Hoje em dia, as feiras de rua diminuíram muito de tamanho, mas houve uma época em que elas eram efervescentes. Imagine que estivesse passeando por uma dessas feiras dos tempos áureos. Você provavelmente ficaria tonto com tanta gritaria vinda de cada um dos feirantes que, cada qual com sua frase mais engraçada e chamativa, tentava atrair a sua atenção para a barraca e os produtos dele. Para onde olhar? Onde comprar?
É isso o que estamos vivendo nessa era dominada pelas redes sociais. Todo mundo – de pessoa comum a empresa – disputa a nossa atenção. O objetivo é o mesmo dos feirantes: monetizar. Não por acaso foi cunhado o termo economia da atenção.
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Dada que a nossa atenção é limitada, a experiência digital tem de ser o mais atraente e o mais viciante possível. São tantos vídeos coloridos incríveis (atenção: muitos deles agora feitos com IA; portanto, as experiências mostradas ali não são reais), que somos sugados por esse redemoinho de conteúdo, ao ponto de, por vezes, perdermos a noção de quanto tempo passamos ali.
Como isso afeta a nossa saúde mental?
1. O foco fica reduzido: a proliferação dos conteúdos feitos para chamar a nossa atenção pode “sequestrar” os processos de atenção seletiva do cérebro. O resultado é a redução do foco e a atenção fragmentada. Os jovens são especialmente afetados por isso, com grande comprometimento na performance escolar.
2. Podemos ficar viciados: a economia da atenção explora o sistema de recompensa do cérebro, que leva à liberação do chamado hormônio da felicidade (a dopamina). Isso acaba por criar um ciclo vicioso, em que passamos a buscar mais e mais estímulos para nos deixar bem, algo parecido com o que acontece com os dependentes químicos. A única maneira de quebrar esse padrão é fazendo o que o hamster faz: parar de correr na rodinha. No nosso caso, reduzir ou mesmo parar de fazer tanto uso das telas.
3. Dificuldade para dormir e sono picotado: problemas com o sono podem ter grande impacto na nossa capacidade de nos mantermos atentos. Mas o contrário também vale. Problemas com a nossa atenção podem afetar a qualidade do sono. Podemos ter desde mais dificuldade para dormir, como sono picotado, até o que chamamos de insônia
terminal, ou seja, despertamos de madrugada e não conseguimos mais voltar a descansar.
Mais e mais tem se falado sobre a importância de fazer um detox digital de tempos em tempos. Procure aproveitar os seus momentos de lazer para ficar realmente desconectado. A vida acontece fora das telas.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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