A revista Forbes Brasil listou 20 das mulheres mais poderosas do Brasil em 2020 e entrevistou e fotografou cada uma delas. A seleção conta com empresárias, executivas, gestoras, artistas, chef, jornalista, empreendedora social, que contaram suas histórias inspiradoras.
Destaque para Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, que posou para a Forbes Brasil três dias antes de dar à luz a segunda filha, Bella. “Eu consegui gerar um impacto bastante positivo por causa do meu inconformismo e da minha vontade de encontrar soluções, sem me importar com o grau de dificuldade da situação”, afirma.
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Veja, na galeria de fotos abaixo, quem são as 20 mulheres de destaque em atividade no país em diversos setores – da música à administração pública:
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Forbes Cristina Junqueira
Cofundadora do Nubank
A cofundadora do fenômeno Nubank (maior banco digital do mundo com mais de 20 milhões de clientes) sempre carregou o impulso visceral de estar à frente. Nos passeios com a família no Rio de Janeiro, a pequena Cristina Junqueira gostava de se embrenhar entre as multidões e ir atrás do que chamasse sua atenção, sem nunca perder a mãe de vista. “Fazer as coisas de forma independente e querer explorar a próxima coisa sempre foram características minhas”, contou Cristina à Forbes, quatro dias antes de dar à luz sua segunda filha, Bella.
Ainda na infância, imbuída dessa vontade de buscar espaços diferentes, Cristina visitou a Universidade de São Paulo (USP) pela primeira vez, e decidiu que, um dia, estudaria lá.
Anos mais tarde, na primeira guinada de sua vida, trancou o curso de jornalismo no Rio e decidiu abraçar a engenharia industrial na concorrida Escola Politécnica da USP. “Sempre gostei de escrever [Cristina chegou a publicar um livro de receitas, em 2015, em homenagem à avó], mas queria expandir minhas possibilidades”, explica a executiva.
A carreira em serviços financeiros foi outra virada improvável, porém certeira: Cristina entrou nos trilhos que a levariam à liderança do que hoje é uma das startups mais valiosas do mundo, de acordo com a análise da CB Insights. A jornada anterior ao Nubank trouxe desafios enfrentados por muitas executivas, como o machismo e a cultura de indiferença às necessidades de consumidores. “Eu me sinto confortável em dizer que consegui gerar um impacto bastante positivo por causa do meu inconformismo e da minha vontade de encontrar soluções, sem me importar com o grau de dificuldade da situação”, reflete, ressaltando o poder e a capacidade de mudança trazidos pela fintech que ajudou a gestar. “Nos últimos sete anos, vemos o nível de influência que o Nubank – e eu faço parte disso – exerce no mercado: conseguimos o inimaginável, que é criar um produto financeiro sem tarifa que clientes usam e gostam.”
Por outro lado, criar e liderar uma empresa que vale US$ 10 bilhões e não para de crescer (a startup projeta um crescimento de 15% para sua força de trabalho de 2.500 pessoas em 2020) requer um empenho descomunal. “Essa jornada tem sido muito intensa, de muita doação. Mas é impossível atingir um resultado extraordinário sem um comprometimento proporcional.”
O equilíbrio
A empreendedora, que admite ter “uma vida social bem abaixo da média”, lembra que foi trabalhando a caminho da maternidade e logo após o nascimento de sua primeira filha, Alice, hoje com 7 anos. Desde aquela época, no entanto, algumas coisas mudaram. Agora, Cristina busca equacionar o alto custo pessoal da dedicação ao negócio. “Sucesso não se trata só de trabalho e carreira. Temos que considerar que somos cidadãs, irmãs, filhas, esposas, mães. É saudável buscar o equilíbrio entre esses tantos papéis que precisamos gerenciar.” Ela esteve presente na criação da filha, mesmo com suas muitas atribuições, e desenvolveu um forte discurso de que empresas devem possibilitar que mulheres avancem com suas carreiras ao mesmo tempo que investem em projetos pessoais, como a constituição da família. No alto escalão do Nubank, 43% são mulheres, e a meta é aumentar essa proporção.
Por mais que Cristina desfrute hoje de um grau maior de liberdade, conciliar trabalho e maternidade segue sendo uma tarefa complexa. Isso ficou evidente, na prática, durante os preparativos para a chegada de Bella, que nasceu na capital paulistana quatro dias após o ensaio de capa desta edição, em 28 de janeiro, com 51,5 cm e 3,680 kg.
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Fernanda Simão Cristina Junqueira
O detalhado plano de licença-maternidade de Cristina foi pensado com seus sócios (o fundador e CEO do Nubank, David Vélez, e o cofundador e CTO, Edward Wible) e levou em conta a continuidade das grandes iniciativas da fintech, bem como a rotina da cofundadora, que continuará na liderança da organização após sua volta, estimada para abril. Há que se considerar, no entanto, que startups como o Nubank avançam rápido, e há um limite sobre o que é possível prever para os próximos meses e anos. “Mulheres que estão se programando para essa etapa de suas carreiras costumam ter uma noção mais definida do que vai acontecer nas organizações onde trabalham – eu tenho ‘zero’ de previsibilidade”, compara.
Em sua nova fase de vida, Cristina encara essa ambiguidade de forma positiva, sem tentar controlar os detalhes do que o futuro reserva. “Não tenho dúvidas de que a empresa vai mudar para melhor”, adianta. “Vou focar, nesse tempo, em minha família, e estou confiante de que, no meu retorno, encontrarei o Nubank melhor e com espaço para que eu continue contribuindo e agregando valor.”
Pensando no mundo profissional que almeja para Alice e Bella, a fundadora quer continuar tendo um papel importante na mudança em como empresas geram e mantêm oportunidades para mulheres. “Mostramos que é possível fazer muita coisa diferente, e espero seguir usando a influência que tive o privilégio de conquistar para levar esse exemplo a outros negócios e setores. Sem contar a mensagem de que é crucial ter ambientes profissionais onde as pessoas podem ser elas mesmas.” (AM)
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Victor Affaro Adriana Barbosa
Empreendedora social
Ao começar a Feira Preta, em 2002, ela tinha R$ 3 mil de patrocínio no bolso e a lembrança do espírito empreendedor da bisavó na cabeça. Dezoito anos depois, a feira é o maior festival de cultura negra da América Latina: em sua última edição, segundo a organização, recebeu mais de 40 mil visitantes e teve circulação monetária superior a R$ 1,5 milhão.
Quando precisou aumentar a renda da família, a bisavó de Adriana vendeu coxinhas e montou um restaurante informal em casa. Já a bisneta, ao se ver sem emprego, abriu um brechó itinerante com as próprias roupas. Participava de feiras e frequentava o cenário da black music na Vila Madalena, em São Paulo, quando teve o insight que a levou a criar a Feira Preta com a amiga Deise Moyses. “Percebi que a maioria das produções artísticas saía das mãos de jovens negros, mas nenhum deles era de fato protagonista”, diz. “No final da noite, quem contava o dinheiro eram os homens brancos. Tivemos então a ideia de criar um evento para dar visibilidade às potências de artistas e empreendedores negros.”
A primeira edição reuniu 40 empreendedores e mais de 5 mil pessoas na praça Benedito Calixto. Teve apoio da Unilever, que estava lançando um sabonete dedicado à pele negra. “Perguntaram se já tínhamos feito isso antes, e eu disse que não, mas que eles também não tinham experiência de lançar produtos segmentados para a população negra. Era uma oportunidade de aprendermos juntos.”
O aprendizado aconteceu no evento e fora dele. Adriana cursou gestão de eventos na Universidade Anhembi-Morumbi, com especialização em gestão cultural pela USP. Passou por aceleradoras de negócios sociais, como a Artemisia, que investiu R$ 40 mil na Feira Preta. Participou do programa 10.000 Mulheres da Goldman Sachs, oferecido pela Fundação Getulio Vargas, e do Global Women’s Leadership Network da Santa Clara University (EUA).
