Parlamentares britânicos derrotaram o acordo do Brexit negociado pela primeira-ministra, Theresa May, por esmagadora maioria, deflagrando a possibilidade de uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia ou até mesmo uma reversão da decisão tomada em 2016 de deixar o bloco. O Parlamento votou contra o acordo por 432 votos a 202, a pior derrota parlamentar de um governo na história recente do Reino Unido. Mais de 100 parlamentares do próprio Partido Conservador de May – tanto apoiadores do Brexit como defensores da permanência na UE – uniram forças para rejeitar o acordo. O líder do Partido Trabalhista, de oposição, Jeremy Corbyn, imediatamente convocou um voto de desconfiança contra o governo de May, a ser realizado dentro de 24 horas.
LEIA MAIS: Dólar sobe ante real em dia de votação do Brexit
Com o relógio contando até 29 de março, data estabelecida por lei para o Brexit, o Reino Unido agora está no meio de sua mais profunda crise política em meio século, no momento em que enfrenta como, ou até mesmo se, deixar o projeto europeu ao qual se uniu em 1973. “Está claro que a Casa não apoia esse acordo, mas a votação desta noite não nos diz nada sobre o que ela apoia”, disse May ao Parlamento, momentos após o resultado ser anunciado. “(Não diz) nada sobre como –ou mesmo se– a Casa tem a intenção de honrar a decisão tomada pelo povo britânico em um referendo realizado por decisão do Parlamento.”
O fracasso esmagador de May, a primeira derrota de um tratado no Parlamento britânico desde 1864, marca o colapso de sua estratégia de dois anos de forjar uma separação amigável e manter relações próximas com a UE após a saída marcada para 29 de março.
O porta-voz de May disse a jornalistas que o acordo da premiê pode ainda servir de base para um entendimento com a UE, mas seus oponentes discordam. “O acordo do Brexit está basicamente morto”, disse Anand Menon, professor de política europeia e relações exteriores da King’s College, em Londres.
Se há qualquer consolo para May, é que seus adversários internos pareceram dispostos a rejeitar a tentativa de derrubá-la. O pequeno Partido Unionista Democrático (DUP), da Irlanda do Norte, que garante seu governo de minoria e disse que iria se opor ao acordo, afirmou que ainda apoiará May no voto de desconfiança.
LEIA TAMBÉM: Brexit pode extinguir 750 mil empregos no Reino Unido
A UE disse que um acordo para o Brexit continua a ser o melhor e único caminho capaz de assegurar uma separação ordenada. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, disse que não haverá novas negociações para o acordo, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou que iria intensificar os preparativos para um Brexit sem acordo. “O risco de uma retirada desordenada do Reino Unido aumentou com a votação desta noite”, disse ele.
Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, sugeriu que o Reino Unido deve agora considerar reverter o Brexit. “Se um acordo é impossível, e ninguém que ficar sem acordo, então quem finalmente terá a coragem de dizer qual a única solução positiva?”, disse ele no Twitter.
A libra esterlina ficou quase um centavo mais cara em relação ao dólar, diante de expectativas de que a escala da derrota possa forçar os parlamentares a buscar outras opções.
May disse que ela irá conversar com os partidos de oposição para costurar um caminho a seguir. Por todo o espectro político britânico, porém, oponentes do acordo dizem que ele está morto. “Depois de dois anos de negociações fracassadas, a Câmara dos Comuns deu esse veredicto sobre o acordo dela para o Brexit, e tal veredicto é absolutamente decisivo”, disse Corbyn. “O princípio dela de governar com postergação e negação alcançou o fim da linha.”