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A empresa não pertence mais a Tallis – foi vendida em dezembro de 2015, por um valor não revelado. Mas, quem imaginava que aquele seria o momento certo para um período sabático, enganou-se. Um mês mais tarde, Tallis anunciou ao mercado a plataforma de beleza Singu, um marketplace que possibilita, aos profissionais de baixa renda do setor, triplicar o faturamento. Para os consumidores, a vantagem é que serviços de massagem, depilação, manicure e pedicure podem ser feitos em qualquer lugar: em suas residências, no local de trabalho, na casa de amigas etc. E por preços mais baixos dos que os praticados pelos principais players do mercado.
A entrevista com Tallis seria para falar sobre o UNDER 30, mas o empreendedor acabou abordando também as dificuldades de se empreender no Brasil e seu livro, que ensina a criar um negócio do zero em solo brasileiro. Veja, a seguir, os principais trechos da conversa:
FORBES BRASIL: Qual foi a sensação de ser UNDER 30?
Tallis Gomes: Na época, em 2014, eu confesso que não entendi a relevância de ser um UNDER 30, um reconhecimento muito valorizado no exterior, mas que por aqui seria a primeira edição. Achei legal estar em uma “lista FORBES”, mas sem entender a importância disso. Quando fui a uma palestra nas Universidades de Columbia e de Duke [ambas nos EUA], em 2015, coloquei o UNDER 30 na minha biografia e as pessoas vinham comentar: “Nossa, você é um UNDER 30 de FORBES”. A partir daí comecei a entender o que é o UNDER 30.
Senti-me, obviamente, lisonjeado, pois tinha 25 anos. Mas entendi a sua importância um ano depois.
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O que mudou depois da lista?
Esse prêmio do MIT já foi concedido a Mark Zuckerberg e aos fundadores do Google. Qual foi a sua reação ao recebê-los?
Foi um negócio surreal para a minha carreira, muito transformador. A reação das pessoas quando falei do prêmio do MIT foi muito parecida a de quando falei que era um UNDER 30. Além de massagear o ego – é claro! – esses prêmios ajudam muito quando você quer sentar com um decision-maker do mercado ou fechar algum tipo de parceria. Mas o que mais valorizo é a capacidade de atrair talentos que esses reconhecimentos proporcionam. O UNDER 30 é um grande selo para mim, eu o uso muito no dia a dia.
Significa um reconhecimento da sua capacidade de liderança, que para uma startup é fundamental?
Quando a Singu foi fundada e como você teve a ideia?
A Singu foi fundada logo depois da venda da Easy Taxi, em dezembro de 2015. A gente colocou no mercado, de fato, em janeiro de 2016. Cresceu de uma maneira que eu não esperava, por alguns motivos. O Brasil é o segundo maior consumidor de beleza do mundo: são movimentados, aproximadamente, R$ 100 bilhões por ano, dos quais 46% são gerados pelos serviços. O meu mercado, portanto, é de R$ 46 bilhões – três vezes maior do que o mercado de transporte – e ninguém havia olhado para ele antes. A única inovação nesse segmento nos últimos 50 anos foi servir champanhe para madame no salão. Ninguém tinha repensado esse modelo de negócio.
Eu já conhecia essa rotina porque minha mãe é cabeleireira. E achava muito injusto para a profissional, que recebe apenas 30% do valor do serviço enquanto os 70% restantes ficam com o salão por causa do investimento em infraestrutura, luz, aluguel. Resumindo, o negócio de salão de beleza é imóvel e a gestão de fluxo de caixa. Uma coisa é você ser o Wanderley Nunes [do Studio W] no shopping Iguatemi. Outra coisa é ser uma profissional no Capão Redondo [extrema zona sul de São Paulo]. Se a profissional sai da região central, perde a clientela, mesmo se for muito boa. Só para se ter uma ideia, nosso índice médio de qualidade é 4.7 pontos de um total de 5, ou seja, são profissionais excelentes que não têm condições de entrar em um salão de beleza. E se tem condições, está na fila.
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A Singu, na verdade, é uma plataforma de marketplace no setor de beleza?