Em 2016, quando completaria 15 anos de feira, a empreendedora sentiu que era hora de comemorar. Para a edição de aniversário, trocou o Anhembi por um novo espaço, o Centro de Exposições ProMagno. Com custos mais altos, precisaria de pelo menos 12 mil visitantes pagantes. Vieram menos de 5 mil.
Adriana estava endividada e pensando em desistir quando, em 2017, foi avisada de que figurava entre os 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo na lista montada pela organização Mipad (Most Influential People of African Descent). Foi a Nova York receber a homenagem, junto de Taís Araujo e Lázaro Ramos. E resolveu reformular a feira, transformando-a no Festival Feira Preta. “Em 2019, foram mais de 50 atrações nacionais e internacionais ao longo de 30 dias.” Hoje, o festival faz parte da plataforma Pretahub, que inclui outras iniciativas, como o programa de aceleração Afrohub. Em março, deve inaugurar a Casa Pretahub, um espaço de economia colaborativa no centro de São Paulo. (MW)
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Forbes Andrea Marques de Almeida
Diretora de finanças e relações com investidores da Petrobras
As conquistas na vida pressupõem, em primeiro lugar, a coragem de fazer escolhas difíceis. Após 25 anos de uma carreira consolidada em uma das maiores companhias brasileiras, a Vale, Andrea Marques de Almeida aceitou o desafio de ingressar na maior empresa estatal brasileira com a reputação já desgastada por escândalos de corrupção: a Petrobras.
Em visita à Forbes, em São Paulo, a executiva, que vive no Rio de Janeiro, contou sua história. Logo no início da conversa, é possível ver por que a engenheira de produção formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, filha de portugueses donos de uma lavanderia, foi tão longe. Sua principal estratégia é a valorização da equipe. “Tudo que você vai fazer na vida, se quiser que dê certo, tem que buscar as pessoas para fazer parte dessa construção.”
Andrea começou na Vale como estagiária e, só depois de dez anos, conquistou um cargo de gerência. Mesmo com as demandas da empresa e da criação do filho único, ela buscou sólida capacitação com um MBA em finanças no Ibmec-RJ e especializações em Gestão pela Universidade de São Paulo, Wharton School of Finance e Sloan School of Management do MIT. Na mineradora, a executiva assumiu postos-chave nas áreas de finanças corporativas, tesouraria global e gerenciamento de risco.
No início de 2019, convidada pelo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, Andrea deixava a Vale logo após a tragédia do rompimento da barragem em Brumadinho (MG) e ingressava na estatal para uma outra gestão de crise: o resgate da confiança de investidores após o esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato – e um rombo estimado pela própria companhia de R$ 6,2 bilhões. “Foi uma decisão muito difícil. Eu estava acompanhando o futuro que estava se construindo para a Petrobras e pensei que poderia ajudar mais do que na Vale.”
O balanço do terceiro trimestre de 2019 mostrou que as mudanças na Petrobras vinham surtindo efeito. A companhia registrou um lucro líquido de R$ 9,087 bilhões, 36,8% maior que no mesmo período de 2018. Na apresentação dos resultados, Andrea inovou ao gravar vídeos em português e inglês. “A gente precisa dizer aquilo que acredita de fato que vai entregar e isso era uma deficiência muito grande da empresa no passado.”
As conquistas levaram Andrea a ser a única brasileira entre as 100 mulheres mais poderosas do mundo eleitas pela Forbes USA, em 2019, ocupando a 77ª posição. A revista “Fortune” também elegeu a executiva como uma das 50 mulheres mais poderosas do mundo. “Quando você traz ideias e as pessoas querem fazer, você constrói um poder que ninguém te segura. A conquista não é minha. A conquista é nossa.” (LM)
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Victor Affaro Anitta
Cantora, compositora e empresária
Foi justamente cantando sobre as poderosas que Anitta se tornou conhecida em todo o Brasil em 2013, atingindo um público muito além dos bailes funk cariocas. Menos de dez anos depois, acumula bilhões de streams nas plataformas digitais, parcerias com nomes de peso da música como Madonna, Pharrell Williams e Snoop Dogg – além do fato de que tudo que toca vira ouro, tornando-se a grande musa da publicidade.
Anitta logo percebeu que podia conquistar muito mais na carreira. Decidiu arriscar e cuidar do próprio negócio ao lado do irmão mais velho, Renan. Na bagagem, a experiência que conquistou em um estágio na Vale e em um curso técnico de administração. Com letras que grudam na cabeça, muita coreografia e rebolado, tornou-se uma empresária de sucesso. Na tentativa e erro, almejando alto e investindo seu tempo e dinheiro, trouxe inovação estratégica e criativa para a música brasileira e reergueu uma cena pop adormecida. Nesse cenário, precisou aprender a se dividir entre a Anitta que sobe aos palcos e a Anitta que toma as decisões e assina os contratos. “Uma sempre julga a outra para ver até que ponto a parte criativa e artística não vai prejudicar a parte burocrática e vice-versa”, conta.
Com a fama e o sucesso, veio a superexposição. Sua vida pessoal é pauta dos grandes portais, e o público acompanha seu dia a dia nas publicações do Instagram, onde tem mais de 44 milhões de seguidores e compartilha quase tudo, do trabalho aos momentos de lazer. E com a exposição, a fama e o sucesso, vieram as críticas. “O que mais aprendi foi a não fingir um personagem que você não é, ser o mais autêntico possível e não cair em contradição sobre você, seu produto, sua marca. Também tenho em mente que comecei ainda adolescente. Quando o público passou a enxergar que não tem problema admitir os erros da carreira, ele viu autenticidade e verdade.”
Graças às conquistas e aos números, Anitta superou o estereótipo de funkeira da comunidade e passou a ser convidada para dar palestras para empreendedores e falar sobre marketing e estratégias de negócios, inclusive em Harvard.É difícil fugir da presença de Anitta. Além da música e do forte engajamento nas redes sociais, ela é a garota-propaganda da Claro, da Samsung, da Adidas e da Rexona, é embaixadora do Tinder e ainda assumiu como head de criatividade e inovação na Ambev, criando produtos para a Skol Beats. É nesse caminho que pretende seguir no futuro, menos nos palcos e mais nos bastidores. “Não tenho vontade de levar a profissão de cantora como faço hoje por muito tempo. Não é fácil, é cansativo, exige muito de você. Minha intenção é diminuir o ritmo e trabalhar com marcas, criar produtos e eventos. Me divirto, me descubro e tira um pouco o peso de precisar estar sempre presente”. (RS)
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Victor Affaro Camila Coutinho
Influenciadora digital e empresária
Dois dias antes de desembarcar em Palo Alto, no Texas, a empresária e criadora de conteúdo Camila Coutinho descartou todo o texto que tinha feito para apresentar no palco do TEDx no ano passado. O tema da palestra era independência feminina e, mesmo com todas as conquistas no currículo, os milhões de seguidores nas redes sociais (cerca de 4 milhões só no Instagram) e tendo conquistado a independência financeira comandando o site ‘Garotas Estúpidas” aos 21 anos, Camila recorreu ao pai. Ela o questionou se mulheres independentes sofrem mais por fazer escolhas. “Não exija que a sociedade evolua na mesma velocidade que você”, respondeu Marcelo.
E essa é uma lição que parece se repetir ao longo da vida de Camila. Quando começou o site, ainda repercutindo fofocas de famosos como brincadeira para amigas, ela percebeu que aquilo poderia se tornar um negócio lucrativo. Nem faz tanto tempo assim. O GE completa 14 anos em 2020, mas a internet era muito diferente e nem sonhávamos com os influenciadores digitais e o boom do YouTube. “Fui educando o mercado a fazer o que achava que podia dar certo. Sempre enxerguei o blog como um veículo, vendia mídia, visitava agências de publicidade, criei oportunidades”, relembra.
