Todos os anos, a Corporate Knights publica um relatório com a classificação das empresas mais sustentáveis do mundo. Este ano, a Dassault Systèmes ficou no topo da lista. A companhia, sediada na França, produz softwares de gerenciamento do ciclo de vida do produto (PLM), que fornecem às empresas aplicativos 3D capaz de transformarem a forma como as mercadorias são projetados, produzidas e mantidas.
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A Corporate Knights usa dados divulgados publicamente – registros financeiros, relatórios de sustentabilidade e informações relacionadas – para produzir o levantamento. Os principais fatores de análise são o uso de energia, carbono, resíduos e produção de ar limpo.
Também foram consideradas a remuneração dos líderes, os fornecedores com os quais as empresas trabalham, a situação dos fundos de pensão, classificações de segurança, rotatividade de funcionários, gastos com inovação, impostos pagos, diversidade na liderança e vínculo entre as metas de sustentabilidade e o salário dos executivos seniores. Este ano, a entidade adicionou uma nova categoria – um foco na proporção da receita de uma empresa que vem de serviços ou produtos ambientalmente benéficos. Sem essa alteração na pontuação, a Dassault não teria vencido.
Na verdade, todas as formas de softwares que tratam de supply chain suportam a sustentabilidade, com sistemas de gerenciamento de transporte e soluções de design da cadeia de suprimentos que são ainda mais ecológicos do que o gerenciamento do ciclo de vida do produto. As empresas que a Corporate Knight considera têm uma receita mínima de US$ 1 bilhão. A maioria das companhias do mesmo segmento da Dassault não atinge esse patamar.
Por outro lado, não existe uma lista das piores organizações no quesito sustentabilidade. Uma das razões sé que descobrir o quanto uma empresa é ruim exige, muitas vezes, que ela mesma prepare um relatório sobre seu desempenho sustentável – e é claro que as piores empresas não fazem isso.
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Mas o meu voto – completamente subjetivo – para a empresa menos sustentável do mundo vai para a Amazon. A logística produz grandes quantidades de gases de efeito estufa. O e-commerce é, em sua essência, menos ecológico do que as cadeias tradicionais de fornecimento de varejo de tijolos e argamassa, por exemplo, e contribui para maiores emissões de transporte do que o varejo tradicional. Isso porque, em vez de ter paletes de mercadorias entregues em grandes remessas para as lojas, pequenas parcelas são enviadas diretamente aos consumidores. E, muitas vezes, uma parte desse trajeto é pelo ar. As entregas feitas somente por caminhões são mais ecológicas do que as aéreas – o ar é o menos sustentável de todos os meios de transporte. E a Amazon fez mais para aumentar o comércio eletrônico do que qualquer outra empresa no mundo.
Pode-se argumentar, no entanto, que a Amazon não pode ser culpada por isso. São os consumidores que exigem gratificação instantânea e impulsionam o crescimento maciço da satisfação do atendimento e da entrega.
Além disso, considere empresas nas indústrias de carvão, petróleo e gás e química. Esses setores não produzem impactos negativos ainda maiores sobre o meio ambiente do que o transporte?
Nesse ponto, é importante ressaltar as intenções. A indústria química, por exemplo, assim como a do comércio eletrônico, produz bens que são necessários para empresas e consumidores globais. No entanto, ainda é possível fornecer essas mercadorias com um projeto de supply chain voltado para a diminuição dos impactos adversos no mundo. A BASF, maior companhia química do mundo, tem uma cadeia de suprimentos inteligentemente construída onde os subprodutos de uma operação são convertidos em materiais de partida de outra operação. Eles chamam isso de Verbund.
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Uma das principais empresas de análise produz uma lista anual das companhias com as melhores cadeias de suprimentos. A Amazon costumava ser listada como a número 1, mas agora sequer faz parte do ranking. Isso porque essa instituição de pesquisa adicionou uma categoria de desenvolvimento sustentável – e o negócio liderado por Jeff Bezos não produz um relatório de sustentabilidade.
A Amazon também recebeu críticas negativas sobre como os funcionários de seus depósitos são tratados e a disparidade de ganhos entre o CEO Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, e os exércitos de funcionários que trabalham em seus centros de atendimento eletrônico.
Em 2014, a Amazon finalmente nomeou um executivo responsável pela sustentabilidade. Com isso, vieram avanços nas áreas de redução do desperdício de embalagens e investimentos em parques eólicos. Porém, é no transporte que a gigante do e-commerce cria os maiores impactos negativos sobre o meio ambiente. E quase nada foi realizado neste aspecto. A Amazon comprou recentemente 20.000 vans para fazer entregas, todas movidas por motores de combustão interna – ou seja, não há um só veículo elétrico.
A sustentabilidade é definida de várias maneiras. Como profissional da cadeia de suprimentos, analiso isso por meio de uma lente. É satisfatório que uma empresa do segmento de software como a Dassault tenha sido considerada a melhor do mundo em desenvolvimento sustentável. Mas é imperdoável que a Amazon – companhia com a cadeia de suprimentos mais inovadora do mundo – coloque tão pouca ênfase no trabalho para mitigar as emissões de gases de efeito estufa em toda a logística.