Imagine, por exemplo, que você está trocando mensagens com um amigo, e ele te convida para um café amanhã de manhã. Agora, imagine também que amanhã era o dia em que você planejou ter um tempo só seu — sem compromissos, sem pessoas, apenas um dia para você. Você recusaria ou aceitaria o convite?
Se aceitasse, mesmo contrariado, você certamente não seria o único. Na verdade, 77% das pessoas temem recusar convites simplesmente por preocupação com possíveis repercussões negativas — de acordo com um estudo publicado em setembro de 2024 no Journal of Personality and Social Psychology. Mas os resultados do estudo sugerem que esse medo pode ser, em grande parte, infundado.
Veja por que, de acordo com pesquisas psicológicas, dizer “não” não é algo de que se deva ter medo.
Lidando com a rejeição
Os autores principais do estudo, Julian Givi e Colleen Kirk, procuraram entender por que tantas pessoas hesitam em recusar convites. Eles formularam a hipótese de que, provavelmente, “os convidados — aqueles que são chamados por alguém para fazer algo — superestimam o quão negativamente os anfitriões — aqueles que fazem o convite — reagem à rejeição dos convites”.
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Para testar essa hipótese, eles conduziram cinco experimentos separados. No primeiro, os participantes foram convidados a imaginar que estavam convidando alguém ou sendo convidados para uma visita a um museu. Em seguida, foram orientados a imaginar as consequências negativas de recusar o convite — ou ter seu convite recusado.
Enquanto o primeiro estudo era puramente hipotético, o segundo envolveu rejeições na vida real. Parceiros românticos foram designados como anfitriões ou convidados. Os anfitriões deveriam convidar o parceiro para fazer algo com eles, e os convidados foram instruídos a recusar a oferta, dizendo algo como “Eu só quero ficar em casa e relaxar”.
Os terceiro, quarto e quinto estudos simularam condições semelhantes, mas com algumas variações — os participantes foram convidados a imaginar seus amigos da vida real, foram incluídos observadores, e os papéis de anfitrião e convidado foram alternados. Após cada experimento, Givi e Kirk analisaram as discrepâncias entre o que os participantes imaginavam que seriam as consequências negativas de rejeitar o convite e a realidade.
Por Que Hesitamos em Recusar Convites
Em termos de medo, Givi e Kirk sugeriram várias razões para explicar por que temos tanto receio de dizer “não” aos outros — todas elas refletidas nos resultados de suas pesquisas. Essas razões incluem:
- Medo de que o anfitrião fique com raiva. Muitas vezes nos preocupamos que as pessoas fiquem ressentidas por termos recusado um convite — seja porque elas se esforçaram para organizá-lo ou simplesmente porque se sentiram magoadas pela rejeição.
- Medo de que o anfitrião ache que pensamos menos delas. Outro receio comum é que amigos ou familiares assumam que não nos importamos com eles se recusarmos o convite. Embora quase nunca seja o caso, isso ainda pode nos impedir de dizer “não”.
- Medo de não ser convidado novamente. Podemos até temer que recusar uma vez possa estragar nossas chances de sermos convidados para algo divertido no futuro. É um pensamento catastrófico, mas também intuitivo; não queremos ser vistos como a pessoa que nunca está disponível e, em troca, nos tornarmos a pessoa que nunca é convidada.
Como Givi e Kirk explicam em seu estudo, “perguntas como essas passam pela nossa cabeça, tornando desafiador recusar convites.” Eles continuam: “Em alguns casos, acabamos até aceitando convites que preferiríamos recusar, devido a essas preocupações.” No entanto, os resultados de seus cinco experimentos sugerem que esses medos têm pouca ou nenhuma base na realidade.
Por Que Não Há Motivo Para Temer Dizer “Não”
Em todos os cinco estudos, um resultado consistente emergiu: superestimamos significativamente o quão negativamente os anfitriões reagirão quando dizemos “não”. Em outras palavras, estamos muito mais preocupados em recusar convites do que as pessoas estão em receber um “não”. Essa tendência de pensar demais é algo de que muitos de nós somos culpados — até mesmo os próprios pesquisadores.
Em uma entrevista ao PsyPost, Givi compartilhou uma experiência pessoal que despertou seu interesse pela pesquisa: “Fui convidado para um casamento que seria um pouco complicado de comparecer (era longe e minha parceira não poderia ir).” Apesar de suas hesitações, ele foi, porque estava preocupado que o casal ficasse chateado se ele não fosse. “Me perguntei se eu estava exagerando o quanto eles ficariam chateados por eu não comparecer”, admtiu. Sua pesquisa confirmou que sim, era exagero sua perpecepção (assim como a nossa) do impacto potencial de sua decisão.
Givi e Kirk atribuem essa superestimação dos resultados negativos a um viés cognitivo — mais especificamente, à tendência de darmos mais peso ao nosso próprio pensamento exagerado do que aos reais pensamentos dos outros. Muitas vezes nos preocupamos que o anfitrião se concentre no fato de termos dito “não”, quando, na verdade, é muito mais provável que eles se concentrem nas razões pelas quais recusamos — e não na rejeição em si.
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Esses achados oferecem esperança para aqueles que se sentem compeliados a agradar as pessoas. Como Givi explica, “Os anfitriões são mais compreensivos do que imaginamos.” Em outras palavras, é perfeitamente aceitável dizer “não” de vez em quando — especialmente quando você precisa priorizar a si mesmo.
Afinal, se você fosse o anfitrião, provavelmente entenderia se alguém recusasse seu convite. Então, por que não estender essa mesma compreensão a você mesmo?
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.