Recentemente, veículos de comunicação noticiaram o aumento do uso de remédios para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (conhecido como TDAH) por pessoas que não haviam sido diagnosticadas com a condição, mas que buscavam aumentar o desempenho cognitivo, a concentração e melhorar a sua produtividade no trabalho com a ajuda dessas drogas.
Os medicamentos mais comumente usados para esse fim (a Ritalina e o Venvanse) são drogas legais, porém, de uso controlado, só podendo ser vendidos com prescrição médica. Acontece que, assim como com outros remédios, é possível obtê-los por meio de comércio ilegal e paralelo.
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A ideia por trás do crescente uso dessas pílulas é bem simples: tome um comprimido e tenha resultado rápido. De executivos a profissionais do mercado financeiro, de estudantes de medicina que precisam encarar exames extremamente competitivos e têm de lidar com uma quantidade enorme de informações a vestibulandos que querem ter um bom desempenho no Enem, muita gente tem apelado para esses remédios, medicando-se por contra própria e aumentando as doses sem qualquer orientação.
Um estudo recente, porém, publicado há poucos meses na revista Science Advances, descobriu que longe de turbinar a performance cognitiva, o resultado do uso dessas pílulas saiu pela culatra, ou seja, elas parecem piorar a situação de quem as usa: o esforço parece realmente aumentar, mas a produtividade – qualidade do esforço despendido na execução de uma tarefa complexa (parecida com as quais nos deparamos no dia a dia) – diminui.
Mais do que isso, esses medicamentos causam dependência, especialmente a psicológica. O usuário passa a não acreditar mais que é capaz de performar, a não ser com o uso do comprimido. Quando é privado dele, tem crise de abstinência, perda de memória, atenção, raciocínio, porque o cérebro fica totalmente desacostumado de funcionar sem esse estímulo.
O uso de drogas para aumentar a performance é um sintoma típico de nosso tempo: pressão no trabalho, insegurança no emprego, medo da automatização, da chegada da inteligência artificial e de ficar para trás frente à quantidade infinita de informações novas com as quais temos de lidar no dia a dia. Tudo isso tem levado muita gente a querer buscar uma vantagem, mas há meios mais efetivos, saudáveis e inteligentes de encarar esses desafios que se entupindo de remédios e arriscando a saúde.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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