![](https://forbes.com.br/wp-content/uploads/2025/02/saude-mental-freelancer-768x512.jpg)
O mercado de freelancers e autônomos no Brasil tem um tamanho considerável. Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad), publicada pelo IBGE, mostravam que em 2023 o Brasil tinha mais de 25,7 milhões de trabalhadores autônomos, número 4,7% maior do que em relação ao ano anterior. O freelancer é um tipo de trabalhador autônomo, só que presta serviços esporádicos.
Dado que o autônomo e o freelancer tem apenas a si mesmo para contar; ou seja, se ele não trabalha, não recebe, como isso afeta a saúde mental desse tipo de profissional?
Leia também
Um dado da IPSE (sigla em português para Associação Internacional de Profissionais Autônomos) ajuda a revelar o tamanho desse impacto: 1 em cada 3 freelancers entrevistados se diz muito estressado e 32%, ansiosos ou deprimidos. Um outro estudo, esse de 2018, mostrava que a frequência de depressão era maior em pessoas que trabalhavam no modelo autônomo do que naquelas que eram empregadas no modelo tradicional.
Outra coisa que chama a atenção é que 45% dos freelancers dizem não ter considerado sua saúde mental antes de fazerem o salto para esse modelo de trabalho, e mais de 60% constataram que saúde mental ruim teve impacto negativo na capacidade de trabalho, de acordo com a Leapers, organização que trabalha para dar suporte a autônomos.
Se por um lado a vontade de perseguir flexibilidade e autonomia leva muitos autônomos a experimentar sentimentos positivos e confiança, por outro lado as demandas que fazem parte desse tipo de modelo de trabalho podem induzir sentimentos negativos, sensação de desamparo e de falta de controle.
Por isso, é tão importante a esses profissionais que deem atenção redobrada a sua saúde mental. Eis as minhas dicas para criar a sua política pessoal de saúde mental.
1. Imponha limites
O trabalho freelancer e autônomo tem a grande vantagem de permitir que o trabalhador organize a sua rotina do dia a dia, que organize o seu tempo. Mas isso pode afetar a saúde mental.
Não é porque há bem mais flexibilidade que você deve esticar essas fronteiras. Saúde mental pede limites. É preciso saber dizer a si mesmo “é hora de parar e descansar”.
2. Vida pessoal e ocupacional devem permanecer em caixinhas diferentes
Muitos freelancers que trabalham em casa dão-se a permissão de trabalhar de pijama, por exemplo. Este é um dos exemplos que nos ajudam a ver como vida pessoal e profissional podem misturar-se sem que sequer percebamos.
Como a separação entre espaço de trabalho e espaço de vida praticamente desaparece, no caso de você trabalhar em casa, enfrenta-se um risco maior de levar o estresse relacionado ao trabalho para a vida privada.
Organize um espaço em sua casa que possa ser o seu local de trabalho e que esse lugar seja usado exclusivamente para isso. Se possível, ocupe essa área apenas quando for trabalhar. Ao fazer isso, você sentirá que a sua rotina se dá de forma regular. E isso é um aspecto importante de cuidado com a saúde mental.
Procure deixar a sua mesa de trabalho organizada. É mais difícil pensar e produzir algo criativo em um espaço bagunçado.
Hoje, existem muitos ambientes de coworking que contribuem enormemente para que você consiga essa separação física entre o pessoal e o corporativo.
3. Estruture o seu dia
Num emprego tradicional, você tem hora para entrar e para sair; assim como um horário de almoço. Imprima esse mesmo ritmo. Você terá mais liberdade para estabelecer qual é o horário de início e fim da sua jornada de trabalho, mas é importante que você estabeleça esse início e esse fim.
O mesmo vale para pausas regulares e para a hora do almoço. Esses intervalos são essenciais para que consiga dar um respiro ao longo do dia.
4. Planeje-se financeiramente
O fato de o trabalho freelancer ser esporádico torna mais desafiador administrar as finanças pessoais. Esta é, inclusive, uma das principais preocupações dos autônomos, segundo da organização Mental Health at Work.
Procure guardar algum dinheiro mensal, nem que seja um valor pequeno, para um momento de maior necessidade. Reveja as suas entradas e saídas. Um diário ou aplicativo pode ajudá-lo a manejar isso.
5. Exercite-se
Não ha saúde mental sem saúde física. Investir em uma rotina de exercícios (vale qualquer um) vai manter a sua cabeça funcionando bem.
Ao longo da sua rotina de trabalho, faça pausas para dar uma alongada e uma esticada nas pernas.
Colocar você como um item da sua lista de tarefas diária é não esquecer de priorizar-se.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.