Camila afirma que o apoio da família foi fundamental para que tivesse o autoconhecimento e a autoestima suficientes para tocar as ideias e investir cada vez mais no negócio virtual, que mesmo após mais de uma década segue crescendo. No ano passado, quando passou por uma reformulação, o “Garotas Estúpidas” apresentou crescimento comercial de 600% .
Hoje, com a crescente democratização das redes e a facilidade de produzir conteúdo e viralizar, ela aposta em individualidade e humildade. “O mercado Influenciadora digital e empresária se horizontalizou. É essencial termos consciência de que não sabemos tudo e termos a humildade de entender novos fenômenos. Mas só há um de você. Quando se enxerga a individualidade como um recurso, não há como perder.”
Foi acreditando nisso que, aos poucos, ela separou a Camila do “Garotas Estúpidas”, preservando a vida pessoal e focando em comunicar valores aos leitores. “Estamos entrando em outro nível de maturidade ao lidar com a internet. Deixou de ser pura exposição. Quero cuidar da minha comunidade mais do que crescer em números. Não queria mais que fosse sobre mim, mas que se tornasse um veículo com representatividade e informação útil.”
Camila tocou a reformulação completa do GE, que perdeu a cara de blog, passou a produzir conteúdo próprio e chega até a fechar nos fins de semana, para que os leitores possam se desligar do digital. Habitué das primeiras filas das principais semanas de moda e embaixadora de grifes como Jean Paul Gaultier, Camila se prepara para ir definitivamente além do digital: ainda este ano vai lançar um produto próprio de beleza. (RS)
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Renato Pizzutto Carolina Ignarra
Cofundadora da Talento Incluir
Sabe quando a força interior de alguém não só representa superação própria, mas também é capaz de mudar outras vidas? A energia de Carolina Ignarra já impulsionou a carreira de mais de 7 mil pessoas com deficiência. A sensibilidade para essa missão já pertencia a ela antes de precisar de uma cadeira de rodas. Ainda cursando a faculdade de educação física, Carolina trabalhava com ginástica laboral.
Recém-formada, aos 21 anos, um grave acidente de moto causou a paraplegia, e foi o apoio da família e dos amigos que a ajudou no resgate da vida social, profissional e afetiva. Um grande amigo tornou-se marido e, logo no início da relação, a mulher determinada tinha planos de maternidade que exigiam pressa, de acordo com a orientação médica. A gestação de sua filha Clara, hoje com 14 anos, aconteceu “muito naturalmente”.
Ainda bebê, a filha foi a inspiração para Carolina reunir todo o conhecimento adquirido antes e depois do acidente e convertê-lo em prestação de serviço para gente que vivia uma realidade semelhante. Ela e a amiga Juliana Ramalho iniciaram projetos de capacitação de pessoas com deficiência dentro de uma empresa onde eram funcionárias até fundarem, em 2008, a própria consultoria, a Talento Incluir.
A missão da empresa vai além de capacitar pessoas com deficiência e encaminhá-las a postos de trabalho previstos por cotas. O trabalho de orientação inclui desde presidentes de companhias até as equipes de recursos humanos. “A diversidade traz resultados. Não se trata de um projeto assistencialista. A gente fala de inclusão produtiva com a consciência de que não são todas as pessoas que podem ir ao mercado de trabalho. Para ingressar numa organização, é necessário ter o perfil”, explica Carolina.
Pela Lei 8.213 de 1991, as empresas com 100 funcionários ou mais são obrigadas a contratar profissionais com deficiência na proporção de 2% a 5% de seu quadro total. Mas, na prática, as corporações têm grande dificuldade de cumprir a lei, tanto em contratar gente qualificada, quanto em reter esses funcionários.
Atualmente, a Talento Incluir, pioneira no segmento no país, atende grandes companhias como IBM, Bradesco, Amazon, Singenta, Mercado Livre, New Holland, John Deere, Boticário, entre outras. Apesar do crescimento, Carolina quer mais. Este ano, prepara-se para ampliar os negócios e, para isso, conta com a mentoria da Ernst & Young. “Já empreguei 7 mil pessoas com deficiência nestes anos, mas tenho certeza de que tenho capacidade e talento para incluir 7 mil por mês.” (LM)
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Victor Affaro Claudia Woods
Diretora geral da Uber
Claudia Woods, 44 anos, é usuária Uber com 4,75 pontos. É também diretora geral da empresa no Brasil. Assumiu a posição em fevereiro de 2019, vinda do Webmotors, site de compra e venda de carros. Diz ter sido atraída pela combinação de negócio jovem – são cinco anos de operação aqui, dez no mundo –, focado em inovação, e ao mesmo tempo robusto, presente em mais de 60 países e mais de 100 cidades brasileiras. “Ele traz o desafio de pensar no futuro até antes de o usuário falar o que quer, mas ao mesmo tempo já é uma empresa superconsolidada nos aspectos de tamanho e estabilidade financeira”, diz. “Reúne as duas coisas que me atraem.”
A experiência da executiva com startups remonta ao fim dos anos 1990. Vivendo nos Estados Unidos, participou da primeira onda digital, ao criar com amigos uma plataforma de comunicação para escolas – e quebrou com a primeira bolha. Voltou a tempo de trabalhar na consolidação do mercado local das empresas de tecnologia (seu primeiro emprego no país foi no portal e provedor de internet iBest) e acompanhar todas as suas fases. Agora Claudia leva toda essa bagagem para a Uber. “Cheguei em uma empresa com sede de inovação e podendo aportar conhecimento – como trazer mais maturidade para os processos, para a gestão, para um melhor aproveitamento do que hoje é nossa escala global.”
Em seu primeiro ano na empresa, atuou na montagem de um centro de tecnologia em São Paulo voltado para desenvolver novas soluções em segurança para o motorista e o usuário — criadas no Brasil, mas com potencial de impacto global. Entre as ferramentas já apresentadas está uma que permite às motoristas mulheres optarem por receber apenas chamadas de usuárias mulheres, sempre ou em determinados horários. “Foi algo importante para atrair mais mulheres motoristas.” O dispositivo integra o projeto “Elas no volante”, que inclui a formação de uma rede de apoio feminina e uma plataforma com cursos de temas como empoderamento financeiro.
Para 2020 em diante, a meta é fazer a empresa manter a taxa de crescimento, penetrando em mais áreas – hoje são mais de 100 cidades, 600 mil motoristas e 22 milhões de usuários no país. Mas não só isso. “Crescer continua sendo um pilar importante, mas agora ela é uma empresa de capital aberto, que tem que ter cada vez mais o olhar voltado para a eficiência.” Neste ano, Claudia também planeja estar mais conectada com o que acontece na empresa em outros lugares do mundo. “Quero aprender com as características específicas de cada país em que a gente opera e conseguir transportar isso para o universo do Brasil”, diz. Há, no entanto, um objetivo mais imediato: “É correr a meia maratona de São Paulo, em abril. Conta como plano de carreira porque é meu momento de meditação, de me preparar para a vida de mãe, esposa e profissional.” (MW)
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Victor Affaro Daniela Cachich
VP de marketing da PepsiCo Foods Brasil
Uma experiência iria marcar para sempre a vida de Daniela, 46 anos. Em 2005, quando trabalhava na empresa Unilever, ela participou da campanha internacional de um sabonete que questionava o conceito da “real beleza” feminina, com todos os estereótipos que recaem sobre a mulher. Na época, uma pesquisa da marca revelou que apenas 4% das mulheres ao redor do mundo se declaravam bonitas, refletindo um altíssimo índice de baixa autoestima. “Então, comecei a me perguntar: o que eu posso fazer em relação a isso? Desde então, quero ser transformadora”, justifica.
