Como ser alguém que consegue admitir quando está errado

22 de abril de 2023
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Não admitir quando está errado pode ser um mecanismo mais fácil de lidar, mas também é uma oportunidade perdida de crescimento pessoal

Para muitas pessoas, é difícil aceitar a ideia de estar errada. Essas pessoas, em geral, vão à terapia dizendo coisas como:

“Eu fiz só porque queria ajudá-los.”
“Isso é exatamente o que me disseram para fazer, então como pode haver um erro?”
“Teria sido bom se ele/ela não tivesse colocado suas opiniões.”

“Não posso dizer que estou errado” é uma frase que reflete a luta de muitas pessoas ao enfrentarem a realidade e admitir suas falhas. Seja negando, justificando, culpando ou ignorando, isso mascara uma verdade inviolável: assim como todos no mundo, nós também cometemos erros e nos atrapalhamos às vezes.

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Pode ser desafiador reconhecer quando cometemos um erro ou temos uma opinião incorreta. Para alguns, a dificuldade em admitir a culpa pode se tornar um padrão recorrente que dificulta o crescimento pessoal e prejudica os relacionamentos. Em vez de assumir a responsabilidade, tentamos justificar o erro por meio da negação e/ou ignorância.

Confira duas razões principais que nos impede de assumir a responsabilidade por nossas ações – e como mudar.

#1. Seu ego está no controle

A palavra latina ‘ego’ significa ‘eu’. Como seres humanos, é natural agirmos em nosso próprio interesse e nos protegermos de ameaças, tanto físicas como psicológicas. No entanto, cruzar a linha de ego-consciente para ‘egocêntrico’ (ou seja, um ego inflado que está exclusivamente focado em alcançar seus próprios desejos e necessidades) pode ser mais prejudicial do que uma proteção.

Quando cruzamos essa linha, começamos a viver na bolha do perfeccionismo assumido, dizendo a nós mesmos coisas como “Eu sempre tenho que estar certo e não posso cometer nenhum erro”.

Admitir que está errado pode perturbar seu senso de orgulho e fazer você pensar que parece fraco, levando a mais comportamentos de auto sabotagem, como:

  • Criar uma falsa sensação de direito e superioridade. Você pode sentir que as regras não se aplicam a você ou que está acima de qualquer crítica. Isso pode levar a comportamentos imprudentes e desrespeito pelas consequências de suas ações.
  • Ter a mente fechada para as perspectivas dos outros. Talvez a única realidade que possa aceitar seja aquela que criou, tornando as opiniões dos outros irrelevantes e sem valor.
  • Buscar informações que confirmem, em vez de desafiar suas crenças pessoais. Um estudo publicado na European Economic Review descobriu que as pessoas, muitas vezes, negam o feedback dos supervisores, a menos que ele preserve sua visão positiva existente de si mesmas.

#2. Traumas passados desencadeiam vulnerabilidade

Experiências passadas desempenham um papel importante na formação de nossas crenças e comportamentos atuais, incluindo a capacidade de assumir a responsabilidade por nossos erros.

Existem, pelo menos, três razões pelas quais certas experiências de infância podem fazer você se sentir inseguro em reconhecer os próprios erros e falhas:

  • Medo de punição. Crianças que foram menosprezadas ou punidas por cometerem o menor erro podem evitar admitir suas falhas quando adultos, por medo descabido de receber a mesma reação dura da infância.
  • Medo do julgamento. Crianças que foram julgadas, principalmente com base em suas realizações e fracassos, tendem a desenvolver uma falha de caráter que as leva a esconder ou encobrir (em vez de corrigir) seus percalços, mesmo quando adultos.
  • Sendo exemplo. Quem raramente viu na infância seus cuidadores expressar remorso, compaixão ou perdão, pode achar difícil fazer o mesmo ou esperar receber as mesmas emoções de um outro adulto.

Um ambiente de infância sem apoio, que desprezava o erro humano, tende a nos ensinar a esconder nossas loucuras e desenvolver padrões de enfrentamento prejudiciais quando adultos. Isso nos leva à defesa, em vez de aprendermos com os erros.

No entanto, há uma luz no fim do túnel.

Um artigo publicado no Personality and Social Psychology Bulletin mostra que quando as pessoas percebem que a personalidade é uma entidade maleável (não fixa), elas são mais propensas a admitir seus erros – porque entendem que os erros são um trampolim para se aprimorar e evoluir.

Em outras palavras, assumir a responsabilidade é o primeiro passo em direção à mudança – e acreditar que ela pode acontecer é o precursor para assumir a responsabilidade.

Conclusões para uma reflexão

Explorar as razões pelas quais é tão difícil admitir suas falhas é uma ótima maneira de começar o caminho do autoaperfeiçoamento. Com amor, apoio e ajuda profissional, é possível desenvolver a humildade para reconhecer e aprender com os contratempos.

Lembre-se: pedir desculpas, admitir um erro ou mudar uma crença falha não o diminui. Isso mostra coragem, honestidade e força de caráter.

*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é doutor em psicologia, formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

(Traduzido por Giovanna Simonetti)