Caminhei em direção ao elevador com o executivo de uma empresa que me contratara para conduzir um workshop de construção de equipe. Estou acostumado a ouvir questões e até críticas ocasionais ao meu trabalho e me orgulho da maneira como isso desafia os meus clientes, mas raramente consigo uma oportunidade como a que tive naquele dia. Ele estava com pressa, mas queria dizer que não acreditava no que eu fazia. O elevador era um lugar perfeito para a conversa. Ele apertou um botão para descer e tivemos alguns momentos a sós.
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“Não acredito que um gestor deva ser amigo dos funcionários”, ele me disse. “Não há lugar para a vida pessoal no ambiente profissional”.
Ele não é o único que pensa assim. Muitos CEOs se sentem desconfortáveis em trazer o particular para o local de trabalho. O executivo saltou do elevador e, antes que a porta se fechasse, me deixou uma mensagem final. “Não se pode demonstrar fraqueza.”
Ele está errado. Não há benefício para ninguém em um ambiente onde a liderança e os membros da equipe são forçados a reprimir a vida pessoal — a fingir que ela não existe.
A diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, que conhece melhor do que ninguém o benefício de dar espaço para o “pessoal” em um ambiente corporativo, escreveu em seu livro “Option B” (Opção B, em tradução direta): “Ao permanecer em silêncio, isolamos familiares, amigos e colegas de trabalho”.
A negatividade prospera em quietude. Forçar o silêncio, mesmo que de forma sutil, envia aos outros a mensagem de que a opinião de quem trabalha com você não importa. Todos temos, intimamente, uma autobiografia em construção. Esta é a nossa narrativa pessoal. A capacidade de expressar essa história nos proporciona a autodescoberta e, em alguns casos, pode ser a única oportunidade para entender questões e falhas inicialmente ignoradas ou encobertas.
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Um outro executivo da empresa, por sua vez, participou do treinamento e comprou a ideia. Ele compartilhou com o grupo a dificuldade que tem para dormir — um problema que raramente verbaliza e que, antes do nosso trabalho em conjunto, nunca teria considerado mencionar em ambiente profissional. No nosso tempo juntos, perguntei se havia outros assuntos que ele evitava compartilhar. Reprimir emoções e contornar problemas pode levar a repensar demais, ansiedade e insônia.
O executivo, então, respondeu com detalhes diante do grupo. Ele havia perdido um familiar próximo, ainda jovem, fazia pouco tempo. Nunca se permitiu viver este luto e encontrou dificuldade em expressar emoções positivas, como gratidão e estima pelas pessoas. Fazê-lo em um ambiente público o levou a perceber o cuidado e apreço que os colegas tinham por ele e a liberar outros a se expressar.
O cenário também propicia a criação de equipes incríveis, porque os colegas de trabalho estabelecem conexão com quem se abre. Eles se somam ao processo e assim uma comunidade se forma dentro do ambiente profissional — o que permite a outros se abrir sobre as suas lutas, obstáculos, desafios e triunfos. As empresas que têm uma aversão ao “pessoal” o fazem a um custo elevado, porque é nas nossas vulnerabilidades que damos aos outros a oportunidade de se conectarem conosco.
Não fiquei surpreso quando, alguns dias depois, recebi um feedback deste executivo, que dizia ter tido a melhor noite de sono da vida. Sem dúvida, um profissional bem descansado beneficia a empresa.
Existem centenas de milhares de pessoas que não se sentem valorizadas profissionalmente. Eles trabalham para CEOs que vivem em uma época passada, onde o medo é o grande motivador. Não seja esse líder. Se você o é, não se surpreenda quando descobrir que seus funcionários odeiam trabalhar com você.
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Ter fraqueza não é uma anomalia. Eu trabalhei com muitos que não sabiam se comunicar, mas, quando o faziam, apresentavam melhoras significativas. Instabilidade sem estrutura é o caos, mas vulnerabilidade com suporte é poder.