Foi com esse propósito que desembarcou em 2010 em um dos principais grupos de cervejas no mundo, a Heineken. A companhia holandesa, que já havia sido duramente criticada por suas campanhas machistas e sexistas, deu um salto importante, em 2016, ao demonstrar que mulher também pode apreciar cerveja e futebol. “Éramos vistas como um pedaço de carne. Não podia ser conivente com isso”, diz. A publicidade criada no Brasil para a Liga dos Campeões da Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) arrebentou nas mídias sociais, recebendo mais de 82 mil compartilhamentos em apenas 16 horas, chamando atenção para as novas diretrizes de marketing encabeçadas por Daniela – que se tornou uma referência na questão de gênero. O reconhecimento de seu esforço veio com dois prêmios Caboré (2014 e 2015) e um novo posicionamento da companhia holandesa, que, durante sua gestão, saiu da 17ª posição para a quarta no ranking de vendas no Brasil.
Os resultados positivos ainda lhe renderam, em 2016, o título de profissional de marketing mais influente entre 20 executivos das 500 maiores empresas no país, o M-List 2017. A projeção fez despertar o interesse de outra multinacional, a PepsiCo, que a convidou a assumir a vice-presidência de marketing. Do mercado, ela ouviu que, se deixasse a cervejaria, iria se arrepender.
Mas Daniela não titubeou. Descendente de sírios e croatas que passaram por guerras, aprendeu desde cedo a ser determinada e não desistir facilmente de suas missões. “A determinação e a resiliência vêm da minha família”, explica. Abraçou o portfólio de 22 marcas e começou a fazer a diferença, com campanhas para públicos diversos e produtos focados nos consumidores LGBT+. O segredo? “É preciso escutar o que a sociedade está dizendo”, ensina a executiva, sempre em sintonia com o seu tempo. (KM)
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Victor Affaro Fernanda Feitosa
Criadora e diretora da SP-Arte
Quando menina, Fernanda Feitosa, 53 anos, gostava de ficar ao lado de um tio pintor enquanto ele trabalhava. Adulta, formou-se em direito e atuou em empresas como J.P. Morgan e Submarino, mas manteve-se conectada ao universo das artes. Colecionava obras, fazia cursos, frequentava museus, galerias e bienais. Até que resolveu transformar o interesse pessoal em foco profissional. Em 2005 organizou a primeira SP-Arte, que se tornaria a maior feira de arte moderna e contemporânea da América Latina e colocaria sua criadora entre os principais nomes da cena artística brasileira.
Em sua última edição, a SP-Arte reuniu cerca de 160 galerias, obras de 2 mil artistas e 36 mil visitantes. Quando surgiu, era menor, mas desde o início Fernanda pensava que precisaria de espaço para crescer e que, se queria consolidar o evento na agenda das artes, deveria se manter sempre nas mesmas datas e no mesmo local. Por isso, analisou as datas de eventos dentro e fora do Brasil, escolheu o mês de abril e, com uma maquete na mão, bateu na porta do Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, propondo-se a alugar o prédio – primeiro uma área menor, para depois expandi-la.
Hoje Fernanda é vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura e Economia Criativa de São Paulo e membro de comitês de instituições como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu Lasar Segall, o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Comitê Latino-americano de Aquisições da Fundação Tate Gallery de Londres.
Quando organizou o evento pela primeira vez, era apenas alguém que acreditava que mais gente da sua geração tinha ou poderia ter interesse em arte. Com essa visão, convenceu os primeiros patrocinadores, Vivo, Itaú (então Unibanco) e Iguatemi, que apoiam o evento até hoje. As galerias nacionais vieram expor e vender suas obras, depois as internacionais, atraídas pelo momento de otimismo em relação à economia do país.
Conforme previsto, veio também o público. Dois anos depois, Fernanda lançou a SP-Foto, evento anual voltado para a fotografia que é realizado no Shopping JK Iguatemi. Quando veio a crise da economia, o mercado para as artes também sentiu, mas a SP-Arte se manteve na trajetória ascendente, com novos desdobramentos. A partir de 2015, abriu espaço também para criadores de design exporem seus trabalhos. “Foi uma feliz estratégia, adotada por muitas feiras internacionais. Quem gosta de arte também gosta de design.”
O desafio hoje é manter o evento jovem como no início. Para isso, a empresária procura visitar eventos similares pelo mundo, contratar pessoas capacitadas e conectadas com o momento e estabelecer uma relação próxima com as galerias. “Não dá para se encastelar e fazer sempre a mesma coisa. É preciso estar sempre se questionando”, diz. “Temos que estar sintonizados com o zeitgeist.” (MW)
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Lu Prezia/Divulgação Joyci Lin
CEO da GO Eyewear
Para ela, uma mulher poderosa é aquela que usa sensibilidade e vulnerabilidade para exercer uma vocação e influenciar as pessoas à sua volta em prol de um mundo melhor. E isso Joyci Lin faz muito bem. Em suas palavras, não há o mínimo resquício de soberba, arrogância ou vaidade. Pelo contrário. Tímida, a CEO da GO Eyewear, empresa brasileira que cria, produz e distribui óculos das grifes mais conceituadas do mundo, conta sua história de vida com gratidão, traçando comparações entre o passado e o presente, achando graça de determinadas situações vividas e sem qualquer mágoa das dificuldades enfrentadas. E os desafios não foram poucos para a garotinha que, em 1983, aos 7 anos, desembarcou no Rio de Janeiro, vinda da China, com a família em busca de uma vida melhor.
Foram meses de burocracia e inúmeras idas a Pequim até que o pai de Joyci – originalmente Ji Xiao Ci (“Ji” significa as quatro estações do ano, “Xiao” quer dizer “pequeno” e “pequeno grão de arroz”; e “Ci” é uma conjugação de misericórdia/compaixão) – conseguisse a documentação necessária para embarcar. Na capital fluminense, a caçula foi matriculada em uma escola pública, sem falar uma única palavra de português. Existiam poucos orientais na cidade. Os demais integrantes da família trabalharam como mascates, vendendo bibelôs de porcelana, maquiagem e espelhos. Aos 11 anos, Joyci passou a trabalhar com eles. Era a cobradora. “As pessoas estranhavam ao ver uma criança chegando a um prédio comercial, sozinha, pedindo para subir”, lembra, rindo.
Pouco depois, a família abriu uma loja de presentes em Copacabana que vendia itens trazidos por pessoas que viajavam para o exterior. Anos mais tarde, Joyci daria seus primeiros passos como empreendedora, em um comércio próprio de bijuterias. Trabalhava de dia e cursava administração à noite. “No comércio, aprendi a conhecer a necessidade do outro. É um exercício de empatia, uma conexão que vivenciei na prática.” Com menos de 30 anos, duas filhas pequenas e pouco tempo para viajar a São Paulo e negociar com os fornecedores, a jovem empreendedora se mudou para a capital paulista. O marido, advogado, recebeu um convite para trabalhar em um escritório – que não se concretizou – e ela havia aceitado uma posição na área de compras da GO. “A empresa era pequena. Aos poucos, fui abraçando outras áreas.” Em 2009, quatro anos e um MBA depois, assumiu o cargo de CEO.
Atualmente, à frente de 600 colaboradores, a inovação é seu principal desafio. “A velocidade com que as coisas acontecem é assustadora. Manter o que já existe é fácil. Difícil é o próximo passo – e, em cinco anos, será tudo diferente. Com a rapidez da informação, os consumidores estão cada vez mais exigentes.” Do ponto de vista da rotina pessoal, ela parou de dirigir após um leve acidente causado pelo uso do celular. Em nome da saúde, abriu agenda para incluir pilates, academia, quiropraxia, meditação e ozonioterapia. Ouve música gospel norte-americana – e já acorda cantando. “Isso melhora o nosso humor, nossa força e energia. É nisso que acredito.” (GA)
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Anselmo Cunha Marcia Barbosa
Doutora em física eleita para a Academia Mundial de Ciências
Ela comparou a sensação de uma descoberta científica a um orgasmo ao receber o prêmio L’Oréal Unesco para Mulheres nas Ciências Físicas, em Sorbonne (Paris), em 2013. A plateia veio abaixo. Essa atitude resume a personalidade de Marcia Cristina Bernardes Barbosa, carioca criada em Canoas (RS), neta de costureira, filha de eletricista, doutora em física, ganhadora de vários outros prêmios – no mais recente, em 2019, foi eleita com outros quatro cientistas brasileiros para a Academia Mundial de Ciências.
