Este mês, o casal anunciou seu novo biohub em Chicago – que será financiado com US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão) ao longo de uma década, a partir dos US$ 6,4 bilhões (R$ 33,2 bilhões) do Chan Zuckerberg Initiative (CZI) citados. O Chicago Biohub – que é uma colaboração entre a Universidade Northwestern, a Universidade de Chicago e a Universidade de Illinois em Urbana-Champaign – trabalhará para entender melhor como os tecidos humanos funcionam, usando pequenos sensores que desenvolverá.
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Grande parte de suas doações à ciência é construída em torno da ideia de que ferramentas melhores, combinadas a uma compreensão mais profunda da biologia humana, podem ajudar a acelerar a descoberta de curas para doenças, controlá-las ou preveni-las completamente. “Se você olhar para a história da ciência, a maioria dos grandes avanços é precedida por novas ferramentas de observação, não apenas na biologia, mas [também] com telescópios e supercolisores”, explica Zuckerberg.
Chan e Zuckerberg inicialmente conceberam os biohubs como uma maneira de impulsionar o desenvolvimento de ferramentas e descobertas desse tipo. Diferentemente dos típicos laboratórios de pesquisa acadêmica, apoiados por subsídios do National Institutes of Health, os biohubs do casal se associariam a universidades para abordar grandes questões, colaborariam entre disciplinas científicas e garantiriam pelo menos uma década de financiamento da Chan Zuckerberg Initiative.
POR DENTRO DO INVESTIMENTO CIENTÍFICO DA CZI
O novo biohub em Chicago está programado para iniciar as operações em abril, e um instituto de imagem será inaugurado ainda este ano.
Seis meses após a pandemia de Covid-19 atingir os EUA, o CZ Biohub e a UC San Francisco divulgaram um estudo liderado por Joe DeRisi, co-presidente do biohub, especialista em doenças infecciosas e professor da universidade, sobre testes rápidos de Covid-19 da BinaxNow – que confirmou que eles eram confiáveis. A pesquisa ajudou a estimular a adoção mais ampla de testes rápidos na Califórnia, diz DeRisi.
Agora, os membros da equipe de DeRisi estão trabalhando em uma maneira potencialmente mais rápida, barata e precisa de diagnosticar a malária – uma doença que mata mais de 600 mil pessoas por ano (principalmente crianças). Para isso, o time tem usado um microscópio equipado com luz ultravioleta e algoritmos de aprendizado de máquina que detectam malária na amostra de sangue de um paciente, explica Paul Lebel, engenheiro que projetou e construiu o equipamento. Vários desses microscópios especializados atualmente fazem parte de um estudo em uma clínica em Uganda.
Os sucessos iniciais do primeiro biohub inspiraram Chan e Zuckerberg a expandir – e intensificar – seus esforços filantrópicos na área da ciência. Com esse objetivo, em dezembro de 2021, a CZI anunciou que o casal investiria até US$ 3,4 bilhões (R$ 17,6 bilhões) a mais ao longo de 10 a 15 anos. Dessa quantia, US$ 1 bilhão (R$ 5,1 bilhões) seria destinado à rede Chan Zuckerberg Biohub. “Sabíamos que queríamos ter mais unidades”, diz Chan. “A questão era onde e o quê.”
Chan, que estudou medicina na Universidade da Califórnia em São Francisco e trabalhou como pediatra antes de cofundar e se tornar co-CEO da CZI, vê que sua filantropia científica é relativamente pequena. “O financiamento à ciência é um campo enorme e o NIH é o maior player – eles financiam bilhões e bilhões de dólares todos os anos. Nós sempre seremos pequenos”, diz. “Em toda a nossa filantropia, temos que procurar o nicho que seja adequado ao que trazemos para a mesa.”
Em 2016, o casal anunciou pela primeira vez seus planos para curar, gerenciar e prevenir todas as doenças até o final do século. Seus objetivos não mudaram desde então, mas sua mensagem talvez seja mais moderada. “No geral, ainda achamos que é possíve,l e penso que é bom buscar coisas ambiciosas”, diz Zuckerberg sobre por que escolheram esse objetivo. Mas ele rapidamente explica: “Para ser claro, não achamos que vamos conseguir isso. O objetivo é construir ferramentas para acelerar o progresso em todo o campo”. O que ainda é um grande desafio.
Os biohubs são apenas uma parte das atividades científicas da CZI. Em setembro passado, Chan e Zuckerberg marcaram o lançamento do Instituto Kempner para o estudo da Inteligência Natural e Artificial na Universidade de Harvard – nomeado em homenagem à mãe de Zuckerberg, Karen Kempner Zuckerberg, e apoiado com um compromisso de doação de US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) ao longo de 10 a 15 anos para operá-lo. Ainda este ano, o casal abrirá o Instituto Chan Zuckerberg para Imagens Biológicas Avançadas em Redwood City, na Califórnia – o qual o casal se comprometeu a alocar entre US$ 600 milhões a US$ 900 milhões (de R$ 3 a R$ 4,6 bilhões) ao longo de uma década.
A ciência é apenas uma parte do que a Iniciativa Chan Zuckerberg financia – embora seja a maior, em termos de dólares e pessoas. As outras áreas são a educação e o apoio às comunidades na área da baía de São Francisco, com programas que abordam o acesso à habitação e a falta de moradia.
Em dezembro de 2015, para marcar o nascimento de seu primeiro filho, Chan e Zuckerberg prometeram direcionar 99% de suas ações do Facebook (agora chamado de Meta Plataformas) ao longo de suas vidas para “avançar o potencial humano e promover a igualdade por meio de filantropia e outras atividades para o bem público”. Na época, era uma promessa de US$ 45 bilhões (R$ 233 bilhões). As ações da Meta agora valem 65% a mais, tornando o valor mais próximo de US$ 74 bilhões (R$ 384 bilhões), dos quais US$ 3,9 bilhões (R$ 20 bilhões) já foram distribuídos, tanto pela Fundação CZI quanto por fundos de doação. A CZI se configura como uma sociedade de responsabilidade limitada, o que oferece menos transparência do que uma fundação de caridade privada típica.
Como Zuckerberg e Chan encaixam a função de co-CEO da CZI em suas agendas? Este é o trabalho em tempo integral de Chan – embora ela ainda mantenha suas credenciais pediátricas e, às vezes, trabalhe como voluntária nessa área. Seu objetivo, diz, é olhar para “como fazemos o que fazemos melhor, em termos de habilidades, e como podemos continuamente melhorar a resolução dos problemas em que estamos trabalhando. Tem sido incrível.”
Por mais emocionantes que todas as descobertas científicas sejam, uma coisa que Chan e Zuckerberg não mencionaram em sua visão de curar ou cuidar de todas as doenças são as complexidades de fornecer os tratamentos que serão descobertos. A pandemia de Covid-19 destacou as lacunas nos cuidados de saúde e no sistema de saúde pública nos EUA e em outros lugares. “As pessoas tendem a pensar que a parte difícil é a ciência básica. Infelizmente, não há uma valorizaçãi do que precisa acontecer a seguir”, diz a Dra. Wafaa El-Sadr, professora de epidemiologia e medicina na Mailman School of Public Health da Universidade de Columbia. “Seja uma tecnologia, um teste ou um remédio, é preciso entender quem vai precisar dele, como podem obtê-lo, como podem pagar e confiar nele. Existem muitas etapas diferentes.”
(Traduzido por Giovanna Simonetti)