também para os jovens que vão ingressar agora.
Transformar-se em um médico 5G, como temos brincado, não significa, entretanto, afastar-se daquilo que é mais importante na nossa área: a empatia, o cuidado, o olhar humanizado para o paciente. Pelo contrário, essas competências deverão tornar-se ainda mais importantes à medida em que as populações estão envelhecendo e, consequentemente, teremos de lidar com mais doenças associadas ao envelhecimento.
É por isso que temos, cada vez mais, de voltar ao passado com olhos no futuro. Esse é o propósito da Medicina do Estilo de vida, que ganha cada vez mais espaço e importância. As tecnologias são importantíssimas para a melhora dos tratamentos e, também, para os diagnósticos.
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Mas, como médicos, temos de pensar não apenas na aplicação desses recursos às terapias, mas também em como podemos prevenir doenças que hoje parecem ter um crescimento exponencial entre a nossa população e que estão ligadas a um estilo de vida ruim. Recentemente, uma reportagem deu conta de que, só no Brasil, 57 mil brasileiros morrem por ano porque se alimentam de comida ultraprocessada. O sedentarismo, por outro lado, é responsável por milhares de novos casos de diabetes.
Em vez de você procurar o seu médico em busca de remédios, que tal buscá-lo porque quer orientação sobre como mudar a sua vida? Que tal, com a ajuda dele, começar a olhar para as coisas simples da vida? Que tal trocar a comida congelada pela comida feita em casa, movimentar o corpo diariamente (repito sempre: pode ser de ioga à caminhada), que tal rir mais, fortalecer os laços de amizade, dormir bem, transar?
Já está comprovado que a mudança de estilo de vida não só é capaz de reduzir as chances do aparecimento de diversas doenças (o diabetes tipo 2 é um dos bons exemplos), como também é fortalecedora da nossa saúde mental e, consequentemente, do nosso estado geral de saúde.
Mudar não é fácil. Exige de nós comprometimento emocional, mental e físico. É uma jornada que lembra uma dança: dois passos para frente, um para o lado, um para trás, mas, novamente, dois à frente. Leva tempo. Por isso, parece tão desafiador e difícil.
Eu sempre dou a meus pacientes a seguinte dica: trace metas pequenas e factíveis. Ninguém consegue mudar o seu estilo de vida de uma hora para outra. Exigir isso de você pode ser muito frustrante. Se você é sedentário, por exemplo, que tal se colocar o objetivo de dar uma volta no quarteirão 3 vezes por semana? Logo, o seu corpo se habituará com esse hábito e você poderá traçar uma nova meta, como dar uma volta no quarteirão 5 vezes na semana e assim sucessivamente.
Baby steps, como dizem os americanos. Um passinho de cada vez. Que neste ano, caros leitores, vocês se sintam estimulados a mudar o seu estilo de vida.
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Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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