O critério para a nomeação da AMC é a pesquisa voltada ao desenvolvimento sustentável e à redução dos danos ao meio ambiente. Além de Marcia, mais duas mulheres integram o grupo: Célia Regina da Silva Garcia, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, indicada pelos estudos sobre o parasita da malária; e Luisa Lina Villa, professora da Faculdade de Medicina da USP, eleita pela pesquisa sobre o HPV que contribuiu para vacinação de homens.
Marcia ingressou no grupo dos mil cientistas mais importantes do mundo por seus 20 anos de estudos sobre a água, mais especificamente, sobre as “anomalias” que a própria Marcia chama de “propriedades malucas” do elemento, que se encontra em situação crítica de escassez e degradação.
Professora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Marcia sabe que chegou ao topo do reconhecimento mundial. No entanto, disse à Forbes que não abre mão de permanecer no país, apesar dos desafios atuais para a pesquisa científica no Brasil. “Já recebi convites para ir embora, mas tenho uma dívida que considero impagável. Fiz todo o meu ensino fundamental, médio, faculdade, mestrado, doutorado, tudo com o dinheiro do povo brasileiro. É muito dinheiro e tenho que devolver isso.”
Com uma agenda dividida entre aulas, congressos internacionais e o cuidado com os pais, a cientista ainda tira dúvidas de gente simples, como agricultores. A intensa maratona profissional moldou o relacionamento dela com o administrador Jorge Luiz Castro: há 15 anos, o casal se encontra apenas nos fins de semana. Ele compreendeu a importância do tempo que a mulher dedica a uma questão vital para a humanidade.
Marcia conta que, agora, o desafio é manter seus alunos no Brasil. Com eles, corre contra o tempo em busca de um método de baixo custo para dessalinizar a água do mar (uma das principais alternativas para aumentar a oferta de água no mundo). “À medida que a escassez crescer, o caro fica barato e a tecnologia avança. É um tema muito atual, e a gente vai ter que trazer soluções em todas as escalas.” (LM)
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Anderson Marques Maria Cristina Peduzzi
Presidente do Tribunal Superior do Trabalho
Filha única em uma família de classe média de Bagé (RS), aos 14 anos ela anunciou aos pais que queria ir para a capital estudar e entrar na universidade federal. E foi mesmo, sozinha, sem influência de parentes ou conhecidos na área de direito. Deixou a UFRGS no meio do curso e seguiu para o Distrito Federal por causa do primeiro casamento – e concluiu o curso na Universidade de Brasília.
Na UnB, Maria Cristina fez cursos de especialização e mestrado em direito constitucional. Começou a dar aulas. Foi então convidada por um professor para trabalhar em um escritório de advocacia. Ficou lá um tempo e, por fim, montou o próprio escritório. Tudo isso aos 32 anos de idade. Em 1982, ingressou no Ministério Público como procuradora da República por um curto período, até pedir exoneração. Continuou atuando como advogada, função que exerceu por 27 anos. “O grande concurso que fiz na vida foi obter sucesso como advogada. É um concurso que você tem que se habilitar todos os dias”, afirma.
A experiência foi fundamental para a aprovação, em 2000, no primeiro concurso da Ordem dos Advogados do Brasil para o Tribunal Superior do Trabalho após a Constituição de 1988. Antes, durante o regime militar, os cargos nos tribunais eram preenchidos por nomeações do presidente do país. Desde então, são 19 anos no TST – que, agora, incluem um marco na carreira da magistrada: a eleição para a presidência. Maria Cristina Peduzzi será a primeira mulher a ocupar o cargo na única instituição de instância superior da Justiça brasileira que até hoje só havia sido presidida por homens.
Mãe de um filho e avó de dois netos, católica praticante e adepta do pilates, Maria Cristina contou sua trajetória à Forbes por telefone direto de seu gabinete, frequentado regularmente mesmo durante o período de recesso no tribunal. Nos próximos dois anos à frente do TST, ela terá grandes desafios em um momento de muitas mudanças nas relações de trabalho no Brasil e no mundo. Também quer seguir em defesa da prevenção do litígio, ou seja, do incentivo à conciliação entre as partes nas ações judiciais. Outra bandeira da ministra é o compromisso de juízes exclusivamente com o cumprimento da lei e dos precedentes na justiça, sempre em respeito às decisões dos legisladores eleitos pela população. “Chegou a hora de retribuir à sociedade aquilo que ela me deu: a confiança e a distinção de integrar um tribunal superior e o Poder Judiciário do país.” (LM)
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Victor Affaro Marina Kaufman
Empresária e diretora de marketing da Vivara
Desde os mais antigos registros arqueológicos, há provas de que desde sempre homens e mulheres buscam se embelezar com pinturas, roupas e acessórios. Com o tempo, presentear os mais queridos com joias em datas comemorativas se tornou uma tradição. A partir de 1962, quando foi fundada pelo ourives romeno David Kaufman, no centro de São Paulo, a joalheria Vivara passou a conquistar os brasileiros com suas peças únicas. Neta de David e filha de Nelson, responsável pela expansão da marca como conhecemos hoje, Marina Kaufman iniciou na empresa da família como vendedora, enquanto ainda estava na faculdade. Ela passou por três lojas da rede para poder entender melhor os diferentes perfis que consumiam a marca.
“Senti vontade de trabalhar bem cedo. Tive muita sorte de o negócio da família ser o que sempre gostei. Nunca cogitei trabalhar em outro lugar”, garante. Marina é a diretora de marketing da Vivara, cargo que assumiu muito jovem após ganhar a confiança e receber incentivos de seus líderes. “Sou filha de um empreendedor que sempre acreditou nas mulheres. Ainda criança, visitava as lojas com meu pai, gostava de acompanhá-lo. Lembro de ver como ele conversava com as funcionárias e fazia os treinamentos. Lembro-me da forma como ele empoderava as mulheres, incentivava-as para conquistar sua independência financeira, conquistar seus sonhos.”
Atualmente, a Vivara é uma empresa formada 90% por mulheres. Em cargos de gestão, 87% das vagas são ocupadas por mulheres. Metade da diretoria é feminina. “Nunca me assustou ser mulher. Cresci neste ambiente, fiz minha carreira nele. Esses números vieram naturalmente, não criamos metas e buscamos isso. É uma empresa que sempre acreditou muito nas mulheres, elas estão em cargos de liderança por mérito. Se conseguirmos levar um pouco disso e mudar a mentalidade de outras empresas, se eu conseguir inspirar uma só mulher, já fico muito feliz”, garante ela, hoje com 35 anos e mãe de um casal.
Uma das grandes notícias do grupo nos últimos anos foi a criação da coleção Life, com destaque para as pulseiras de prata com inúmeras opções de pingentes colecionáveis, focada em um público mais jovem que inicia sua jornada de consumidor da marca. Marina participou do projeto desde o início. Foi um sucesso, e o objetivo passou a ser expandir a venda da coleção em lojas próprias, seguindo um caminho paralelo ao da Vivara.
Expansão, aliás, é a palavra de ordem da empresa em 2020. Após o bilionário IPO na B3 em outubro do ano passado, a Vivara quer dobrar seus mais de 230 pontos de venda em todo o país, com a agressiva meta de abertura de 50 lojas por ano. (RS)
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Paulo Guerra Natalia Mota
Pesquisadora do Instituto do Cérebro e criadora do Sci-Girls
Ela pesquisa formas de avaliar a organização do cérebro a partir da linguagem. Com isso, aos 37 anos, Natalia foi a única sul-americana indicada ao prêmio Ciência Inspiradora concedido pela revista “Nature” em 2019. Por estar entre as dez finalistas, passou por um processo de mentoria de um mês em uma rede social fechada formada por editores e cientistas do mundo todo. E não foi sozinha: compartilhou os encontros online com suas colegas de Sci-Girls, grupo de apoio feminino que criou há um ano.
