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A reação de cada uma das quatro grandes companhias de aviação locais diante desta situação variou bastante. Três delas focam em fusões — recentes ou em andamento. A Azul olha para fora do país, e aposta em uma relação cada vez mais próxima com a portuguesa TAP, adquirida por seu controlador David Neeleman no fim de 2015, e em destinos no exterior. A Avianca quer levar adiante sua fusão com a Avianca Holdings, que controla a operação colombiana da empresa e todas as demais, com exceção da brasileira. Feita a união, a companhia resultante seria um colosso latino-americano, assim como a Latam, grupo que resultou da união da chilena LAN com a brasileira TAM. O prejuízo de 1,25 bilhão de reais em 2015 (havia sido de 444,2 milhões de reais um ano antes) fará a Latam levar ao extremo um corte de capacidade — a oferta de assentos nos voos domésticos deve ser reduzida em até 12%. Já a Gol fechou 2015 com prejuízo de 4,3 bilhões de reais, com perda de 300 milhões de reais em vendas, ao mesmo tempo em que teve incremento de 400 milhões de reais em seus custos.
A medida provisória 714 aumentava para 49% o capital que uma empresa aérea do exterior poderia possuir de uma nacional. Em junho, a Câmara dos Deputados aumentou esse índice para 100%, mas, para que o Senado aprovasse a MP, o presidente interino Michel Temer concordou em manter esse percentual nos atuais 20%. A discussão, no entanto, permanece aberta.
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A Gol seria a principal prejudicada em um possível veto do presidente interino Michel Temer à presença total de capital estrangeiro em empresas aéreas do país, pois é uma das companhias que mais necessita desse capital. A americana Delta Airlines — dona de 9,48% do capital social da companhia — poderia se interessar em ampliar sua fatia na aérea. Sem esse dinheiro que talvez viesse, a empresa provavelmente terá que ampliar os cortes de custos, até mesmo com demissões.
“A intenção de capitalizar as companhias aéreas brasileiras é benéfica para a indústria como um todo, e tende a ser positiva para a manutenção da atividade, o aumento da concorrência e a diversificação dos serviços prestados no país pelas aéreas”, afirma Guilherme Amaral, sócio do escritório ASBZ Advogados e especialista em aviação. “No entanto, a mudança para 49%, com a qual o controle das companhias ainda fica em mãos do capital nacional, não parece atrair o investidor externo. Uma manobra mais arrojada, como a liberação de 100% do capital votante para estrangeiros, pode ser a saída necessária para a escassez de dinheiro na aviação nacional. Essa medida, se tomada, pode atrair capital externo, seja para participar nas companhias aéreas brasileiras já em atividade, seja para constituir novas.” Há ainda a expectativa que o programa de concessão dos aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre traga novos investimentos ao setor aéreo.
Mas nada é simples, em se tratando de aviação. A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), entidade que reúne LATAM, Azul, Avianca e Gol, é favorável à elevação do limite de capital estrangeiro para 49%, mas se mostra reticente quanto à hipótese de o teto ir para 100%. Outras nações — em especial países árabes — subsidiam pesadamente suas aéreas, o que poderia tornar as empresas brasileiras do ramo presas fáceis para uma aquisição hostil. Há também a possibilidade de que aéreas estrangeiras simplesmente abram filiais nacionais, ao invés de aportar recursos em concorrentes locais.
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“As companhias vêm apresentando resultados financeiros sofríveis já há algum tempo, e uma injeção de capital é fundamental para preservar a atualização tecnológica e o nível de investimentos no setor, e até mesmo sua viabilidade”, afirma o analista de aviação Christian Majczak, da consultoria GO4. Segundo ele, abrir as portas a novos investidores pode revitalizar o setor e fazer com que opere de maneira mais forte, possivelmente inaugurando novas rotas e modelos de prestação de serviços. “Com relação a eventuais preocupações quanto à concorrência e à dependência do setor de players estrangeiros, deve caber às agências reguladoras e aos órgãos de defesa da concorrência intervir quando necessário.”
Azul decola
Ainda em andamento, este debate será decisivo para o futuro das aéreas brasileiras — e nisso Azul, Avianca, TAM e Gol estão plenamente de acordo. Antonoaldo Neves, presidente da Azul desde 2014, está confiante no caminho que vem tomando a companhia. “A Azul sempre teve um modelo de negócios vencedor, e continua a exercê-lo e aprimorá-lo.” Faz parte da estratégia da companhia também a renovação da frota: “No segundo semestre, teremos uma grande novidade. Vamos receber seis Airbus A320NEO, que compõem uma encomenda de mais de 60 unidades do novo modelo da fabricante. Eles terão cerca de 180 assentos, o que permitirá à Azul ampliar sua oferta em mercados com alta demanda e melhorar sua performance em voos de longa distância dentro do Brasil”.
