Soa como ficção científica. Mas a Illumina, uma empresa de biotecnologia de US$ 24 bilhões, pioneira em sequenciamento de DNA rápido e barato, diz que esta poderia ser uma realidade em alguns anos. O projeto é da sua nova startup, a GRAIL, que já tem US$ 100 milhões em investimentos.
A Illumina é a acionista majoritária, mas nomes de peso decidiram investir na startup. Investidores incluem as empresas Sutter Hill Ventures e ARCH Ventures, a Expeditions, de Jeff Bezos, e Bill Gates. A startup pode ter vastas implicações médicas, econômicas e sociais – se a tecnologia realmente funcionar.
“Tudo aqui é direcionado para ser um teste universal de câncer”, diz Jay Flatley, CEO da Illumina há 16 anos e pioneiro em sequenciamento de DNA. “É o nosso maior investimento de todos os tempos”, diz Robert Nelsen, sócio na ARCH, em relação à GRAIL. “Ainda precisa sem provado”, continua, “mas parece ser provável que seremos capazes de ter muitas informações profundas sobre múltiplos cânceres com um único teste.”
Flatley diz que a ideia da GRAIL surgiu há 18 meses, quando pesquisadores da Illumina estavam testando os sequenciadores de DNA da empresa em sangue. Eles descobriram que os sequenciadores da empresa haviam se tornado cada vez mais poderosos e que eram capazes de detectar resquícios de DNA naquelas amostras.
Isto deixou Flatley e outro alto executivo da Illumina, Richard Klausner, empolgados.
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Os cânceres começam com o mesmo código genético que as pessoas que eles afetam. O que acontece são lentas mutações em seu DNA. Essas mudanças significam que as células não respondem mais aos comandos do corpo para morrer ou parar de crescer. Elas desenvolvem dispositivos de cobertura para evitar o sistema imunológico, e controlam o armazenamento de energia da pessoa afetada.
Porém, pequenas quantidades desse DNA alterado ficam presentes no sangue, talvez a partir dos estágios iniciais. Flatley diz que seus pesquisadores acham que podem encontrar esse DNA e, ao identificar dúzias ou centenas de mutações genéticas diferentes, dizer com um grau de precisão incrivelmente alto se alguém tem câncer, sem causar sustos em pessoas saudáveis. Agora, no entanto, este é apenas um palpite de pesquisadores.
Todo ano, o estudo deve identificar pequenas quantidades de pacientes que tiveram câncer. No início, muitos deles estarão nos estágios finais da doença, diz Flatley. Mas, com o passar do tempo, o estudo deve começar a identificar apenas pacientes em estágios iniciais de câncer, porque os tumores começarão sempre a serem pegos quando ainda forem novos.
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Críticos tendem a ver problemas. Será que o teste irá detectar cânceres pequenos que seriam derrotados pelo sistema imunológico da pessoa, o que significa que pessoas receberiam o tratamento quando não precisassem? Será que o teste estará errado às vezes? Será que a GRAIL, mesmo com tantos recursos, poderá provar que o teste funciona? Os desafios são muitos.
Até agora, o teste nem mesmo existe. Flatley está confiante de que existirá dentro de um ano. A GRAIL ainda precisa conversar com a Food and Drug Administration (FDA) nos EUA. Ainda precis a de um CEO. Kausner, ex-CEO do Instituto Nacional do Câncer (NCI) dos EUA, está saindo da Illumina, mas permanece na GRAIL como diretor. Por enquanto, a empresa provavelmente será consolidada nas finanças da Illumina.
O fato de o esforço ainda ser nascente não impede Flatley e Nelsen de sonhar alto. Ambos imaginam que talvez, um dia, o teste será capaz não apenas de identificar o câncer, mas de fornecer a chave para acabar com ele. Talvez as mutações de DNA identificadas por um teste como este poderiam ser inseridas nos glóbulos brancos desenhados pela outra empresa de Nelsen, a Juno, e injetados no paciente. Assim, eles quase nem perceberiam que tiveram câncer.
O mundo o câncer está mudando, diz Nelsen. “Eu acho que essas coisas irão convergir rapidamente. Se fosse um grande produto farmacêutico pouco efetivo, um remédio para quimioterapia mais ou menos tóxico, eu estaria nervoso. Eu acho que este será realmente fascinante.”