Pós-doutoranda, a pesquisadora recebeu a indicação da “Nature” pelos estudos que levaram ao desenvolvimento de um software capaz de identificar esquizofrenia analisando a fala dos pacientes, com orientação de Sidarta Ribeiro (seu marido), do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Mauro Copelli, do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco. “A gente consegue antecipar a avaliação da cognição das pessoas que sofrem de esquizofrenia de forma puramente quantitativa, sem nenhum viés subjetivo, com mais de 90% de acurácia”, diz Natalia. “Isso é inovador no mundo.”
O software detecta a desorganização da fala que por sua vez reflete a desorganização dos pensamentos de quem sofre da doença. “O fato de ter sido construído de forma compatível com a nossa realidade no Nordeste, longe das condições ideais, permite que seja aplicável em outras realidades menos sofridas do que a nossa. É interessante, é rápido, é barato, é inócuo e não invasivo.”
A cientista já tinha recebido outros prêmios, como o de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação do Sistema Único de Saúde (SUS). No caso da premiação da centenária publicação britânica, embora não tenha levado o primeiro lugar, ela diz que a indicação por si só foi uma vitória. Por pouco, no entanto, Natalia nem se inscreveu no prêmio. Mudou de ideia quando uma aluna disse: “É para carreiras inspiradoras, e você inspirou a minha”. Também teve que superar a falta de autoconfiança para quantificar os dados que coletava. “Eu tinha muita dificuldade com matemática. Hoje percebo quanto tinha desse machismo estrutural, em que as mulheres tendem a pensar: não, matemática não é para mim.” Rompeu esse bloqueio, depois partiu para estudar programação, para ter mais autonomia – e aconselha as alunas que orienta a fazer o mesmo. “Se você acha que a ferramenta é importante na sua trajetória, aprenda.”
É o tipo de questão que aparece também no grupo Sci-Girls, de cientistas mulheres do Instituto do Cérebro. Elas se reúnem semanalmente para discutir gênero e se apoiar. “Existe um fator importantíssimo a ser quebrado que é elas se perceberem capazes, mesmo que não tenham o mesmo reconhecimento”, diz. “Uma aluna me perguntou por que produzi 15 artigos no doutorado. A primeira coisa que me veio à mente: porque eu estava com raiva. Para ser reconhecida no mesmo nível dos pares homens, a gente tem que produzir três a quatro vezes mais.” (MW)
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Victor Affaro Natalie Klein
Fundadora da NK Store
Natalie aprendeu desde a infância os desafios de gerir um negócio – e teve, dentro de casa, uma grande escola sobre valores, princípios e ética. No jantar, as conversas da família eram sobre estoque, fluxo de caixa, logística… Neta de Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, ela construiu o próprio caminho com a NK Store, investindo no mercado fashion de luxo. Uniu, assim, suas duas paixões: o varejo com o seu lado mais artístico e sua visão mais estética. Trouxe para o Brasil peças de grifes como Missoni, Lanvin, Stella McCartney, Blumarine e Chloé.
“Achei que iam ser universos paralelos, que iria trabalhar no negócio da família e seguir moda como hobby. Nunca me deram a opção de não trabalhar. A moda foi a ferramenta para entregar minha visão de mundo, construir meu negócio, refletir meus valores. Se conquistei espaço de respeito e relevância não é porque sou filha e neta de alguém, mas pela dedicação árdua e trabalho sério”, garante Natalie. Ela já foi reconhecida por seis anos seguidos pela lista internacional BoF 500, que elege os nomes mais poderosos da moda.
A empresária relembra que, quando optou por montar o próprio negócio, aos 21 anos, foi muito exposta, cobrada e, claro, comparada. “Como acontece com filhos de artistas, perguntavam se eu seria tão boa quanto meu avô e meu pai. Usei isso como combustível. Tive que provar para mim mesma e para todo mundo que eu sabia como fazer e que eu poderia fazer. Aos 20 e poucos anos, entendia essa comparação como algo pejorativo. Hoje, vejo que foi um privilégio ter crescido e aprendido nesse ambiente.”
Há três anos, Natalie decidiu mudar-se com a família para os Estados Unidos para que pudesse fazer um curso em Harvard. Lá, passou a refletir sobre a NK e sua carreira. Percebeu as diferenças entre o mundo de hoje e o mundo de quando abriu a loja, em 1997. “Acho que crise é oportunidade. É exercício para revisitar pontos de melhora. Fiquei muito tempo pensando em ressignificar meu negócio, repensando minha carreira. E entendi muito bem que a NK que criei não é a que existe hoje. Preciso recriar com quem está aqui hoje, preciso alinhar as pessoas que trabalham comigo com os valores que acredito.”
Natalie vê o futuro como uma página em branco a ser escrita. E quer que seus propósitos na moda fiquem cada vez mais claros, indo além do consumo puro e simples. “Se a NK conseguir escrever uma pequena frase no capítulo da moda brasileira, eu queria ser lembrada por isso, por uma marca que se preocupou com o impacto e que fez diferença no mundo.” (RS)
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Victor Affaro Neca Setubal
Socióloga
O apelido veio da abreviação de um brinquedo com o qual ela nunca se identificou: boneca. Maria Alice Setubal, 68 anos, mais conhecida como Neca Setubal, é a única filha entre os seis homens de Olavo e Tide (alcunha de Mathilde) de Azevedo Setubal. Do pai Olavo, sobrinho de um dos fundadores do banco que se tornaria o Itaú, ex-prefeito de São Paulo (1975-1979) e ex-ministro das Relações Exteriores (1985-1986), ela herdou não apenas uma das maiores fortunas do país, mas a construção de uma identidade baseada em trabalho consistente e empreendedorismo. Da mãe, o gosto pelas artes e o olhar social para o desenvolvimento humano. Tanto é que a organização que fundou e preside, e que se tornou referência em educação no país, leva o nome da mãe: Fundação Tide Setubal.
O pai engenheiro e banqueiro não impediu Neca de fazer suas escolhas, inclusive cursar ciências sociais na USP na década de 1970, em plena ditadura militar. “Ele gostava de debater com pessoas que tivessem ideias diferentes das dele. Achava o máximo eu fazer sociologia”, lembra, entre risos. O olhar para as mazelas sociais, no entanto, veio antes da universidade, pelo convívio com as freiras da escola experimental no ensino fundamental. “Elas eram muito jovens e foram morar em comunidades de base”, lembra.
No início da década de 1980, quando seus três filhos eram pequenos, depois de atuar como professora na escola Santa Cruz e na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Neca resolveu fundar uma pré-escola ao lado de duas amigas. Paralelamente, mergulhou como pesquisadora na área de educação da USP. “Foi quando percebi a necessidade de montar uma instituição de pesquisa”, pontua. Assim, em 1987, surgiu o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), cujo papel principal é assessorar as redes de ensino público.
Nas três décadas em que realizou iniciativas voltadas à educação, a socióloga foi construindo uma ponte entre os bairros periféricos de São Paulo, como São Miguel Paulista, na Zona Leste, onde fica parte dos projetos da Fundação Tide Setubal, e regiões nobres da cidade de São Paulo, onde vive. “É muito forte a nossa bandeira das desigualdades sociais e territoriais, com uma intersecção de raça e gênero”, explica ela sobre os princípios de sua organização, criada em 2006 e voltada a programas nas periferias.
