Matt Damon quer dar água para 500 milhões de pessoas

22 de setembro de 2017
Reprodução/Forbes

O ator decidiu enfrentar o problema por meio do microfinanciamento (Reprodução/Forbes)

O ator Matt Damon está determinado a fornecer água limpa para milhões de pessoas ao redor do mundo que precisam caminhar dezenas de quilômetros para ter acesso ao recurso.

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Em seu discurso durante a edição 2017 do FORBES 400 Summit on Philanthropy em Manhattan nesta terça-feira (19), Damon colocou o acesso a água e ao saneamento como a peça fundamental para alcançar todos os objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pela Organização das Nações Unidas. “A resolução deste problema significa algo muito maior para o desenvolvimento econômico, educação, gênero, equidade, saúde global”, disse. “É o big bang.”

Enquanto a cidade de Nova York fornece a seus residentes acesso a água encanada desde 1901 – quando os cavalos que puxavam carruagens ainda dominavam as estradas -, mais de 2 bilhões de pessoas atualmente ainda sofrem pela falta de acesso a um banheiro, disse Damon.

O ator vencedor do Oscar se interessou pelo tema há mais de uma década, depois de uma viagem para a Zâmbia, na África. Damon decidiu acompanhar uma garota em sua caminhada diária para coletar água. Quando ele perguntou à tímida adolescente se ela gostaria de ficar na vila onde cresceu, a garota respondeu que não. “Ela disse que queria ir para a cidade grande, para Lusaka, para ser enfermeira”, contou ele. “Eu senti uma conexão com ela. Quando eu tinha essa mesma idade, eu e [o também ator] Ben Affleck queríamos ir para Nova York, onde seríamos atores.”

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De volta aos Estados Unidos, Damon se aproximou de Gary White, um veterano de desenvolvimento com foco em água, e criou o Water.org, uma organização sem fins lucrativos especializada em projetos relacionados a água e saneamento. Enquanto o alcance do problema é enorme – Damon diz que para resolvê-lo seria necessário US$ 1 trilhão, em uma estimativa conservadora -, White descobriu em sua pesquisa que o maior entrave é uma falha do mercado que ele acreditava que poderia ser consertada com práticas de negócios.

O especialista se recorda de ter encontrado, certa vez, uma mulher na Índia que estava pagando a um vendedor 20 rúpias por dia para comprar água para sua família e outras 20 rúpias diárias para usar o vaso sanitário, o que resultava em 1.200 rúpias (cerca de US$ 19) por mês. Pelo mesmo valor, seria possível prover acesso a água encanada e construir um vaso sanitário, dando à família da mulher acesso permanente a água limpa. Com certeza ela teria um gasto mensal com a conta de água, mas, segundo White, ele seria muito mais barato do que o investimento que vinha sendo feito anteriormente. Entretanto, sem acesso a um capital inicial – outra mulher que White conheceu estava arcando com uma taxa de juros de 125% por um empréstimo para construir um banheiro -, as pessoas com as piores condições financeiras ficam estagnadas, pagando valores acima do mercado pela água.

Damon e White decidiram enfrentar o problema por meio do microfinanciamento, emprestando dinheiro para pessoas de baixa renda em países subdesenvolvidos terem acesso permanente a água. Enquanto a maioria das empresa de água sem fins lucrativos se apoiam em um modelo de fornecimento (escolhendo onde e como construir uma fonte de água), a dupla preferiu seguir um modelo de demanda, no qual quem empresta pode ditar com o dinheiro será gasto.

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Nos oito anos em que existe, a Water.org ajudou oito milhões de pessoas a terem acesso a água limpa. Damon conta que a taxa de reembolso dos empréstimos passa de 99%. Para expandir o modelo criado, Damon e White aproveitaram a crescente tendência de investimento em impacto social, aumentando a captação de recursos para aumentar também o capital disponível para microempréstimos. O primeiro fundo de US$ 11 milhões já foi empregado na Índia e um segundo fundo de US$ 50 milhões está atualmente sendo levantado.

Para diminuir o risco para os investidores, os recursos da Water.org combinam doações e investimentos – com os dólares filantrópicos ocupando a cena em caso de perdas. Ao fazer parceria com instituições financeiras, os US$ 20 milhões que a organização já arrecadou até hoje se transformaram em, aproximadamente, US$ 500 milhões em empréstimos. “Se nós tivéssemos que levantar [os US$ 500 milhões] com ações de caridade, isso não aconteceria nem em um milhão de anos”, disse White. “Mas é possível levantar isso com capital.”

Damon e White disseram que o modelo de negócios criado por eles pode alcançar 500 milhões de pessoas e que planejam ajudar 60 milhões nos próximos oito anos. “Nós temos tanta sorte de viver este momento, de termos essa chance e a aproveitarmos”, disse o ator. “Eu não vou desistir do nosso planeta.”