Indústria de bebidas dá 1º passo em direção à maconha

23 de abril de 2019
Getty Images

As bebidas com cannabis não são as mais saborosas do mundo

Resumo:

  • Uma grande variedade de produtores está inserindo CBD e THC em todos os tipos de bebidas – chás, refrigerantes, sidras, margaritas e vinhos;
  • Um problema para grandes marcas é que a cannabis ainda é uma droga da Classe 1 em nível federal nos Estados Unidos, o que significa que ela é categorizada com heroína, metanfetamina e LSD, e considerada sem valor medicinal;
  • Fora isso, há também o sabor. As bebidas com cannabis não são as mais saborosas do mundo;

Algumas grandes empresas tomaram a iniciativa como uma chance de inovar. Assim como o CBD pode ser visto como uma chance de as empresas de maconha apresentarem seus produtos a um público mais amplo, essas empresas de bebidas alcoólicas enxergam a erva como uma forma de obter acesso aos consumidores tradicionais.

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Quando as pessoas pensam em maconha, a primeira coisa que vem à mente é fumar, vaporar ou comer – em algum alimento feito à base da erva. Até pouco tempo, a ideia de beber cannabis não era uma realidade para a maioria das pessoas.

Mas isso está começando a mudar. Neste verão, por exemplo, em São Francisco, na Califórnia, a Beverage Trade Network está promovendo sua primeira ‘Cannabis Drinks Expo para discutir bebidas à base da erva que, segundo a Zenith Global, devem chegar a faturar cerca de US$ 1,4 bilhão até 2023 – muito além dos US$ 89 milhões do ano passado.

Uma grande variedade de produtores está inserindo CBD e THC em todos os tipos de bebidas – chás, refrigerantes, sidras, margaritas e vinhos -, com uma gama de concentrações que vão de 2,5 miligramas de THC até doses de alta potência de 100 mg por recipiente. A fabricante de vinhos Rebel Coast Winery oferece uma versão não alcoólica da bebida com 5 mg de THC por copo. A MJ Wines, por sua vez, faz uso da erva em bebidas energéticas, café e vinho, e está trabalhando em uma cerveja IPA de cânhamo. Marcas como a Recess, que arrecadou US$ 3 milhões de investidores, estão vendendo águas cintilantes combinadas ao extrato da erva. A California Dreamin, empresa norte-americana de sucos, oferece aos clientes um leve sabor da cannabis em bebidas à base de frutas, com 10 mg de THC.

Uma coisa comum entre muitas marcas de bebidas é a forte posição na categoria de saúde e bem-estar. A maioria direciona seus produtos para pessoas que querem mais estímulo durante o dia ou que procuram uma melhor forma de dormir à noite. A Mood33, indústria de bebidas gaseificadas, promete fornecer “sua própria sessão de aromaterapia” em cada garrafa de suas águas feitas com 10 mg de THC e várias outras ervas, flores e frutas. A Heineken lançou uma bebida espumante à base maconha chamada Lagunitas Hi-Fi Hops, que diz ser “inspirada na IPA”. Nela, alguns dos componentes são lúpulo e THC, apesar da ausência de álcool, calorias ou carboidratos. Em janeiro, a empresa de bebidas orgânicas New Age Beverage introduziu o Marley + CBD Mellow Mood, anunciado como bebida relaxante que conta com 25 mg de CBD por unidade.

No outono norte-americano passado, até mesmo a Coca-Cola passou a conduzir negociações para uma linha de bebidas com infusão de CBD, mas a gigante de bebidas acabou decidindo não dar continuidade ao projeto por enquanto. Um problema para grandes marcas como a Coca-Cola é que a cannabis ainda é uma droga da Classe 1 em nível federal nos Estados Unidos, o que significa que ela é categorizada com heroína, metanfetamina e LSD, e considerada sem valor medicinal. Essa designação assustou algumas marcas. Isso também dificulta o crescimento das empresas, já que elas estão à mercê das regras e restrições individuais de cada estado norte-americano – e até mesmo de países – em relação à quantidade de THC e CBD. Rotulagem, engarrafamento e até regulamentos de concentração podem diferir de lugar para lugar, o que dificulta uma identidade da marca.

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Fora isso, há também o sabor. As bebidas com cannabis não são as mais saborosas do mundo. Na verdade, elas foram descritas como um paladar “estranho”. Infelizmente, o cheiro característico da erva não combina muito bem com suco de frutas – ou qualquer outro líquido à base de água. Isso porque nem o óleo THC, nem o óleo CBD são solúveis em água, gerando um aspecto esquisito. Essa é uma das razões pelas quais muitas bebidas à base de maconha contam com sabores intensos e fortes, como limão e gengibre, e outras apresentam altos índices de açúcar. Espera-se que as inovações nos isolados de CBD e THC, que são praticamente inodoros e sem sabor, ajudem as bebidas a darem grandes passos em relação ao sabor. Uma empresa canadense acredita já ter a solução, e está planejando fabricar cerveja diretamente de plantas de maconha em vez de adicioná-la ao produto já finalizado.

Também há esperança de que o projeto de lei agrícola de 2018, que legalizou o cânhamo industrial e seus extratos, permita que as bebidas com infusão de CBD ganhem força em todo o país, para que as marcas possam, em breve, conscientizar e fidelizar o público e os consumidores acerca da proibição da cannabis.

Enquanto isso, a indústria alcoólica ainda está decidindo se a cannabis é uma ameaça ou uma oportunidade de crescimento. Algumas grandes empresas, como a Heineken, tomaram a iniciativa como uma chance de inovar. A Constellation Brands, fabricante de vinhos, licores e cervejas, que inclui a Corona, investiu US$ 4 bilhões na empresa Cannabis Canopy Growth. Já a AB InBev, dona das cervejas Budweiser e Labatt, investiu US$ 50 milhões em uma parceria com a empresa canadense Tilray, que conferiu mais de US$ 50 milhões em pesquisas de bebidas não-alcoólicas que contêm THC e CBD.

Assim como o CBD pode ser visto como uma chance de as empresas de maconha apresentarem seus produtos a um público mais amplo, essas empresas de bebidas alcoólicas enxergam a erva como uma forma de obter acesso aos consumidores tradicionais. Os mais jovens estão exigindo sabores mais modernos, e muitos evitam o álcool, especialmente a cerveja. As bebidas com cannabis também são uma forma de atrair novos consumidores, que têm curiosidade acerca da erva, mas que não estão interessados em fumá-la ou comê-la. Beber é uma maneira fácil e discreta de experimentá-la.

Além disso, ainda existe muito dinheiro a ser ganho em bebidas com cannabis – uma vez que esses produtos não são baratos. Uma garrafa de 250 ml de limonada na marca Torrey Holistics Berry, com 100 mg de THC infundido, custa cerca de US$ 25 – com impostos, o valor vai além de US$ 31 por garrafa. Ao custo de apenas US$ 8, os 350 ml de bebidas da Mood33 parecem uma barganha. Mas os consumidores parecem estar dispostos a pagar caro nessas bebidas, com a condição de que elas os deixem cada vez mais chapados.

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