Circular bem entre esses dois mundos motivou-a a ser uma das principais apoiadoras, inclusive financeiramente, da campanha presidencial de Marina Silva (Rede) em 2018, que tinha como uma das bandeiras a questão ambiental. A paixão pela natureza veio há duas décadas, quando Neca conheceu seu segundo marido, Paulo de Almeida Prado, com quem montou um projeto turístico em uma fazenda em Itu, no interior paulista. (KM)
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Victor Affaro Paola Carosella
Chef, empresária e jurada do MasterChef
Paola Carosella é chef, mas faz tempo que sua profissão deixou de se limitar à cozinha de um restaurante. É também empresária, jurada de reality show, ganhadora do prêmio Jabuti de Gastronomia (pelo livro “Todas as Sextas”, de 2017), defensora de causas nas redes sociais e fora delas, garota-propaganda de produtos que vão de xampu a filme da Disney. Está varrendo o jardim de casa quando recebe a Forbes para falar de seu momento profissional “divertido, intenso e interessante”. Diz que, sim, faz muitas coisas e precisou aprender a lidar com isso, mas com elas a rotina tem mais leveza. “É muito trabalho, tem a pressão da fama, de estar na TV, mas tem uma leveza no sentido de que saio da gravação e ela fica lá. O restaurante eu carrego na pele, aonde vou.”
Para se afastar do dia a dia do restaurante Arturito e das casas de empanadas La Guapa, a argentina de nascimento – radicada no Brasil há duas décadas e em processo de obtenção da cidadania brasileira – diz que foi essencial o apoio do sócio, Benny Goldenberg. A relação deles começou depois que Paola pegou um empréstimo de R$ 1 milhão no banco e comprou a participação de seus sócios no Arturito, em 2013. “De repente, eu tinha um restaurante e um nó na garganta.”
Ela podia, enfim, dar ao negócio a cara que quisesse – e queria algo mais despretensioso, claro, barato. “Senti que a alta gastronomia ia dar uma pausa, e iria entrar uma nova gastronomia, algo sem tanta pompa.” Colocou o plano em prática: abriu mão dos guardanapos de linho, dispensou o maître e o sommelier, encerrou o serviço de valet, mudou o menu, baixou os preços. Mas sentia dificuldade em cuidar de tudo sozinha. Foi quando conheceu Benny. “Ele faz a parte administrativa e deixa que eu faça o que sei fazer. Tirou um peso grande de mim.” Nessa época, Paola planejava abrir a primeira La Guapa (hoje são sete). Benny entrou de sócio no novo negócio, depois acabou ingressando também no Arturito. O público já tinha respondido positivamente às mudanças na casa.
A estreia de Paola como jurada do programa “MasterChef”, em 2014, trouxe novas levas de clientes. Com 4,2 milhões de seguidores no Instagram e no Twitter, a chef já se envolveu em diversas polêmicas ao defender seus pontos de vista, comentando desde declarações de políticos a hambúrguer de planta que imita carne. Mas diz que tem procurado falar menos nas redes sociais. “Assusta a forma como se interpretam as coisas, o nível de agressão, de grosseria.”
Depois de um 2019 em que fez muita coisa (“Mudei de casa, casei no papel, abrimos quatro lojas de La Guapa, gravei”), o ano de 2020 já começa com uma novidade: a transferência da produção de empanadas (hoje em 170 mil unidades por mês) para um imóvel na Vila Leopoldina. “Uma fábrica de verdade, de gente grande, porque queremos expandir e abrir pelo menos mais quatro lojas.” Todas em São Paulo, por enquanto. “Ainda não temos coragem para sair. Mas queremos.” (MW)
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Victor Affaro Patricia Bonaldi
Estilista e empresária
Ainda bem pequena, aos 5 anos, Patricia (hoje com 39) costumava perambular com a mãe pelas lojas de tecidos de Uberlândia, cidade mineira em que morava com a família. Desse tempo, carrega na memória a maciez dos tecidos, suas cores vibrantes e a lembrança da euforia de transformar aquele material em um lindo vestido. Na adolescência, passou a desenhar suas próprias roupas, com moldes que faziam a festa das costureiras.
O fascínio pelas agulhas levou-a a desistir da carreira de advogada no último ano da faculdade para investir em sua própria marca. Durante os primeiros anos da universidade, Patricia já vendia roupas de diversas marcas, mas foi o interesse das clientes por suas criações que a levou a empreender – para nunca mais parar.
Em 2002, ela criou a marca homônima, somente com criações sob medida. Dez anos depois, surge a PatBo, sua marca prêt-à-porter, com coleções amplas, compostas por peças casuais, jeans e beachwear, com o mesmo caráter sofisticado da marca–mãe. Em 2018, a etiqueta Patricia Bonaldi passa a se chamar PatBo Atelier. Atualmente, a label pode ser encontrada em 121 pontos de venda pelo país, seis lojas próprias e um outlet. Fora do Brasil, está presente em 80 multimarcas, entre elas as luxuosas de departamento Harrods e Neiman Marcus, além da presença digital, em 12 e-commerces. Cerca de 30% do faturamento da empresa vem dos EUA, onde a porta de entrada é o showroom em Nova York.
De origem humilde, a estilista sabe reconhecer o valor de cada bordadeira, um ofício que foi desaparecendo com a velocidade da modernização das máquinas de costura. Em sua fábrica em Uberlândia, mantém a escola Costurando Sonhos, que já formou 250 profissionais – algumas delas, inclusive, contratadas por ela. “Me emocionou outro dia ver como uma bordadeira se tornou independente financeiramente do marido”, conta. Antenada às causas sociais, em 2015, participou de uma ação em que parte da renda de suas roupas foi destinada ao projeto Mulher Vire a Página, que combate a violência contra as mulheres.
Patricia diz que “nada surgiu por acaso”, e que houve muito investimento pessoal e suor na caminhada ao topo, que incluiu cursos de moda e um MBA em negócios. “Meu caminho é como um videogame. Não pulo etapas”, diz ela, brincando. A veia empreendedora faz com que não perca o foco dos investimentos em sua empresa. Com a Fundação Dom Cabral, por exemplo, estabeleceu uma parceria para aprimoramento de seus gestores.
Mas a estilista não se distanciou de sua paixão original. Ali mesmo, em sua fábrica, diverte-se deitada no chão entre papéis espalhados, desenhando os novos modelos. “Não delego meu estilo para ninguém, não!”, diz ela, orgulhosa das próprias criações. (KM)
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Victor Affaro Renata Lo Prete
Jornalista da Rede Globo
Quando a questionavam sobre o que ela gostaria de ser quando crescesse, a resposta nunca era “jornalista”. Mas, na hora de escolher o que prestar no vestibular, a profissão surgiu naturalmente como opção para a jovem que adorava ler e escrever por influência da mãe – e que cresceu observando o pai discutindo as principais notícias do dia e se informando por diferentes fontes. “Hoje eu tenho mais consciência do meu amor pela profissão do que quando comecei, quando tinha uma grande curiosidade”, pondera.
Renata atribui sua formação no jornalismo à “Folha de S.Paulo”, onde trabalhou por 26 anos, passando por diferentes editorias e funções, incluindo a edição da primeira página e a importante função de ombudsman. Mas foi trabalhando na coluna “Painel” que Renata encontrou o divisor de águas em sua trajetória: a entrevista com Roberto Jefferson que desencadeou no escândalo do Mensalão. “Aquilo me colocou em outro plano. Não de importância minha, mas de entendimento da profissão. Foi uma experiência transformadora. Teve um impacto tão grande que me fez refletir muito sobre o papel, a responsabilidade do jornalista. De saber que você não é a notícia, você é o jornalista apesar de toda a repercussão”, explica Renata, que afirma lembrar até hoje de todos os detalhes do dia da entrevista.
Na “Rede Globo” há oito anos, Renata conversa com diferentes públicos. Na “GloboNews”, tem uma audiência menor por se tratar de um canal por assinatura, mas estimula “a pluralidade de ideias e o debate com respeito” no “GloboNews Painel”. Com o “Jornal da Globo”, cuja bancada assumiu em 2017, conversa com milhões de brasileiros diariamente. “A experiência é mais radical porque o contato com as audiências é mais direto, mais caloroso no bom e mau sentido, muito maior e mais diversa”, pontua.
