Porque uma semana mais curta não é uma boa ideia

27 de novembro de 2018
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Os defensores da proposta da semana de quatro dias enfatizaram vários benefícios, como redução do estresse, aumento da produtividade e funcionários mais engajados e antenados.

Em setembro, o Conselho Sindical do Reino Unido (TUC) pediu que a semana de trabalho tivesse apenas quatro dias. O relatório emitido pela entidade constatou que 81% de seus integrantes queriam uma redução de pelo menos um dia. Os defensores da proposta da semana de quatro dias enfatizaram vários benefícios, como redução do estresse, aumento da produtividade e funcionários mais engajados e antenados. No entanto, reduzir a semana de trabalho representa uma grande mudança na maneira como as empresas operam – e isso não é adequado para todas elas ou para todos os funcionários.

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A DEMANDA

Era esperado que o desenvolvimento tecnológico reduzisse o número de horas que as pessoas trabalham por semana. No entanto, o TUC relatou que, na verdade, a tecnologia levou a horas de trabalho imprevisíveis, mais intensivas e mais longas. O fato de estarmos sempre conectados também criou instâncias de presenteísmo digital, em que os funcionários se sentem obrigados a estar constantemente disponíveis para trabalhar. Com o estresse e as longas horas sendo as maiores preocupações dos trabalhadores, de acordo com o estudo, os pedidos por uma semana de trabalho reduzida estão ficando cada vez mais frequentes.

Além disso, a ausência dos funcionários em um dia pode representar um desafio para níveis consistentes de rendimento caso haja a expectativa, por parte dos clientes atendidos por eles, de que estejam disponíveis os cinco dias da semana. Enquanto muitos podem se sentir revigorados com um dia extra de folga semanal, as empresas podem estar sujeitas a quedas de produtividade após os picos dos dias que levaram a ela.

Um teste dos quatro dias conduzida na Nova Zelândia, na empresa Perpetual Guardian, na primavera de 2018, levantou questões sobre os benefícios da semana mais curta. Os funcionários experimentaram estresse adicional por terem que quebrar os processos para manter o ritmo de trabalho. Embora não tenha havido diminuição na qualidade do serviço, também não houve melhora. Além disso, alguns profissionais sentiram falta do aspecto social de sua semana de trabalho mais longa e até acharam mais difícil de se ocupar fora do escritório.

TECNOLOGIA E TRABALHO FLEXÍVEL

Como não há evidências de que uma semana de quatro dias tenha quaisquer benefícios diretos para os resultados financeiros das empresas, o motivo para usá-la depende, em grande parte, da melhoria do equilíbrio entre vida profissional e pessoal dos funcionários. No entanto, com a tecnologia permitindo maior flexibilidade para os trabalhadores, as empresas precisam considerar se uma semana dessas é a maneira mais eficiente para melhorar a vida dos funcionários ou se é hora de pensar em incentivar o home office.

Uma pesquisa da Smarter Working Initiative, uma iniciativa britânica para estimular as empresas a introduzirem trabalho flexível, descobriu que mais da metade (53%) dos profissionais britânicos alegam que seriam mais produtivos se pudessem dedicar tempo ao trabalho fora do escritório, enquanto 70% deles acreditam que a opção de trabalhar remotamente tornaria sua função mais atraente.

Essas estatísticas apontam para um afastamento da estrutura tradicional em direção a uma cultura de trabalho que se ajusta ao estilo de vida dos funcionários. Para atrair e reter os melhores talentos, as empresas precisam estar cientes de que os trabalhadores estão cada vez mais enfatizando o valor de um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Elas também precisam incentivar os funcionários a usar a tecnologia para trabalhar fora do escritório quando e como precisarem.

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Além de oferecer a possibilidade de melhorar a satisfação dos funcionários e reduzir o estresse, o trabalho flexível também pode contribuir para uma maior produtividade dos negócios. O Office for National Statistics descobriu que a produtividade geral do Reino Unido é 26% menor do que a da Alemanha, onde mais da metade dos funcionários tem acesso a trabalho flexível, em comparação com apenas um terço dos trabalhadores do Reino Unido. Sabe-se que o aumento desse tipo de trabalho contribui para melhorar os resultados financeiros e aumentar o PIB, indicando uma forte ligação entre o trabalho flexível e a melhoria da produtividade.

Por fim, as semanas de trabalho de quatro dias não devem ser necessárias. Com os avanços na tecnologia e acessibilidade levando a formas mais inteligentes de trabalhar, os funcionários devem ser capazes de selecionar a maneira que melhor se adapte a eles e ao seu estilo de vida. Seja em meio período ou trabalhando em horários flexíveis, as empresas devem buscar formas novas e inovadoras de operar, com o objetivo de aumentar a produtividade e melhorar a satisfação no trabalho e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional de seus funcionários.