O termo “pensamentos intrusivos” tornou-se um bordão do TikTok para pessoas que descrevem impulsos aleatórios, às vezes divertidos ou peculiares, mas o termo real de saúde mental tem um significado muito mais sutil, e o uso indevido provocou uma reação intensa nas redes sociais.
- Os TikTokers adotaram o termo para se referir a impulsos aleatórios, mas alguns usuários apontaram que o termo médico tem um significado diferente e está intimamente associado ao transtorno obsessivo-compulsivo.
- Alguns vídeos virais de pessoas fazendo algo incomum – como apertar o botão de alarme em um elevador, tocar uma barra suja no metrô ou pegar um pombo na rua – têm a legenda “meus pensamentos intrusivos venceram”.
- As seções de comentários desses vídeos geralmente contêm usuários corrigindo esses criadores de conteúdo, que temem que o uso potencialmente impreciso de “pensamentos intrusivos” dilua o significado de um problema real de saúde mental.
- Os pensamentos intrusivos são comumente associados ao transtorno obsessivo-compulsivo e outros transtornos de ansiedade e podem se manifestar como impulsos indesejados ou imagens mentais, muitas vezes recorrentes, que podem incluir pensamentos perturbadores sobre “machucar/violência, sexualidade/comportamentos sexuais, religião e cometer erros/causar acidentes” de acordo com o Centro de TOC e Ansiedade, nos EUA.
- Nem todos os pensamentos intrusivos são causados por distúrbios de saúde mental: grandes estressores da vida e períodos de intensa ansiedade, como o parto, podem desencadeá-los, relatou a Harvard Health Publishing.
- Esses pensamentos são automáticos, e ter impulsos indesejados não significa que a pessoa realmente queira tomar atitudes sobre eles.
- Estima-se que mais de seis milhões de americanos sejam afetados por pensamentos indesejados, de acordo com a Associação de Ansiedade e Depressão da América.
- Pensamentos intrusivos podem ser tratados por meio de terapia cognitivo-comportamental e com o tratamento de possíveis condições subjacentes, como estresse ou transtornos de ansiedade.
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Crítica ao uso indevido
Em um vídeo visto quase 3 milhões de vezes, uma usuária do TikTok zombou de uma “pessoa que acha que ‘pensamentos intrusivos’ são apenas uma ideia”. “Meus pensamentos intrusivos venceram naquele dia porque acabei varrendo as folhas”, brincou ela.
Outro usuário fez um vídeo criticando os TikTokers que menosprezam pensamentos intrusivos e outros termos de saúde mental, incluindo dissociar e ser acionado, alegando que isso estigmatiza essas palavras.
Um tuíte amplamente compartilhado com quase 15 milhões de visualizações critica uma usuária do TikTok que afirmou em um vídeo que seus pensamentos intrusivos são pedir demissão, quebrar o telefone e desaparecer, escrevendo: “Acho que vocês não sabem o que significam pensamentos intrusivos”. Uma resposta nessa thread do Twitter incluiu um vídeo do TikTok com um usuário criticando o uso indevido de “pensamentos intrusivos”, explicando a fusão de um desejo oculto, como alguém querendo cortar o cabelo, com pensamentos intrusivos reais, que podem incluir violência ou racismo, o que pode levar incorretamente à ideia de que pessoas que sofrem de pensamentos intrusivos no fundo acreditam em seus pensamentos indesejados.
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Viralizou
797,3 milhões é a quantidade de visualizações de vídeos marcados com #intrusivethoughts no TikTok em inglês. Em português, os vídeos marcados com #pensamentosintrusivos têm 4,3 milhões de visualizações.
Os vídeos sob esta hashtag incluem pessoas que se referem a impulsos e pessoas que os criticam pelo uso indevido do termo.
Pensamento intrusivo é um dos mais recentes termos de saúde mental que se tornaram virais no TikTok, um fenômeno que preocupa alguns profissionais de saúde mental.
O aumento do discurso sobre condições como transtorno obsessivo-compulsivo e TDAH, embora potencialmente positivo para aumentar a conscientização sobre saúde mental, fez com que alguns usuários do TikTok se autodiagnosticassem e abordassem os profissionais de saúde com um diagnóstico específico em mente, relatou o “New York Times”. Isso ajudou algumas pessoas a receberem diagnósticos precisos e tratamento adequado, de acordo com o jornal, embora os profissionais de saúde temam que encontrar sintomas no TikTok possa levar a diagnósticos incorretos. “Acho que capacita os jovens a saber que não são apenas eles inventando algo ou que não está tudo em sua cabeça – ‘Olha, outras pessoas também se sentem assim'”, disse a terapeuta Sara Anne Hawkins ao Times.
(Traduzido por Patrícia Junqueira)