Mas, para o analista, a principal investida está no plano internacional — em que suas concorrentes Gol e Latam já operam com parcerias bem estabelecidas. A Azul se preparou, capitalizando-se com um investimento do grupo chinês HNA e com a venda de participação societária à norte-americana United por 100 milhões de reais.
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Antonoaldo, o presidente da Azul, mescla pesar com esperança ao falar da atual conjuntura. “O ano de 2015 foi bastante desafiador, sobretudo pelo momento econômico do país. No início de 2016, cortamos 7% de nossa oferta de assentos e retiramos da frota cerca de 20 aeronaves. A malha aérea da companhia também foi revisitada. Mas já abrimos duas novas bases nacionais: Sorriso, no Mato Grosso, e Lages, em Santa Catarina. E ainda temos a previsão de abrir uma nova base em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.”
As empresas divulgaram no início do ano um acordo de codeshare (compartilhamento de códigos de voo), para que tanto os clientes da Azul como os da TAP tenham mais possibilidades de conexão a partir dos destinos operados por ambas. A Azul investiu aproximadamente 100 milhões de dólares em títulos conversíveis em ações preferenciais da TAP, o que lhe dará o direito de deter aproximadamente 40% do valor econômico da aérea portuguesa na ocasião da conversão dos papéis. “Há grande sinergia na relação entre as duas empresas”, diz Antonoaldo. “A Azul acredita que o investimento feito na TAP fortalece os interesses comuns, abrindo espaço para explorar ainda mais acordos comerciais, negociações conjuntas, parcerias para otimização das frotas, e oportunidades de trabalho e carreira para seus tripulantes.”
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A compra da TAP é um passo significativo para que a companhia trabalhe no mercado europeu, avalia o analista Majczak, embora considere que os controladores da empresa precisarão se dedicar à integração dessas operações, unindo serviços da Azul e da TAP. “Como carta na manga, a Azul tem o seu IPO — diversas vezes anunciado e postergado, por motivos compreensíveis. Levada a cabo, essa operação poderia trazer à empresa uma expansão no mercado regional. No entanto, não há razões que justifiquem tal movimento agora.”
Já a aérea pertencente aos irmãos José e German Efromovich, a Avianca, tem outros planos. Ela quer se unir à Avianca da Colômbia e às aéreas que estão sob o guarda-chuva do grupo Synergy e, com isso, se tornar uma operação continental completa de aviação.
“A Avianca, no curto prazo, está focando toda sua atenção na fusão das operações Colômbia e Brasil”, observa o analista Majczak. “É mais uma companhia voltada para a busca de sinergia e, consequentemente, para o que é mais importante no cenário atual: cortar custos. A preocupação não é só com a situação difícil do Brasil, envolve também as operações latino-americanas.”
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Segundo o vice-presidente executivo da Avianca Brasil, Tarcísio Gargioni, a companhia procura manter o foco no atendimento de qualidade. Ele aponta dois projetos como consolidação dessa estratégia. “Em julho entramos na Star Alliance, a maior aliança global de empresas aéreas, e passamos a oferecer aos nossos clientes acesso a 1.330 aeroportos e 1.100 salas VIP em todo o mundo por meio de voos de 27 parceiras internacionais. Com isso, nossos passageiros cadastrados no programa de fidelização Amigo passaram a acumular mais pontos e ter a possibilidade de emitir passagens para destinos em 192 países. E, no segundo semestre, finalizamos o processo de renovação da nossa frota, a mais jovem do Brasil, composta por 41 aeronaves da Airbus.”
Recentemente a Avianca Brasil trocou de presidente. José Efromovich, que ocupava o cargo, foi para a liderança do conselho, e em seu lugar tomou posse Frederico Pedreira, que até então cuidava das áreas operacional e financeira da empresa. A troca da guarda reflete o novo e principal objetivo estratégico da companhia: a reunião continental das aéreas do grupo em uma só organização.
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Essas são reações a um mercado em crise, mas que pode mudar de características, caso novas medidas no setor venham a ser adotadas. As companhias prosseguem seus passos, mesmo que sem saber se o trajeto do voo será longo demais ou do tamanho de uma ponte aérea local.