Os últimos oito meses, período em que o francês Laurent Cadillat instalou-se no Brasil, foram bastante produtivos para o executivo que atua há 23 anos no grupo Casino e que veio ao país para assumir a posição de diretor executivo da rede Extra. Trata-se de um negócio que corresponde a aproximadamente 25% do faturamento do Grupo Pão de Açúcar (GPA) e é composto por 584 pontos de vendas, 137 hipermercados, 206 supermercados, 158 drogarias e 83 postos de combustível.
Em seu mais de 1 milhão de metros quadrados espalhados por cerca de 100 cidades de 17 estados brasileiros são feitas um total de 180 milhões de compras por ano (somatória dos tíquetes emitidos nos check-outs durante o ano). Geograficamente, metade da vendas dessa bandeira concentra-se no estado de São Paulo.
No momento em que o mundo discute o futuro do hipermercado, chegando a prever até sua morte, o GPA está aportando R$ 100 milhões na bandeira Extra em 2015, valor usado, dentre outras ações, na reforma e modernização das lojas de grande porte, com tamanho médio de 5 mil a 6 mil metros quadrados. Há, ainda, unidades como a do Extra Morumbi, o maior hipermercado do país, com 14.000 metros quadrados, 80 mil itens à venda, 1,5 mil vagas de estacionamento e 52 caixas. Toda essa estrutura funciona 24 horas por dia.
Quando o assunto é hipermercado, o foco do momento não é na abertura de novas unidades, mas na revitalização das atuais, projeto iniciado pelo Extra Morumbi, que resgatou o conceito de atendimento personalizado, algo mais facilmente encontrado na padaria, no açougue e na peixaria de bairro. “O cliente vai continuar encontrando o produto pronto para levar para casa, mas se ele quiser comprar peito de peru em fatias mais finas ou um contrafilé em fatias mais grossas para churrasco, por exemplo, ele poderá pedir ao atendente. O autosserviço continuará, mas o atendimento personalizado ganhará força”, promete Cadillat, que deseja fidelizar os atuais clientes e atrair outros tantos. Uma série de produtos feitos na loja ganharam os corredores do hipermercado, como sushi, feijoada, suco verde, kit salada, pães e bolos. Tudo, claro, com degustação, para atiçar o consumidor e aumentar as margens. Nas geladeiras de iogurtes, manteigas e congelados (na horizontal, geralmente sem porta), novos equipamentos chamam a atenção. Eles visam proteger ainda mais
os alimentos, reduzir o consumo de energia e também o clima gélido de quem transita pelos corredores.
E isso não é tudo. Duas “lojas-conceito” foram criadas dentro do hipermercado. A primeira busca aproveitar o ascendente mercado de dispositivos móveis que, após anos de crescimento, continuará avançando dois dígitos em 2015. Em uma área de cerca de 25 me-tros quadrados, o consumidor encontra uma farta quantidade de aparelhos, de Apple a Samsung, e atendentes que habilitam o serviço na hora em qualquer uma das quatro principais operadoras. “A oferta de um ambiente dedicado e de funcionários treinados levou o projeto-piloto, realizado em seis lojas, a triplicar as vendas de aparelhos”, garante Cadillat. Em outra área do hipermercado, uma seção especializada em colchões e boxes chama a atenção pelo show-room composto por 30 produtos, além de um catálogo eletrônico com 90 itens. Essas mudanças todas levam Cadillat a decretar que “o modelo de hipermercado não morre, se transforma”.
As mudanças implantadas na maior unidade do Extra foram replicadas, no início de maio, em nove lojas. Até o fim do mês, serão 20 hipermercados reformados, chegando a 50 no final do ano. E isso não é tudo. Na missão de levar cada vez mais clientes para dentro do Extra, foi criado um modelo no qual o consumidor pode efetuar a compra de qualquer produto não alimentar pelo site da bandeira e retirá-lo em qualquer um dos 224 hipermercados cadastrados.
Já no caso de perecíveis, também dá para adquirir 60 itens pela internet e retirá-los com hora e data marcada em um hipermercado. Batizado de Retire Aqui, uma espécie de drive-thru, ele opera atualmente, em fase de piloto, em duas unidades do Extra (Morumbi, em São Paulo, e Barra, no Rio de Janeiro). “Na França, o Casino tem mais de 17 mil pontos de retirada de pedidos”, conta.