Exatamente, é uma plataforma meritocrática de ascensão social. Tem a ver com esse poder de transformação que falei do MIT. A plataforma utiliza um algoritmo e inverte o modelo de negócio: 30% do preço fica com o Singu e os 70% restantes com as profissionais. Isso porque não há custos fixos, só o uso da tecnologia. O Singu tem um algoritmo que controla de forma muito eficiente a agenda dessas mulheres, com a ajuda de um robô. A consequência é que elas conseguem atender mais – em média, cinco vezes por dia. E se a profissional não está indo bem no atendimento, a plataforma a convoca para uma reciclagem com os melhores profissionais do mercado brasileiro, dando uma oportunidade de desenvolvimento. Por isso eu digo que é um mecanismo de ascensão social por meio da meritocracia. A Singu funciona todos os dias, das 7h às 22h, e atende dezenas de milhares de pessoas mensalmente. E cresce cerca de 30% ao mês.
Primeiro: nosso preço é imbatível. Nem salão de bairro consegue batê-lo – talvez, apenas, os salões de comunidades. A plataforma oferece, por exemplo, um pacote com quatro serviços – dois de pedicure e dois de manicure – por R$ 99,90 com padrão de salão de luxo. Também oferecemos massagem e depilação. São serviços de alta recorrência, que são fáceis de atender e são padronizados. Além disso, as mulheres estão mais dispostas a experimentar.
Como a consumidora marca um horário com a profissional?
Existe a modalidade que atende a consumidora em um prazo de até duas horas, com preço variável – que fica próximo ao preço de um salão -, mas com o diferencial de poder atender também onde a consumidora está. Nesse caso, utiliza-se um mecanismo de pricing parecido com o das companhias aéreas. Quanto maior é a sua flexibilidade e disponibilidade, mais barato tende a ficar. É uma mudança de paradigma no consumo do serviço: a cliente deixa de ir até o local de prestação do serviço e fica na fila até ser atendida.
Está presente nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, que basicamente correspondem a 25% do mercado brasileiro de beleza.
Você teve outras iniciativas depois de vender a Easy Taxi?
Tive algumas, mas a Singu é a minha atividade principal, a minha “next billion dollar company”. É um marketplace de beleza que tem uma margem grande, diferentemente do modelo de negócio tradicional desse mercado. E acabamos de levantar um funding de R$ 10 milhões, com um grupo de investidores financeiros e com duas famílias que dominam o mercado de beleza sul-americano. Mas não posso revelar os nomes.
Deixe o seu recado aos jovens que estão começando a empreender. O que se deve fazer para ser um UNDER 30?
Eles não devem focar no UNDER 30 porque isso significa que, provavelmente, elas não estão trabalhando. Coloquem a mão na massa, pois o reconhecimento chega quando vocês estiverem fazendo algo muito grande, que salta aos olhos do mercado. A maior dica que posso dar é foco na execução e não na busca de prêmios. Eles virão naturalmente.
Quais dicas você dá para ter foco no trabalho?
E como conciliar essa parte que você falou de “startup estar perto da UTI” com os conselhos de que “a startup pode errar”, que é um mantra disseminado no mundo empreendedor?
O empreendedor deveria errar. Mas há pouco conteúdo em português falando sobre empreendedorismo, por isso resolvi escrever o livro, que fala sobre empreender a partir da realidade brasileira. Poder errar é verdade nos EUA, onde a taxa de juros é de 1% ao ano, inflação perto de zero, custo de capital baixíssimo e muito fomento à inovação. Lá, os investidores precisam diversificar a sua carteira, caso contrário perdem dinheiro com inflação, por causa do baixo custo de capital. Contudo, o Brasil é o país da renda – o investidor opta por colocar o dinheiro em CDI e ter 14-15% ao ano de valorização, com um ganho real de 5% a 7% ao ano descontando a inflação. Ou seja, o investidor pensa 50 vezes antes de colocar dinheiro em uma startup no Brasil, pois há muito risco. Por aqui, não é preciso correr esse risco, estamos no paraíso dos juros. Isso dificulta, em muito, o investimento em inovação.
Por isso, eu não acho que é verdade que se pode administrar uma startups com a mentalidade de que se pode errar e ver o que acontece. Diria tranquilamente que 95% das startups não conseguem levantar investimento. Quando se consegue, é preciso valorizar muito esse capital, pois sua próxima rodada só vai acontecer se você conseguir demonstrar um resultado esplêndido. Você não tem tempo para errar!
Como empreender com um mínimo de erros?
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