Novo tratamento usa droga conhecida contra câncer de pâncreas

29 de março de 2023
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O câncer de pâncreas tem a menor taxa de sobrevivência de qualquer grupo de cânceres

Pesquisadores descobriram uma maneira incomum de algumas células cancerígenas produzirem os nutrientes de que precisam para crescer. A descoberta pode ser a chave para matar de fome um dos cânceres mais mortais da América, o de pâncreas. O uso de uma droga que já existe pode aumentar as esperanças de um novo tratamento poderoso contra uma doença que é frequentemente detectada tardiamente e tem uma das menores taxas de sobrevivência de qualquer câncer.

  • Células de câncer pancreático usam uma via metabólica única para criar um tipo vital de nutriente chamado poliaminas que todas as células precisam para crescer, de acordo com uma pesquisa revisada por pares e publicada hoje (29) na revista “Nature”.
  • Embora todas as células produzam poliaminas, as células do câncer pancreático o fazem de maneira diferente da maioria dos outros tipos de células do corpo, disse à Forbes Nada Kalaany, do Hospital Infantil de Boston e autora sênior do estudo.
  • A descoberta sinaliza novas maneiras de atingir especificamente as células cancerosas do pâncreas sem prejudicar o resto do corpo, um dos principais desafios que devem ser superados no tratamento do câncer.
  • Kalaany, também professora associada de pediatria na Harvard Medical School, disse que a descoberta aumenta a esperança de desenvolver um tratamento “promissor” que pode atingir os pacientes “com toxicidade mínima”.
  • Além disso, já existe uma droga que tem como alvo uma parte vital da via metabólica explorada pelas células cancerígenas – ela foi testada anteriormente em peixes-zebra e camundongos para aumentar a desintoxicação de amônia e proteger o fígado – e pode ser reaproveitada para atingir o câncer pancreático.
  • A droga reduziu o crescimento do tumor quando testada em camundongos e células humanas, disseram os pesquisadores, ilustrando sua promessa como um tratamento potencial.

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Kalaany disse que o próximo grande desafio será a realização de estudos clínicos em estágio inicial em pacientes com câncer de pâncreas, que testarão a droga existente que tem como alvo a via metabólica única usada pelas células cancerígenas juntamente com a quimioterapia padrão. Ela disse que isso provavelmente sairá em um “futuro próximo”. Além de usar a droga existente conhecida por inibir a via, Kalaany disse à Forbes que a equipe planeja trabalhar com médicos e empresas farmacêuticas para desenvolver uma maneira “otimizada” e “mais potente” de inibir a via metabólica que também pode ser testada no futuro.

O câncer de pâncreas é o décimo câncer mais comumente diagnosticado nos EUA e a terceira causa principal de mortes relacionadas ao câncer. Uma pesquisa sugere que a doença está a caminho de se tornar a segunda principal causa até o final da década. No Brasil, é responsável por cerca de 1% de todos os tipos de câncer diagnosticados e por 5% do total de mortes causadas pela doença.

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Apesar do limitado progresso nos últimos anos, o câncer de pâncreas tem a menor taxa de sobrevivência de qualquer grupo de cânceres e cerca de 12% das pessoas vivem pelo menos cinco anos após o diagnóstico. Embora numerosos fatores e circunstâncias individuais influenciem as taxas de sobrevivência, a detecção precoce é particularmente importante. Infelizmente, detectar o câncer de pâncreas em seus estágios iniciais é difícil, pois não há testes específicos para rastreá-lo e muitas vezes a doença não produz sintomas perceptíveis até chegar a estágios avançados, ponto em que geralmente se espalha para outras partes do corpo. Tratamentos específicos para cânceres pancreáticos são limitados e a remoção cirúrgica muitas vezes não é viável em estágios posteriores.

É possível que as células cancerígenas sejam capazes de superar os esforços para matá-las de fome, disse Kalaany, possivelmente absorvendo poliaminas de fora que foram produzidas por células vizinhas. “As células cancerígenas são metabolicamente flexíveis e podem descobrir meios de superar, resistir ou ‘despistar’ novos tratamentos”, explicou Kalaany, acrescentando que tal comportamento não foi observado em nenhum dos estudos do grupo. Se isso acontecer, Kalaany disse que o tratamento pode ser usado junto com outras drogas e que as melhores combinações serão descobertas em futuros ensaios clínicos