O “filho” mais novo de Renata é o podcast “O Assunto”, que atrai um público mais jovem, desacostumado a acompanhar o noticiário de forma mais tradicional e que abraçou o novo formato digital. “As pessoas precisam de informações claras, verdadeiras, e que as orientem em tantos assuntos na vida. Se a gente trabalhar corretamente ao lado de pessoas movidas pelo mesmo propósito, podemos satisfazer uma demanda da cidadania e do mercado.” O programa estreou em 26 de agosto do ano passado, chegou ao 100º episódio no dia 14 de janeiro e ultrapassou os 7 milhões de downloads no Apple Podcasts, que o escolheu como um dos melhores de 2019. “O Assunto” alcançou o primeiro lugar na lista dos mais baixados da América Latina.
Definindo-se como “CDF dedicada” e afirmando que só sabe fazer as coisas como se fossem lição de casa, Renata brinca quando questionada sobre o que gosta de fazer no tempo livre. De tanto que trabalha e com o tempo que passa na redação, o que ela mais gosta mesmo, quando pode, é de ficar em casa. (RS)
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Anderson Marques Tereza Cristina Dias
Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e empresária
O pai e o avô divergiam sobre vocação política, mas a menina, que nasceu e cresceu no ambiente rural do Mato Grosso do Sul, reuniria os gostos dos dois e responderia, no futuro, pelo cargo mais importante do país ligado ao agronegócio. Tereza Cristina Correa da Costa Dias, ministra da Agricultura, nunca imaginou chegar tão longe. “De jeito nenhum!”, confessa.
Filha de engenheiro agrônomo, seguiu a profissão do pai e formou-se na Universidade Federal de Viçosa (MG). Casou-se, perdeu o pai muito cedo e teve que voltar ao Mato Grosso do Sul para assumir, junto com a mãe e os irmãos, as propriedades da família. “Trabalhei plantando soja, criando gado, no dia a dia da lida na fazenda”, conta. Anos depois, chegou a ingressar em projetos do agronegócio em São Paulo, mas logo voltou ao estado de origem, onde viu despertar seu “DNA político”, herdado do bisavô e do avô, Fernando Correa da Costa, que foi governador e senador pelo Mato Grosso, além de prefeito de Campo Grande. “Vim de uma família de políticos, mas meu pai não era político e não gostava de política.”
Tereza Cristina atuou na Federação de Agricultura de Campo Grande e, em 2007, foi convidada pelo então governador André Puccinelli a assumir a Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Turismo do MS, cargo que ocupou por dois mandatos. Em 2014, candidatou-se à Câmara dos Deputados pelo MS. Eleita, atuou ativamente na frente parlamentar da agropecuária. Reeleita em 2018, teve que pedir licença do cargo ao aceitar o convite para assumir o Ministério da Agricultura.
Num país de dimensão continental com a economia lastreada, principalmente, no agronegócio, o cargo de Tereza Cristina exige uma agenda intensa de eventos, reuniões e viagens. Um dia que começa cedo, típico de quem veio do campo, mas termina bem tarde. A conversa com a Forbes por telefone foi numa sexta-feira, no fim do dia, após três reuniões em Brasília. “Quem está na chuva tem que se molhar”, brincou.
Mãe de um casal de filhos e avó de um neto, Tereza encara com tranquilidade as pautas difíceis, como o uso de pesticidas. “Eu tento tratar esses temas mais técnicos com a ciência. Você tem que se embasar e ter uma equipe de qualidade para te auxiliar a tomar as decisões no caminho certo.” No governo, Tereza Cristina sabe da missão de promover este gigante, recordista do agronegócio mundial. Mas também leva no coração o desejo do legado que quer deixar ao país ao cumprir o mandato. “Eu ficaria muito feliz se deixasse uma assistência técnica montada para que os pequenos produtores pudessem produzir, e que mulheres e jovens voltassem ou tivessem vontade de ficar no campo com qualidade de vida e renda.” (LM)
Cristina Junqueira
Cofundadora do Nubank
A cofundadora do fenômeno Nubank (maior banco digital do mundo com mais de 20 milhões de clientes) sempre carregou o impulso visceral de estar à frente. Nos passeios com a família no Rio de Janeiro, a pequena Cristina Junqueira gostava de se embrenhar entre as multidões e ir atrás do que chamasse sua atenção, sem nunca perder a mãe de vista. “Fazer as coisas de forma independente e querer explorar a próxima coisa sempre foram características minhas”, contou Cristina à Forbes, quatro dias antes de dar à luz sua segunda filha, Bella.
Ainda na infância, imbuída dessa vontade de buscar espaços diferentes, Cristina visitou a Universidade de São Paulo (USP) pela primeira vez, e decidiu que, um dia, estudaria lá.
Anos mais tarde, na primeira guinada de sua vida, trancou o curso de jornalismo no Rio e decidiu abraçar a engenharia industrial na concorrida Escola Politécnica da USP. “Sempre gostei de escrever [Cristina chegou a publicar um livro de receitas, em 2015, em homenagem à avó], mas queria expandir minhas possibilidades”, explica a executiva.
A carreira em serviços financeiros foi outra virada improvável, porém certeira: Cristina entrou nos trilhos que a levariam à liderança do que hoje é uma das startups mais valiosas do mundo, de acordo com a análise da CB Insights. A jornada anterior ao Nubank trouxe desafios enfrentados por muitas executivas, como o machismo e a cultura de indiferença às necessidades de consumidores. “Eu me sinto confortável em dizer que consegui gerar um impacto bastante positivo por causa do meu inconformismo e da minha vontade de encontrar soluções, sem me importar com o grau de dificuldade da situação”, reflete, ressaltando o poder e a capacidade de mudança trazidos pela fintech que ajudou a gestar. “Nos últimos sete anos, vemos o nível de influência que o Nubank – e eu faço parte disso – exerce no mercado: conseguimos o inimaginável, que é criar um produto financeiro sem tarifa que clientes usam e gostam.”
Por outro lado, criar e liderar uma empresa que vale US$ 10 bilhões e não para de crescer (a startup projeta um crescimento de 15% para sua força de trabalho de 2.500 pessoas em 2020) requer um empenho descomunal. “Essa jornada tem sido muito intensa, de muita doação. Mas é impossível atingir um resultado extraordinário sem um comprometimento proporcional.”
O equilíbrio
A empreendedora, que admite ter “uma vida social bem abaixo da média”, lembra que foi trabalhando a caminho da maternidade e logo após o nascimento de sua primeira filha, Alice, hoje com 7 anos. Desde aquela época, no entanto, algumas coisas mudaram. Agora, Cristina busca equacionar o alto custo pessoal da dedicação ao negócio. “Sucesso não se trata só de trabalho e carreira. Temos que considerar que somos cidadãs, irmãs, filhas, esposas, mães. É saudável buscar o equilíbrio entre esses tantos papéis que precisamos gerenciar.” Ela esteve presente na criação da filha, mesmo com suas muitas atribuições, e desenvolveu um forte discurso de que empresas devem possibilitar que mulheres avancem com suas carreiras ao mesmo tempo que investem em projetos pessoais, como a constituição da família. No alto escalão do Nubank, 43% são mulheres, e a meta é aumentar essa proporção.
Por mais que Cristina desfrute hoje de um grau maior de liberdade, conciliar trabalho e maternidade segue sendo uma tarefa complexa. Isso ficou evidente, na prática, durante os preparativos para a chegada de Bella, que nasceu na capital paulistana quatro dias após o ensaio de capa desta edição, em 28 de janeiro, com 51,5 cm e 3,680 kg.
*TEXTOS ANGELICA MARI, GABRIELA ARBEX, KÁTIA MELLO, LUCIENE MIRANDA, MARIANA WEBER E REBECCA SILVA
FOTOS ANDERSON MARQUES, ANSELMO CUNHA, PAULO GUERRA, RENATO PIZZUTTO E VICTOR AFFARO
MAKE JÔ CASTRO TRATAMENTO DE IMAGEM RODRIGO GONÇALVES
EDIÇÃO DÉCIO GALINA E JOSÉ VICENTE BERNARDO
AGRADECIMENTO HERMAN MILLER
Reportagem publicada na edição 75, lançada em março de 2020
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