Recentemente, um jornal noticiou que muitos empresários já estão tendo de enfrentar a dependência de jogos de seus colaboradores. Endividados, empregados têm pedido adiantamento de salário, de férias e de 13o para saldar dívidas e até mesmo conseguir encarar as contas domésticas.
As plataformas de apostas online, conhecidas como bets, são hoje uma questão que nós, profissionais da saúde mental, temos de lidar no dia a dia, porque, com a proliferação de sites e de aplicativos, todos nós, em tese, levamos um minicassino em nossas mãos. Para muita gente, fica maior a tentação de apostar e ganhar um dinheiro fácil, já que basta tirar o celular do bolso para fazer isso.
Leia também
E para alguns, a facilidade de acesso a essas plataformas, que fornecem resultados instantâneos, logo se transforma em dependência. Todas as semanas, recebo ao menos um paciente em minha clínica buscando ajuda para se livrar desse vício.
Diferentemente da dependência do álcool ou de drogas, a compulsão por jogos e apostas por vezes dá a falsa sensação de que a pessoa tem o controle da situação, porque ela eventualmente ganha uma ou outra vez. Só que não. O ganho não é sorte, mas um estímulo para que essa pessoa volte a apostar. Por isso, a dependência é mais difícil de tratar.
Como lidar com isso no ambiente de trabalho? Alguns sinais servem de alerta para os gestores e para colegas. Desconfie de vício em apostas se um colaborador começa a faltar ou chegar atrasado a compromissos, está sempre muito ansioso, preocupado ou deprimido, pega o celular o tempo todo para “ver” algo, reclama de dívidas ou pede dinheiro emprestado para colegas ou líderes, dá sinais de mudanças de humor, muitas vezes relacionadas a sequências de vitórias e derrotas, ou passa a receber contas de cartão de crédito no trabalho e não em casa.
O desespero de estar afundado em dívidas pode eventualmente levar o colaborador até mesmo a cometer fraude ou peculato.
As organizações podem não só criar uma política para apostas online na empresa, mas também bloquear o acesso a essas plataformas pelo computador. Outra boa ação – e que vale para outras circunstâncias da vida – é fornecer aconselhamento financeiro.
Seja atencioso e procure não julgar se um colega ou liderado seu confessar estar envolvido de forma não saudável com as bets. A dependência de jogos é um transtorno psiquiátrico que merece a solidariedade e o apoio de quem está no entorno da pessoa que convive com o problema.
Escolhas do editor
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.