Em 21 de novembro, quase duas semanas depois de eleito, Trump declarou que no primeiro dia de seu governo (20 de janeiro) vai retirar o país da Parceria Transpacífico (TPP), principal iniciativa voltada ao comércio internacional costurada por Barack Obama e assinada em outubro de 2015 por Canadá, México, Peru, Chile, Japão, Cingapura, Vietnã, Malásia, Brunei, Austrália e Nova Zelândia, além dos EUA. Juntos, esses países respondem por 40% do PIB mundial. Sem os EUA, a TPP não faz sentido, como declarou de imediato o governo japonês. Trump tem afirmado que vai priorizar “tratados bilaterais que geram empregos e vantagens” para seu país.
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PIOR CENÁRIO
No mesmo dia em que Trump anunciou a saída do TPP, o Washington Post publicou reportagem com o título “Pior cenário para a economia sob Trump acabou de acontecer em outro país”. Esse país é o Brasil. “Mais que a plataforma de qualquer outro político americano, a agenda de Trump para a economia lembra a de políticos populistas lá fora. As políticas que ele propõe são muito similares às de Dilma Rousseff ”, escreve o jornalista Max Ehrenfreund.
O Washington Post cita a brasileira Monica de Bolle, professora na Universidade Johns Hopkins, ao comparar os planos de Trump com as ações de Dilma – restrições a importações, alívio fiscal para grandes corporações e vultosos empréstimos federais. Essa receita seria danosa para a economia norte-americana e, por via indireta, novamente danosa para a brasileira.
Carlos Thadeu Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e ex-diretor do Banco Central, analisa: “Considerando a hipótese do cenário de juros mais elevados nos EUA devido aos maiores gastos do governo, as expectativas cambiais no Brasil passam a envolver maiores riscos. A administração da política monetária pelo governo brasileiro vai se tornar mais difícil e exigente”.
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Além disso, ressalta ele, o comércio varejista vem sofrendo perdas desde o fim de 2014, e “não há perspectivas de melhora no curto prazo, mesmo com a evolução positiva da confiança nos meses mais recentes”.
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Em encontro de lideranças na Câmara Americana de Comércio (Amcham) que discutia o futuro da relação entre os dois países, Peter Hakim, presidente emérito do The Dialogue – Leadership for the Americas (ONG que aglutina líderes do continente e que tem em seu quadro nomes como Fernando Henrique Cardoso e Jimmy Carter), disse que o México deve se preocupar mais que o Brasil. “O foco de Trump será a política doméstica e o Nafta, que carrega a fama de ter destruído a indústria americana”, declarou.
DEPENDE DE NÓS
Não significa que devemos ficar de braços cruzados: “Temos que sair do terreno emocional e partir para a prática. Nosso poder de influenciar políticas mundiais, de uns anos para cá, está cada vez menor. As exportações variam ao sabor da flutuação do dólar. Precisamos primeiro arrumar nossa casa”, conclui Garnero.
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, afirma que a mais preocupante das medidas de Trump é o aumento de barreiras para produtos importados. “Percebi essa preocupação já na reunião de ministros do G-20 em julho, em Xangai, e no encontro dos Brics em outubro, na Índia. Mas não há dúvida: quando a maior potência mundial passa a lidar com o tema de forma mais premente, esse movimento tende a mexer na estrutura mundial de comércio.”
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Zanotto, da Fiesp, ressalta o fato de que grande parte do comércio com os EUA é intercompany, entre empresas multinacionais presentes nos dois países. “Essas corporações têm estratégias de longo prazo que não vão cessar do dia para a noite. Por esse lado, o mais importante para o Brasil é se tornar mais competitivo.”
SOB CONTROLE
Se Mario Garnero lembrou o nervosismo causado pela eleição de Ronald Reagan, o ministro Marcos Pereira cita a ascensão de Lula ao Planalto: “O clima de desconfiança com Donald Trump é semelhante ao sentimento em relação a Lula, em 2002”. Para ele, talvez essa apreensão não se justifique. “A equipe que o presidente eleito está formando me parece muito competente e sóbria. Essa volatilidade pode ter prazo de validade.”
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A despeito das recentes declarações sobre a TPP, o próprio Trump admitiu que exagerou na retórica para mobilizar o eleitorado. “Isso sugere que ele irá negociar melhores condições com seus principais parceiros, mas sem colocar tudo a perder. Os interesses econômicos são muito fortes. Só com Canadá e México, membros do Nafta, a corrente de comércio dos EUA ultrapassa US$ 1,1 trilhão”, lembra Zanotto, da Fiesp.
OTIMISMO